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Ibovespa tem 2º dia de alta, a 0,8%; real se recupera com política e pacote fiscal

O Ibovespa engrenou o segundo dia de recuperação após a perda de 1,50% na última sexta-feira, neutralizando assim o revés do fechamento da semana passada. Tendo avançado 1% ontem, o índice da B3 subiu nesta terça-feira 0,80%, aos 128.228,49 pontos, no maior nível de encerramento desde 26 de novembro, então perto dos 130 mil. Hoje, oscilou dos 127.212,63, mínima da abertura, até os 128.510,52 pontos, na máxima da sessão, com giro financeiro a R$ 19,1 bilhões.

Na semana, sobe 1,81% e, no mês, ganha 2,04%, reduzindo a perda do ano a 4,44%. Das últimas quatro sessões, o índice conseguiu avançar em três delas, sem se distanciar dos 127 mil pontos nos melhores momentos – à exceção de hoje, de volta aos 128 mil – e tocando a faixa dos 125 mil, no pior do intervalo, na sexta-feira.

Em dia de descompressão na curva de juros doméstica e, em alguma medida, também no câmbio – ainda a R$ 6,04, em baixa de 0,57% na sessão -, a alta do Ibovespa foi conduzida hoje por Petrobras (ON +0,86%, PN +0,37%) e pelas ações de grandes bancos, com destaque para Bradesco (ON +1,62%, PN +1,96%). A principal ação do índice, Vale ON, devolveu uma pequena parte do ganho superior a 5% visto ontem – em baixa de 0,10% no fechamento desta terça-feira. Na ponta vencedora do Ibovespa, destaque para Vamos (+12,08%), Carrefour (+7,67%) e Petz (+7,61%). No lado oposto, JBS (-3,91%), BRF (-3,28%) e Suzano (-3,06%).

Ponto alto da agenda de dados do dia, o IPCA de novembro a 0,39% ficou um pouco acima da expectativa, mas bem abaixo da variação de outubro, então a 0,56% – o que trouxe efeito benéfico para o câmbio e a curva do DI desde a manhã, com fechamento em todos os vértices à exceção do janeiro de 2025, observa Inácio Alves, analista da Melver. A mais recente leitura sobre a inflação oficial do País coloca o acumulado em 12 meses a 4,87%, como em outubro acima do teto da meta oficial, de 4,50%, destaca Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research.

Assim, a expectativa é de que o Comitê de Política Monetária (Copom) mantenha a rigidez e eleve em 0,75 ponto ou mesmo 1 ponto porcentual a Selic amanhã, o que colocaria a taxa de juros de referência a 12% ou 12,25% ao ano no fechamento de 2024. “Após a deterioração das expectativas de inflação no último Boletim Focus, e um IPCA ruim, a probabilidade de alta de 1,00 ponto porcentual aumentou”, diz Sung. Ele acrescenta que a depreciação do real e o mercado de trabalho aquecido – com efeitos para os preços de bens industriais e agrícolas, assim como para os de serviços – são fatores de pressão no cenário para a inflação.

No quadro mais amplo, os agentes de mercado seguem atentos aos desdobramentos em Brasília em torno da tramitação do pacote de cortes de gastos no Congresso. O secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Dario Durigan, afirmou hoje que podem ser feitos ajustes menores na proposta de alteração nas regras do Benefício de Prestação Continuada (BPC) para destravar a votação das medidas de ajuste fiscal, mas preservando o impacto do pacote.

“Ontem eu tive uma conversa com a bancada do PT em que ouvimos as preocupações quanto ao BPC, mas ao mesmo tempo ouvimos ali um bom consenso de que é o momento de fazer esses ajustes, de votar essas medidas. A preocupação é legítima”, disse a jornalistas, após almoço com a Frente Parlamentar do Empreendedorismo (FPE).

Durigan disse também que a equipe econômica tem feito uma atualização, para cima, na previsão geral de impacto do pacote de ajuste fiscal anunciado pelo governo, hoje estimado em R$ 70 bilhões entre 2025 e 2026. Ele observou que o governo deve enviar ainda este ano o projeto de lei da reforma da renda – texto elaborado pela Fazenda que, segundo afirmou, está pronto.

O secretário disse também que há uma previsão de que sejam publicados, ainda hoje, parecer e portaria com orientações para a execução das emendas parlamentares. Ontem, segundo ele, a equipe jurídica do governo passou o dia analisando a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) para repassar aos parlamentares e às áreas operacionais a interpretação sobre a liberação dos recursos.

