No dia seguinte aos primeiros decretos do presidente Donald Trump nos Estados Unidos, a sessão foi de avanço para os índices de ações em Nova York e de recuo nos rendimentos dos Treasuries após os mercados americanos terem ficado fechados nesta segunda, 20, em observação ao feriado por Luther King. Aqui, o Ibovespa flutuou entre mínima de 122.289,95 e máxima de 123.461,68 na sessão, em que saiu de abertura aos 122.850,41 pontos. Ao fim, com ímpeto que o levou a 0,5% no melhor momento da tarde, o índice mostrava alta um pouco mais suave, de 0,39%, aos 123.338,34 pontos, com giro ainda fraco, a R$ 16,6 bilhões. Foi o terceiro ganho consecutivo para o Ibovespa, que avança 0,81% na semana e 2,54% no mês.
“Dia fraco de agenda econômica, mas gestos iniciais de Trump não indicaram, no momento, pressão adicional sobre a China, o que resulta em certa descompressão no câmbio, após o dólar ter sido fortalecido em antecipação à posse do novo presidente”, diz Charo Alves, especialista da Valor Investimentos. Segundo ele, cenário um pouco mais estável no exterior contribui para certa correção em relação a excessos vistos, especialmente no câmbio. Hoje, a moeda americana fechou em baixa de 0,19%, a R$ 6,0307.
À tarde, o Ibovespa lutou e conseguiu sustentar a linha dos 123 mil pontos em direção ao fechamento, no melhor nível do ano, mesmo na contramão de Vale (ON -0,50%) e sem apoio uníssono de Petrobras (ON -0,84%, PN +0,03%). Na ponta ganhadora, destaque nesta terça-feira para Usiminas (+5,36%), Brava (+4,26%) e Braskem (+3,57%). A marca de 123 mil pontos ainda não tinha sido vista em fechamento neste começo de 2025 em que o Ibovespa atingiu, hoje, o maior nível desde 17 de dezembro, então perto de 124,7 mil pontos. Na ponta perdedora, dois nomes do setor de proteína, BRF (-6,61%) e Marfrig (-4,04%), além de Raízen (-3,11%).
“Há uma perspectiva um pouco melhor para esse começo de Trump”, apesar dos acenos e sinais protecionistas, diz Rodrigo Alvarenga, sócio da One Investimentos. “Trump já é conhecido do primeiro mandato, e por vezes suas declarações não podem ser levadas muito ao pé da letra”, acrescenta.
“O mercado está digerindo as primeiras iniciativas do novo governo Trump, que foram mais brandas do que ele vinha apontando”, diz Rodrigo Moliterno, head de renda variável da Veedha Investimentos, destacando uma certa lateralidade dos ativos brasileiros na sessão, com leve melhora em comparação ao ânimo um pouco mais forte visto no exterior. “Houve um certo alívio, sem batida forte nas tarifas comerciais nesse primeiro momento – mas que ainda pode vir à frente”, ressalva Moliterno, chamando atenção para a fraqueza de giro mesmo após o feriado nos EUA.
Em relatório mensal junto a gestores de recursos com foco na América Latina, o Bank of America (BofA) aponta que a convicção quanto ao desempenho do Ibovespa em 2025 permanece baixa e que o dólar deve fechar o ano a R$ 6,10, com a possibilidade de juros elevados nos Estados Unidos como principal fator de risco para os ativos latino-americanos.
“O sentimento continua deprimido neste primeiro relatório de 2025. As expectativas para o Ibovespa em 2025 estão dispersas entre 110 mil e 140 mil pontos, o que implica um viés limitado para alta. Apenas 9% veem o Ibovespa acima de 140 mil pontos no fim de 2025, contra 17% na pesquisa de dezembro”, aponta o relatório de janeiro do BofA.
Dólar
Após subir pela manhã e ultrapassar a linha de R$ 6,05, o dólar trocou de sinal no início da tarde e encerrou a sessão desta terça-feira, 21, em leve queda, na casa de R$ 6,03. Com a agenda doméstica esvaziada, os negócios no mercado de câmbio foram guiados pelas repercussões dos primeiros atos de Donald Trump no início de seu segundo mandato presidencial.
O real, que ontem amargou avanço menor que o de pares, hoje recuperou terreno e se descolou do movimento negativo das divisas latino-americanas, em especial do peso mexicano, abalado pela menção de Trump a tarifas de 25% sobre importações do México a partir de 1º de fevereiro.
Segundo operadores, a moeda brasileira pode ter se beneficiado de fluxo externo e de ajustes técnicos, com agentes promovendo recomposição parcial de posições em ativos domésticos desmontadas no fim do ano passado. Dados da B3 mostram que investidores estrangeiros ingressaram com R$ 2,9 bilhões na bolsa doméstica no último dia 17, levando os aportes líquidos em janeiro a R$ R$ 3,621 bilhões.
