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Ibovespa tem 1ª semana negativa desde fevereiro; dólar avança 0,77% na semana

Após ter fechado o dia anterior aos 133 mil pontos pela primeira vez no ano, e no maior nível desde o começo de outubro, o Ibovespa passou na sexta-feira, 28, por uma realização de lucros na ultima sessão da semana, e penúltima do mês, retrocedendo à casa dos 131 mil. Nesta sexta, oscilou dos 131.315,07 aos 133.143,44 pontos, na máxima correspondente ao nível de abertura. Ao fim, mostrava perda de 0,94%, aos 131.902,18 pontos, com giro a R$ 18,3 bilhões.

Na semana, recuou 0,33%, no que foi o seu primeiro agregado negativo desde o intervalo entre 24 e 28 de fevereiro. Em março, avança 7,41%, ainda a caminho de seu melhor desempenho desde novembro de 2023, quando tinha subido 12,54%. No ano, o ganho está em 9,66%.

“O Ibovespa teve um dia de queda mais forte, puxada pelo cenário lá fora, com a proximidade da implementação de tarifas nos Estados Unidos sobre importações de veículos, o que afeta as ações de montadoras europeias, japonesas e também as estabelecidas no Canadá. Já se fala em recessão no Canadá e em grande efeito sobre as exportações da Alemanha, para não falar da inflação nos Estados Unidos mesmo”, diz Felipe Papini, sócio da One Investimentos. “Trump continua a acender alerta nos mercados globais, no momento em que as economias já se encontram fragilizadas”, acrescenta.

Nesta sexta-feira, o primeiro-ministro do Canadá, Mark Carney, afirmou que ele e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, concordaram que as negociações sobre uma nova parceria econômica e de segurança devem começar após a eleição canadense, em 28 de abril. Depois da ligação “construtiva” com o republicano, o premiê disse que informou que o Canadá irá impor tarifas retaliatórias sobre produtos americanos, em resposta às sobretaxas que serão aplicadas a partir de 2 de abril.

Divulgado pela manhã, o índice PCE, uma da métricas preferidas do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) para monitorar os preços ao consumidor nos Estados Unidos, trouxe sinais mistos sobre a economia americana, com a inflação do núcleo surpreendendo para cima e reforçando incertezas sobre a trajetória da política monetária do Fed, observa em nota Dan Siluk, diretor global de curta duração e liquidez da Janus Henderson. “Os números gerais vieram em linha com as expectativas, enquanto os dados do núcleo mostraram um aumento leve, ficando um décimo acima do previsto tanto na comparação mensal quanto na anual. Essa tendência de que as surpresas continuem é enfatizada pelo fato de esta ser a segunda maior leitura do núcleo do PCE nos últimos 24 meses, evidenciando pressões inflacionárias persistentes”, acrescenta.

Na B3, a correção na última sessão da semana foi bem distribuída pelas ações de primeira linha, como Vale (ON -1,01%, na mínima da sessão no encerramento) e Petrobras (ON -0,99%, PN -0,64%).

Entre os grandes bancos, destaque para Itaú (PN -1,37%) e Bradesco (ON -0,60%, PN -1,38%). Na ponta perdedora do índice, Vamos (-9,32%), Pão de Açúcar (-4,90%) e Usiminas (-3,87%). No lado oposto, Cogna (+3,92%), Minerva (+2,31%), Hypera (+1,43%) e Marfrig (+1,29%).

Para Bruna Centeno, economista, sócia e advisor na Blue3 Investimentos, o exterior ditou o rumo da B3 na sessão, com o foco colocado nas tarifas dos Estados Unidos. “Trump tem dito que a ‘super quarta’, de 2 de abril, será o ‘dia da libertação’, com a imposição de um tarifaço global. Política comercial tem sido mais agressiva do que no início do governo Trump, penalizando em especial os ativos de risco em um cenário de incerteza elevada, com efeito também para os vencimentos na curva de juros”, diz Bruna, acrescentando também a queda da confiança do consumidor nos EUA e o aumento nas expectativas de inflação, divulgadas nesta sexta-feira.

