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Ibovespa sobe 0,85%, aos 125,6 mil, mas cede 3,12% no mês e 2,68% na semana

Mesmo com dólar ainda pressionado a R$ 6, o Ibovespa encontrou alívio e sinal positivo na última sessão de novembro, mês em que acumulou perda de 3,12%. Foi o terceiro mês seguido de desempenho negativo para o índice da B3, que havia cedido 1,60% em outubro e 3,08% em setembro, após ter renovado máxima histórica em agosto, então aos 137 mil pontos e com ganho de 6,54% naquele intervalo.

Agora aos 125.667,83 pontos, o Ibovespa subiu hoje 0,85%, tendo tocado na mínima do dia os 123.946,16 pontos – na máxima, perto do fechamento, chegou a 126.055,96, em alta pouco acima de 1%. Reforçado, o giro atingiu R$ 33,9 bilhões nesta última sessão do mês, em nível raro fora de datas de vencimento de opções sobre o índice.

Assim como no mês, o desempenho da Bolsa na semana foi negativo, em baixa de 2,68%, após avanço de 1,04% na anterior – por sinal, a única das últimas seis semanas em que o Ibovespa conseguiu subir, em período que retrocede a 21 de outubro. A perda acumulada em novembro foi o pior desempenho para o índice da B3 desde janeiro, quando havia cedido 4,79%. No ano, cai 6,35%.

O ajuste acumulado no dólar frente ao real, e do Ibovespa desde a máxima histórica de agosto, resultou em forte mudança na precificação da referência da B3. No fechamento de agosto, com o dólar então na casa de R$ 5,63, o Ibovespa, na moeda americana, marcava 24.135,58, refletindo a queda de 0,36% acumulada pela referência monetária no mês e avanço de mais de 6% para o índice da Bolsa brasileira naquele período. Antes, no fim de julho, o índice, em dólar, estava em 22.572,06, um pouco acima do nível do mês anterior, e ainda muito descontado.

Agora, em direção ao último mês do ano, o Ibovespa retrocede a 20.940,45 pontos – em nível baixo, mas não comparável ao do auge da aversão a risco durante a pandemia, em março de 2020, quando marcava 14.051,44 pontos.

Fatores externos – como a redução dos juros americanos em ritmo que tende a se manter gradual – e internos, especialmente as incertezas fiscais, mantiveram o apetite estrangeiro na defensiva nos últimos meses, após a transitória melhora dos fluxos observada em julho e agosto. Dessa forma, o Ibovespa havia chegado ao fim de outubro a 22.437,48 pontos, mês em que a moeda americana acumulou alta de 6,13%. Em novembro, o dólar avançou 3,81% sobre patamar que já era elevado: no fechamento da última sessão de outubro, a moeda americana mostrava R$ 5,7811.

Neste fim de novembro, chega à marca inédita de fechamento de R$ 6,0012 (+0,20% na sessão), tendo sido negociado à vista, no pico do dia, ao nível recorde de R$ 6,1155. “Para piorar, o cenário externo também pesa, com a força do dólar global e a queda de preços de commodities, como minério de ferro, pressionando ainda mais o real”, diz Christian Iarussi, sócio da The Hill Capital.

“O cenário deve ser ainda desafiador em termos de fluxo para o Ibovespa apesar de os níveis dos múltiplos, em termos de média histórica, serem atrativos”, diz Pedro Marcatto, operador de renda variável da B.Side Investimentos, destacando que a saída de capital estrangeiro da Bolsa chega a R$ 32,37 bilhões, no ano, considerando os dados disponíveis até a quarta-feira, 27.

“Muita volatilidade ainda movida pelos ruídos políticos, após a comunicação falha sobre o pacote, que causou desconforto ao mercado. Todas as propostas passam ainda pelo Congresso, o que trouxe algum conforto hoje com as falas de Pacheco (Senado) e de Lira (Câmara), de compromisso com o fiscal”, diz Felipe Moura, analista da Finacap. “Macro tem mandado em tudo, o que resulta em depreciação adicional nos preços dos ativos. Há uma resposta defensiva nas carteiras, com redução da exposição a risco e vendas técnicas”, acrescenta.