Com máxima a R$ 6,0680, pela manhã, e mínima a R$ 6,0177 à tarde, o dólar à vista fechou a R$ 6,0307, em queda de 0,19%. Foi o segundo pregão consecutivo de baixa da divisa, que já acumula desvalorização de 2,42% em janeiro, após ter avançado 2,98% em dezembro e encerrado 2024 com ganhos de 27,34%.
O economista-chefe da Western Asset, Adauto Lima, observa que parece haver uma correção do movimento exagerado de ata do dólar no ano passado, motivado em grande parte por uma saída muito forte de recursos estrangeiros em meio a falta de credibilidade da política fiscal.
“Do lado doméstico, muito da preocupação com o fiscal já está refletida na taxa de câmbio. E do lado externo, houve alívio com o fato de Trump não ter sido mais agressivo nas tarifas neste primeiro momento”, afirma Lima.
O economista ressalta que ainda não estão claros os motivos que levaram o Banco Central a intervir ontem no mercado de câmbio com leilões de linha com compromisso de recompra no valor de US$ 2 bilhões. “Não dá para saber se identificaram alguma necessidade de liquidez ou se é uma nova postura. Vamos ter que esperar uma explicação ou outras atuações para entender”.
Termômetro do comportamento do dólar em relação a uma cesta de seis moedas fortes, o índice DXY recuou e chegou a furar o piso dos 108,000 pontos nas mínimas da sessão à tarde. As taxas dos Treasuries caíram, com destaque para a baixa de mais de 1% dos yields de 10 e 30 anos.
O economista-chefe do Banco Master, Paulo Gala, observa que a ausência de medidas mais agressivas neste início de governo Trump, sobretudo em relação à China tarifaço, foi uma “surpresa positiva” para os mercados.
“Por ora, o efeito disso é de alívio do DXY, que caiu para 108,000 pontos, e das taxas dos Treasuries. O peso mexicano e o dólar canadense estão sofrendo hoje, mas o real está se comportamento relativamente bem”, afirma Gala.
Para Lima, da Western, passado o alívio inicial, pode haver aumento da volatilidade à medida que Trump anuncie novas medidas, em especial no campo comercial. A agenda de Trump pode levar a uma postura mais cautelosa por parte do Federal Reserve na condução da política monetária, o que resultaria em dólar globalmente forte.
“Por aqui, o mercado vai ficar atento ao debate sobre o Orçamento a partir do mês que vem. Depois, vem a discussão de como vai ser a compensação para isenção de Imposto de Renda para quem recebe até R$ 5 mil”, diz o economista.
Juros
As taxas dos contratos de Depósito Interfinanceiro (DI) terminaram o pregão perto da estabilidade, mas com viés de alta nos vértices intermediários e longos, após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, indicar que o aumento das tarifas prometido em campanha terá como alvo inicial dois dos principais parceiros comerciais do país: Canadá e México.
Num dia sem indicadores ou eventos econômicos relevantes, a fala concentrou as atenções dos investidores e serviu para justificar os movimentos do dia, mas sem alterar o cenário já embutido nas taxas.
Os negócios hoje, segundo Santiago Schmitt, especialista em renda fixa da Manchester Investimentos, foram mais amenos e dominados por operações feitas em intervalos curtos. “Quando tem juros caindo para faixa dos 14%, muita gente realiza e volta a ficar tomado, e a taxa retorna para acima de 15%.”
“Muito do movimento recente da curva de juros se deve aos próximos passos que a gente vai ter nos Estados Unidos”, disse Guilherme Almeida, head de renda fixa da Suno Research, acrescentando que as propostas de Trump são em grande parte “de cunho protecionista e têm impacto inflacionário”.
Por enquanto, a sinalização de Trump sobre as tarifas ao México e ao Canadá não alterou significativamente o que os investidores vinham esperando em relação ao governo do novo presidente dos Estados Unidos.
As taxas dos Treasuries, que voltaram a ser negociadas após um feriado ontem, rodaram abaixo dos níveis vistos na sexta-feira, ainda refletindo a avaliação de que o presidente dos Estados Unidos foi menos agressivo do que se esperava em seus primeiros anúncios sobre a tarifação.
Por aqui, as taxas já haviam recuado levemente ontem pelo mesmo motivo, e hoje devolveram um pouco da queda, mas sem alterar o que havia sido precificado pelos investidores e o cenário previsto para as próximas reuniões do Comitê de Política Monetária, o Copom.
Gean Lima, estrategista e trader de juros e moedas da Connex Capital, mencionou que a previsão para a próxima reunião do colegiado, na semana que vem, ainda é de aumento de 1 ponto porcentual para a Selic, como havia sido sinalizado pelo Copom no final do ano passado. A questão das tarifas nos Estados Unidos, porém, permanecerá no radar daqui em diante.
A taxa do contrato de DI para janeiro de 2026 caiu a 14,925%, de 14,943% no ajuste anterior. A taxa para janeiro de 2027 aumentou a 15,155%, de 15,142%, e a taxa para janeiro de 2029 avançou a 15,020%, de 14,995%.