No Brasil, o mercado reagiu com cautela à forte leitura de geração de empregos pelo Caged, divulgada à tarde, que indicou aquecimento do mercado de trabalho – o que pode dificultar um alívio nos juros no curto prazo, ressalta Christian Iarussi, sócio da The Hill Capital. Segundo ele, a taxa de desemprego divulgada pelo IBGE, em 6,8%, reforça o cenário de atividade aquecida, “pressionando ainda mais a curva de juros futuros e fortalecendo o dólar frente ao real”. A moeda americana fechou o dia em leve alta de 0,15%, a R$ 5,7618.

Também no noticiário doméstico, observa Bruna, da Blue3, destaque para a indicação, pelo governo, do ex-ministro da Fazenda Guido Mantega para o conselho fiscal da Eletrobras, o que contribuiu para o desempenho negativo das ações da empresa na sessão (ON -1,49%, PNB -1,31%).

O Termômetro Broadcast Bolsa desta sexta-feira mostra um mercado financeiro mais prudente nas estimativas para o desempenho do Ibovespa na próxima semana. As estimativas de alta para o desempenho do Ibovespa cederam expressivamente, passando de 57,14% na sexta-feira passada para 37,50% neste dia 28. A previsão de queda para o indicador, por sua vez, subiu de 28,57% para também 37,50%. Já as estimativas de estabilidade aumentaram de 14,29% para 25% agora.

Dólar

Após máxima a R$ 5,7820 no fim da manhã desta sexta-feira, 28, o dólar arrefeceu o ritmo de alta ao longo da tarde e, com mínima a R$ 5,7470, encerrou a sessão desta sexta-feira cotado a R$ 5,7618, avanço de 0,15%. A moeda norte-americana fecha a semana com valorização de 0,77% em relação ao real, mas ainda acumula queda de 2,61% em março.

O dia foi marcado por perdas de divisas emergentes, em especial latino-americanas, com investidores optando por reduzir o risco das carteiras às vésperas do anúncio das tarifas recíprocas do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, prometido para a próxima quarta-feira, dia 2 de abril.

Houve também aumento dos receios de uma desaceleração mais aguda da atividade nos EUA conjugada com inflação ainda acima da meta, após nova rodada de piora do sentimento do consumidor americano e das expectativas inflacionárias.

“O mercado já está antecipando o ambiente mais difícil da próxima semana, com o anúncio das tarifas recíprocas pelos EUA e vários países já prontos para retaliar”, afirma o economista-chefe do Integral Group, Daniel Miraglia. “Vemos um movimento de risk off mais forte hoje, com postura mais defensiva dos agentes, o que prejudica as divisas emergentes.”

A onda de aversão ao risco, refletida no mergulho das taxas dos Treasuries, atingiu com menos força o mercado cambial local. A perspectiva de continuidade do processo de aperto monetário e de manutenção da taxa Selic em nível elevado por período prolongado dá certa sustentação ao real, ao tornar custoso o carregamento de posições em dólar.

Esse quadro foi, de certa forma, reforçado pelos números do Caged de fevereiro divulgados às 14h30. Houve geração de 431.995 vagas de emprego, acima do teto de Projeções Broadcast, de 330 mil vagas. A mediana da pesquisa era de 225 mil.

Miraglia, do Integral Group, pondera que a questão técnica representada pelo custo de carregamento não deve ser suficiente, contudo, para impedir uma depreciação do real, caso haja uma piora da percepção de risco fiscal e político doméstico.

“O carrego ajuda mais quando o mercado está em uma trajetória positiva. Nos níveis atuais da taxa de câmbio é mais provável que o dólar suba em relação ao real até o fim do ano”, diz Miraglia, que vê a possibilidade de o governo lançar mão de medidas heterodoxas na tentativa de manter a economia aquecida.

No exterior, o índice DXY – termômetro do comportamento do dólar em relação a uma cesta de seis divisas fortes – rondava os 104,000 pontos no fim da tarde, em baixa de cerca de 0,30, após mínima aos 103,896 pontos. A taxa dos Treasuries de 10 anos recuou mais de 2%, furando 4,25% na mínima da sessão.