Em dia de almoço de autoridades econômicas – como o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o próximo presidente do BC, Gabriel Galípolo – com banqueiros na sede da Febraban em São Paulo, o esforço foi no sentido de mostrar que, à medida que as medidas de ajuste forem melhor assimiladas pelo mercado, e aprovadas pelo Congresso, o mal-estar tende a passar.

Haddad disse hoje que o projeto da isenção de Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil não será votado se não for neutro do ponto de vista fiscal. A neutralidade faria parte do acordo firmado com o Congresso, segundo o ministro, que reiterou que não abrirá mão desta premissa. Haddad disse também que o pacote de ajuste anunciado na quarta-feira não representa o “gran finale” do esforço do governo em reequilibrar as contas públicas – e que, se necessário, a equipe econômica apresentará outras medidas de contenção de gastos.

Antes do almoço em São Paulo, comentários feitos pelos presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), haviam contribuído para apaziguar, em parte, a desconfiança que tem prevalecido no mercado desde a quarta-feira. Enquanto Lira reiterou compromisso com o ajuste das contas públicas, Pacheco afirmou, em nota, que a isenção do IR “não é pauta para agora” – e a condicionou à confirmação de espaço fiscal para haver desoneração tributária.

“Foi um dia ainda volátil no câmbio como também na Bolsa e na curva do DI, mas essas falas trouxeram um certo alívio ao mercado”, diz Bruna Centeno, sócia e advisor da Blue3 Investimentos, mencionando também as referências a que o pacote a ser votado pelo Congresso venha a ser “aprimorado” durante a tramitação. Assim, a Bolsa encontrou hoje um nível de “acomodação” após a “derrocada” do dia anterior, observa Wagner Varejão, especialista da Valor Investimentos. “A impressão inicial sobre o pacote foi muito ruim, falta ainda clareza de como se chegará à economia pretendida e também sobre as medidas compensatórias”, caso a isenção do IR para renda até 5 mil por mês siga adiante, acrescenta o analista.

Na B3, entre as ações de maior peso e liquidez, a recuperação parcial nesta sexta-feira foi puxada por Vale ON, em alta de 2,17% na sessão e de 1,03% na semana – no mês, contudo, a principal ação do Ibovespa acumulou perda de 5,29%. Petrobras ON e PN também foram bem hoje, com ganho de 2,08% na ON e de 0,80% na PN, na sessão – no mês, marcaram alta na casa de 8% a 9%. Entre os grandes bancos, apenas BB ON e Santander Unit subiram nesta sexta-feira: +1,18% e +0,12%, pela ordem. No mês, as perdas entre as grandes instituições financeiras chegaram a 12,57% (Bradesco ON).

Na ponta ganhadora do Ibovespa nesta sexta-feira, destaque para Minerva (+7,54%), Cosan (+5,38%) e Ultrapar (+4,97%). No lado oposto, Carrefour (-4,90%), Localiza (-3,64%) e LWSA (-3,36%).

O mercado financeiro está mais cauteloso com relação ao comportamento do Ibovespa no curtíssimo prazo, mostra o Termômetro Broadcast Bolsa desta sexta-feira. Entre os participantes, a parcela que espera ganhos para o índice na próxima semana ficou em 33,33%, de 62,50% na pesquisa passada. É a primeira vez que a projeção de alta deixa de ser majoritária desde a semana de 21 de outubro. Por outro lado, a fatia dos que acreditam em estabilidade cresceu, de 25% para 50%, assim como a de quem estima queda, de 12,50% para 16,67%.

Dólar

O dólar emendou nesta sexta-feira, 29, o quarto pregão consecutivo de alta no mercado local e fechou acima de R$ 6,00 pela primeira vez na história. Além do desconforto com as medidas fiscais do governo, que se traduziram em aumento do prêmio de risco, houve impacto de fatores técnicos, como a rolagem de contratos futuros e disputa pela formação da última taxa ptax do mês.

A escalada do dólar começou já na abertura do mercado, na contramão do enfraquecimento da moeda americana no exterior. A divisa superou o nível dos R$ 6,00 ainda nos primeiros minutos de negociação e, em pouco mais de uma hora de pregão, furou o teto de R$ 6,10, registrando máxima a R$ 6,1155.