“Depois da promessa, ontem, do presidente Lula a Lira e Pacheco do Senado sobre a liberação de emendas parlamentares da ordem de R$ 6 bilhões, o presidente da Câmara Arthur Lira indicou relatores para os textos do pacote, embora prazos sigam indefinidos. De qualquer forma, houve uma melhora de humor no mercado, um pouco mais de otimismo, o que contribuiu em especial para o câmbio e o fechamento da curva de juros na sessão, pela expectativa de celeridade com relação ao fiscal”, diz Rodrigo Moliterno, head de renda variável da Veedha Investimentos.

“Embora as negociações fiscais sigam complicadas, a sinalização de avanços pontuais com relação ao pacote pode estar reduzindo parte do pessimismo. E o andamento da sabatina dos indicados pelo governo ao Banco Central também chamou a atenção hoje. Durante a audiência, Nilton David aprovado para a diretoria de Política Monetária pelo Senado destacou a necessidade de medidas firmes para controlar a desancoragem das expectativas de inflação, algo que reforça a expectativa de uma postura mais rígida do Copom”, diz Lucas Almeida, sócio da AVG Capital.

Dólar

O dólar à vista encerrou a sessão desta terça-feira, 10, em queda moderada no mercado local, mas ainda acima da linha de R$ 6,00, na contramão do sinal predominante de alta da moeda americana no exterior. Entre as poucas divisas emergentes e de exportadores de commodities que se valorizaram hoje, destaque para o real e seu principal par, o peso mexicano.

Após o dólar fechar dois pregões seguidos no pico nominal histórico, operadores afirmam que havia espaço para um recuo da taxa de câmbio em caso de sinais mais positivos no campo fiscal. Parte expressiva da apreciação do real hoje foi atribuída a ajustes de prêmios de risco diante da possibilidade de que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não concorra à reeleição em 2026. A ausência de Lula aumentaria as chances de vitória de um nome à direita do espectro político na corrida ao Palácio do Planalto, em tese mais afinado com a agenda de redução de gastos públicos.

Lula passou por uma cirurgia de emergência na madrugada de ontem para hoje para drenagem de hemorragia intracraniana, no hospital Sírio-Libanês, em São Paulo. Segundo a equipe médica, a intervenção foi bem-sucedida, o presidente está bem e não terá sequelas. O presidente permanece em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) para observação.

Para o trader de renda fixa e moedas da Connex Capital, Gean Lima, a possível retirada de Lula da eleição de 2026 teve, de fato, reflexo na formação da taxa de câmbio hoje. “Em um cenário sem Lula, o PT ficaria enfraquecido. O principal nome seria Haddad, que é moderado, mas também está mais fraco com essa desconfiança no fiscal”, afirma Lima, em referência ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

Outro ponto citado como possível gatilho para a recuperação do real foi a sinalização, ontem à noite, do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), de que pode destravar a tramitação do pacote de ajuste fiscal. Ele se reuniu com líderes da Casa após conversa com Lula e disse esperar a confirmação de que o Executivo resolverá, de fato, a insatisfação do Parlamento em relação à execução das emendas parlamentares.

Com esse conjunto de informações, o dólar iniciou a sessão em forte baixa, com mínima a R$ 6,0185 nos primeiros minutos de negócios. A divisa reduziu gradualmente as perdas ainda pela manhã, movimento que se estendeu ao longo da tarde. No fim do dia, era negociada a R$ 6,0480, em queda de 0,57%, depois de ter fechado os dois pregões anteriores no pico nominal histórico.

À tarde, o secretário executivo do Ministério da Fazenda, Dario Durigan, afirmou que podem ser feitos ajustes menores nas regras do Benefício de Prestação Continuada (BPC) para destravar a votação das medidas de ajuste fiscal, mas preservando o impacto do pacote. Durigan relatou encontro com a bancada do PT, que mostrou preocupação com as alterações do BPC.

Após o fechamento do mercado de câmbio, o ministro da Advocacia-Geral da União (AGU), Jorge Messias, disse que o governo vai publicar até o final do dia um parecer para orientar a execução das emendas parlamentares a partir das novas regras determinadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

Para o economista-chefe da Equador Investimentos, Eduardo Velho, a manutenção do dólar acima de R$ 6,00 mostra que há ceticismo com a aprovação integral do pacote de corte de gastos apresentando pelo governo. Há receio de que parte das medidas seja apreciada apenas em 2025, após o recesso parlamentar.