O índice de preços de gastos com consumo (PCE, na sigla em inglês) de fevereiro – medida de inflação preferida pelo Federal Reserve – veio praticamente em linha com as expectativas, mas o núcleo do indicador avançou mais do que o esperado.

Pesquisa da Universidade de Michigan mostrou alta das expectativas de inflação em 12 meses, de 4,3% para 5,0%, no maior nível desde 2022. O índice do sentimento do consumidor americano caiu de 64,7 em fevereiro para 57 em março, queda acima da expectativa (57,9).

“O cheiro de estagflação nos EUA está se intensificando, com componentes de bens e serviços da inflação do PCE mais aquecidos, enquanto os gastos foram mais fracos do que o esperado”, afirma, em um post em rede social, Mohamed El-Erian, presidente do Queen’s College e Conselheiro Econômico Chefe da Allianz, ressaltando que a confiança do consumidor americano está no nível mais baixo em mais de dois anos e as expectativas de inflação avançam.

Juros

As taxas dos contratos de Depósito Interfinanceiro (DI) devem terminar a semana em alta, após dados sobre o mercado de trabalho reforçarem que a economia brasileira ainda está aquecida, com pressão inflacionária suficientemente elevada para justificar mais aumentos na Selic nos próximos meses – e chances crescentes, nas contas dos investidores, de a taxa básica aumentar mais três vezes este ano, em vez de apenas duas – em maio e em junho.

Segundo Flávio Serrano, economista-chefe do Banco Bmg, a curva de juros passou a embutir 80% de probabilidade de uma terceira alta da taxa básica em julho, de 25 pontos-base. Na semana passada, essa hipótese era quase nula.

Dados publicados mais cedo mostraram que a taxa de desemprego no trimestre terminado em fevereiro foi de 6,8% – a menor para este período desde 2014, porém ligeiramente mais alta que a observada no trimestre até janeiro (6,5%). Além disso, no mês passado a economia brasileira criou 431.995 novos postos de trabalho formais, resultado que superou as previsões mais otimistas do mercado, que apontavam a criação de no máximo 330 mil vagas.

Carlos Lopes, economista do banco BV, afirmou que estes e outros indicadores publicados recentemente sugerem que o Brasil enfrentará pressões inflacionárias importantes – ainda que a leitura mais recente do IPCA-15, divulgada ontem, tenha ficado abaixo do previsto.

Lopes prevê que o Copom aumentará a Selic em 50 pontos-base em maio e em 25 pontos em junho, mas acredita na possibilidade de um terceiro aumento se a desaceleração econômica esperada pelo Banco Central não se concretizar. “No restante dos indicadores não há grandes motivos para o Banco Central parar. As expectativas de inflação estão piorando, as previsões do BC não indicam convergência da inflação à meta. A gente continua vendo crescimento da ocupação e alta expressiva da renda”, avaliou.

Nicolas Gass, sócio da GT Capital, espera uma alta de 50 pontos-base para a Selic em maio, e acha que há dois caminhos possíveis para as reuniões seguintes: um novo aumento de 50 pontos em junho, ou dois aumentos de 25 pontos, um em junho e outro em julho, a depender da abordagem que o Banco Central vai preferir adotar.

Ele espera que as taxas de DIs mantenham-se em níveis elevados nos próximos dias, e pontuou que, além das preocupações com o cenário fiscal do Brasil, há receios com a possibilidade de mais tarifas de importação serem adotadas pelos Estados Unidos e aumentarem a pressão inflacionária por lá, com efeitos sobre a curva de juros americanas e repercussão sobre os juros de outros países.

A taxa do contrato de DI para janeiro de 2026 subiu a 15,115%, de 15,030% no ajuste anterior. A taxa para janeiro de 2027 aumentou a 15,060%, de 14,904%, e a taxa para janeiro de 2029 avançou a 14,820%, de 14,727%.

Estadão Conteudo

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