A febre compradora amainou no início da tarde com sinais vindos de Brasília de compromisso com o controle das contas públicas. O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), disse que toda medida de corte de gastos contará com “todo esforço, celeridade e boa vontade da Casa”, mas ponderou que iniciativas do governo que representem renúncia de receita serão apreciadas apenas em 2025 – uma referência à proposta de isenção de Imposto de Renda para quem recebe até R$ 5 mil por mês.

Em seguida, foi a vez de o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), pôr o time em campo. Em nota, Pacheco afirmou que a isenção de IR “não é pauta para agora e só poderá acontecer se (e somente se) tivermos condições para isso”. Se essas condições não estiveram presentes, “não vai acontecer”, alertou Pacheco.

“O mercado interpretou essas mensagens como um movimento em direção à responsabilidade fiscal, ajudando a amenizar a tensão provocada pelos anúncios de ontem”, afirma o head de câmbio da B&T Câmbio, Diego Costa.

No embalo das palavras de Pacheco, o real ensaiou uma recuperação. O dólar trocou de sinal e operou por período reduzido em terreno negativo, com mínima a R$ 5,9579. A moeda americana voltou a subir em seguida e, embora com fôlego bem menor do que o observado pela manhã e nos pregões anteriores, fechou em alta de 0,20%, cotada a R$ 6,0012. A divisa acumulou valorização de 3,21% na semana e de 3,81% em novembro, após ter subido 6,31% em outubro.

O economista-chefe do Banco Master, Paulo Gala, afirma que o estresse no mercado financeiro nos últimos dias, com disparada dos juros futuros e do dólar, poderia ter sido evitado se o governo não tivesse adiado sucessivamente o anúncio do pacote, que foi prometido inicialmente para logo após as eleições municipais.

“Além de o pacote ter sido mais tímido, ainda veio o anúncio da isenção do IR, que provavelmente nem vai acontecer. Tem toda uma discussão no Congresso para 2025, eventualmente entraria em vigor em 2026, mas acho que não tem chance de passar”, afirma Gala, em comentário. “Mas o fato é que passou uma sinalização para o mercado que o governo não está tão preocupado em controlar gastos.”

Em almoço de fim de ano na Febraban, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tentou também aplacar os ânimos ao dizer que o projeto do IR será votado apenas se for neutro do ponto de vista fiscal e que o pacote anunciado não “é o gran finale” nem “bala de prata”. À plateia de banqueiros, o ministro disse que pode voltar a discutir a evolução do Benefício de Prestação Continuada (BPC) e da Previdência.

Para o economista André Galhardo, consultor da Remessa Online, a reação do mercado ao pacote de gastos “foi desproporcional”. Ele acredita que a volatilidade pode diminuir conforme as medidas anunciadas pelo governo sejam assimiladas.

“Em algum momento devemos observar um ajuste. A cotação deve ceder ou pelo menos voltar a ser menos volátil. Contudo, imaginar uma recuperação sólida da moeda brasileira ao longo dos próximos meses é um desafio”, afirma Galhardo, lembrando que há fatores externos, como o retorno de Donald Trump à Casa Branca, que devem limitar o fôlego do real.

Ao avaliar a possibilidade de o Banco Central intervir no mercado de câmbio, o economista-chefe do Banco Pine, Cristiano Oliveira, afirma que o retorno da cotação do dólar para níveis “desejados” entre R$ 5,70 e R$ 5,80, que prevaleciam antes da novela do anúncio do pacote de corte de gastos, virá apenas com a adoção de medidas mais amplas.

“A intervenção no câmbio isoladamente não teria o impacto desejado. Teria mais efeito um combo, com venda de dólares, aumento significativo da taxa Selic e um complemento do ajuste fiscal com medidas mais robustas”, afirma Oliveira.

Juros

Os juros futuros subiram nesta sexta-feira, 29, mas fecharam bem longe das máximas da manhã. A sinalização do Congresso, principalmente vinda do Senado, de que a discussão do aumento da faixa de isenção do imposto de renda não será feita agora, aliviou a pressão da curva. Houve alguma resiliência da ponta curta em reposta ao recado do Banco Central, de compromisso firme em colocar a inflação perto da meta de 3%, mas contrabalançada pela reação positiva à indicação do governo do nome de Nilton David, do Bradesco, para a diretoria de Política Monetária, no fim da tarde.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2026 encerrou em 13,89%, de 13,84% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2027 subiu de 13,94% para 14,04%. O DI para janeiro de 2029 fechou com taxa de 13,80%, de 13,77%. As taxas acumularam prêmios na semana, cerca de 60 pontos com relação à última sexta-feira. Em novembro, porém, saltaram em torno de 80 pontos nos juros longos e 100 nos curtos, resultando em perda de inclinação para a curva.