Dada a “ausência de uma âncora fiscal”, Velho considera que o Comitê de Política Monetária (Copom) deveria promover um “choque na taxa de juros”, com alta de 1 ponto porcentual da taxa Selic amanhã, 11, e sinalização de juros elevados por bastante tempo.

“Isso poderia trazer algum alívio para o dólar, que está numa dinâmica muito ruim. A taxa já está se consolidando acima de R$ 6,00 e pode mudar de patamar para cima mais uma vez se não houver uma reação do BC”, afirma o economista da Equador.

No exterior, o índice DXY – termômetro do comportamento do dólar em relação a uma cesta de moedas fortes – subiu e orbitava os 106,400 pontos no fim da tarde, após máxima ao 106,637 pontos. As taxas dos Treasuries avançaram em bloco, com o retorno do papel de 2 anos voltando a superar 4,15%. Investidores aguardam a divulgação amanhã do índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) nos EUA em novembro para refinar as apostas para a decisão de política monetária do Federal Reserve na próxima semana.

Juros

Os juros futuros fecharam a terça-feira, 10, em forte queda, num movimento de correção em função da melhora na avaliação de risco fiscal de curto e de longo prazo, respectivamente, via sinalização da Câmara sobre o pacote de corte de gastos e percepção de que o cenário eleitoral estará mais aberto para 2026 caso Lula – que hoje passou por uma cirurgia craniana – esteja fora da disputa. O recuo das taxas se deu na contramão da abertura da curva americana e da leitura negativa do IPCA de novembro.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2026 fechou em 14,37%, de 14,55% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2027 caiu de 14,99% para 14,64% (mínima). O DI para janeiro de 2029 terminou com taxa de 14,23% (mínima), ante 14,70% ontem.

As taxas toda estiveram em baixa, mas a ponta longa se destacou em função da melhora na percepção de risco fiscal.

A economista-chefe da Mirae Asset, Marianna Costa, explica que a curva vinha muito esticada nas últimas duas sessões diante dos temores de que a votação das medidas fiscais ficasse para 2025, reforçados pela decisão do ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF), de rejeitar o pedido do governo sobre emendas parlamentares. “Mas a informação de que o governo vai permitir o pagamento de R$ 6,4 bilhões em emendas aumenta as chances de que alguma coisa passe no Congresso este ano, acalmando os ânimos”, disse. Com isso, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), sinalizou ontem que pode destravar a tramitação do pacote.

No fim do dia, as taxas voltaram a renovar mínimas, diante da confirmação do ministro da Advocacia-Geral da União (AGU), Jorge Messias, de que o governo dará início a um “amplo processo de liberação de emendas”.

Outro foco, que afeta mais o sentimento a longo prazo, foi o noticiário em torno da cirurgia do presidente Lula, que teve de ser operado às pressas nesta madrugada após uma hemorragia intracraniana derivada do tombo que sofreu em outubro. Segundo a equipe médica, o presidente responde bem à intervenção no pós-operatório e não terá sequelas.

De todo modo, o episódio, na leitura do mercado, coloca em xeque a possibilidade de Lula concorrer à reeleição em 2026, o que é visto com certo alívio do ponto de vista das contas públicas. Nas últimas semanas, tem sido alvo de pesadas críticas a decisão do governo de implantar a ampliação da faixa de isenção de Imposto de Renda para rendimentos acima de R$ 5 mil, vista como populista num momento que exige enxugamento de gastos, embora seja uma promessa de campanha de Lula.

“A reação do mercado se dá em cima da ideia de que o cenário político para 2026 ficaria mais aberto, reduzindo a probabilidade de reeleição e aumentando a chance de candidatos com uma postura fiscal mais rigorosa”, afirma Costa.

A despeito do recuo das taxas, o quadro das apostas para o Copom segue sem alteração. A curva continuava nesta tarde precificando quase que integralmente um aumento de 1 ponto porcentual na Selic nas reuniões de amanhã e janeiro, mas a projeção de taxa terminal voltava um pouco em relação a ontem, de 15,80% para 15,50%.

O IPCA de novembro ficou em segundo plano, mesmo com a taxa de 0,39% tendo superado a mediana das estimativas do mercado (0,36%). A taxa em 12 meses atingiu 4,87% e a leitura dos preços de abertura foi negativa.

Estadão Conteudo

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