O mercado amanheceu dando sequência ao mau humor de ontem, com as taxas em escalada e fincando pé na casa dos 14% ao longo de toda a curva, ainda sob o impacto do anúncio do pacote fiscal e do aumento da faixa de isenção de IR.

Diante do ceticismo nas ações do Executivo, o mercado viu uma boia de salvação nas sinalizações dos presidentes da Câmara, Arthur Lira, e do Senado, Rodrigo Pacheco, em defesa do ajuste fiscal, no começo da tarde. Pacheco, em nota, disse que o Congresso apoia as medidas de corte de gastos e que a ampliação da isenção do IR não é pauta para agora e dependerá de condições fiscais para se concretizar. Na rede X, Lira afirmou que “toda medida de corte de gastos que se faça necessária para o ajuste das contas públicas contará com todo esforço, celeridade e boa vontade da Casa”.

O governo protocolou na Câmara, nesta tarde, o projeto de lei que limita o crescimento real do salário mínimo, mudanças nas regras de concessão do Benefício de Prestação Continuada (BPC), a obrigatoriedade de cadastro biométrico para concessão, manutenção e renovação de benefícios de seguridade social. Já a proposta sobre mudanças no IR será feita apenas no ano que vem.

As taxas desaceleraram a alta e chegaram a virar pontualmente para baixo no começo da tarde. “O Congresso é que realmente pode reverter essa situação que o Executivo criou”, afirmou Danilo Igliori, economista-chefe da Nomad. “O Congresso deve fazer a parte dele no sentido de ratificar tudo que, de fato, corta gastos.”

Assim, para o economista, “basicamente o Executivo passou o problema para o Congresso, e, principalmente, para a autoridade monetária”. Isso explica a manutenção da pressão nos vencimentos curtos, que são mais sensíveis às apostas para a política monetária de curto prazo.

O diretor de Política Monetária e futuro presidente do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, reiterou hoje a disposição do Copom em perseguir a meta de 3%. Disse que terá liberdade de ação quando assumir, em janeiro, o comando da autarquia e que não se preocupa se receber críticas do governo que o indicou ao cargo.

Igliori, da Nomad, lembra que em duas semanas haverá a última reunião do Copom do ano. “Qualquer sinal, qualquer vírgula fora do lugar no comunicado pode trazer de volta um assunto que tinha saído do radar do mercado, que é a possibilidade da nova composição do Copom ser tolerante com a inflação acima da meta”, diz. Para ele, o Copom terá de acelerar o ritmo de alta da Selic para 75 pontos em decisão unânime e apresentar “um comunicado bem assertivo”, o que poderia trazer os preços dos ativos a um patamar pré-anúncio do pacote.

As apostas de um Copom ainda mais “hawkish” continuaram avançando na curva dos DIs. Para a reunião de dezembro, a precificação subiu de 82 ontem para 88 pontos-base e a de Selic terminal, ontem em 14,75%, está bem perto de 15%, a 14,95%.

Há pouco, saíram as indicações do presidente Lula para as diretorias do Banco Central que ficarão vagas em janeiro. Foram bem recebidas pelo mercado, ajudando a arrefecer a alta dos vencimentos mais curtos. Nilton David, chefe de operações da tesouraria do Bradesco, foi indicado para diretoria de Política Monetária, no lugar de Galípolo, que vai presidir a autarquia a partir de 2025.

O chefe do departamento de regulação do sistema financeiro do BC, Gilneu Vivan, foi escolhido para a diretoria de Regulação, em substituição a Otávio Damaso. A secretária da Controladoria-Geral da União (CGU) Izabela Correa vai para a diretoria de Relacionamento, Cidadania e Supervisão de Conduta, hoje ocupada por Carolina Barros.

Estadão Conteudo

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