Mix diário

Ibovespa sobe 0,76%; real se aprecia com commodities enquanto Trump não confirma ‘tarifaço’

Assim como as bolsas de Nova York, o Ibovespa iniciou a semana em alta de 0,76%, aos 125.571,81 pontos, reduzindo as perdas do mês a 0,45% na B3. Nesta segunda-feira, 10, oscilou dos 124.619,40, mínima correspondente ao nível de abertura, até os 126.386,31 pontos. O giro financeiro ficou em R$ 17,3 bilhões na sessão. Em NY, os ganhos desta segunda-feira ficaram entre 0,38% (Dow Jones) e 0,98% (Nasdaq).

As ações da Gerdau (PN +5,21%) foram destaque de alta nesta segunda-feira, com o mercado precificando benefícios para a empresa em um cenário de guerra comercial no setor de aço e alumínio, devido à companhia ter operações nos Estados Unidos. Entre os bancos, BTG (-1,77%), que divulgou números do quarto trimestre, também tinha desempenho positivo mais cedo, assim como os papéis de empresas ligadas ao ciclo doméstico, as chamadas cíclicas, que em geral avançaram na sessão, em meio ao bom humor do mercado diante da queda dos juros futuros na sessão. O dólar à vista também cedeu terreno em baixa de 0,13%, a R$ 5,7860.

Em meio à expectativa de tarifas de 25% para as compras de aço e alumínio, conforme o presidente dos EUA, Donald Trump, disse que anunciará na terça ou quarta-feira, Gerdau Metalúrgica PN foi outro destaque da sessão, em alta de 4,81% no fechamento. Na ponta ganhadora na sessão, Automob (+16,00%), Cogna (+5,92%) e Vamos (+5,42%), além das duas ações de Gerdau. No lado oposto, Azul (-3,17%), Embraer (-2,13%) e BTG. Entre as blue chips, destaque para Vale (ON +1,04%, na máxima do dia no fechamento) e Petrobras (ON +0,83%, PN +0,68%).

Ontem, Trump anunciou que vai impor tarifas de 25% sobre alumínio e aço importados, afetando diversos países, incluindo o Brasil. No entanto, o principal alvo do governo do republicano é a China. De janeiro a dezembro do ano passado, o Brasil foi o segundo país que mais exportou aço para os Estados Unidos, segundo relatório divulgado no dia 27 de janeiro pelo American Iron and Steel Institute (Instituto Americano de Ferro e Aço). Foram enviadas 4,49 milhões de toneladas líquidas, o que representou um avanço de 14,1% em relação a 2023, quando foram exportados 3,94 milhões de toneladas líquidas.

“Há muitas incógnitas no ar e, novamente, teve um certo exagero na sexta-feira, tanto na desvalorização do real como na queda da Bolsa, e nessa segunda-feira veio correção, com um certo tom mais positivo para quem quer tomar risco”, diz Alison Correia, analista e co-fundador da Dom Investimentos.

“Desde a abertura, mercado esteve melhor, em alta de 1% já na abertura. Gerdau, em particular, foi muito bem na sessão, na medida em que a produção da empresa nos Estados Unidos, com grande exposição de receitas produzidas dentro daquele país, sem ser alcançada assim pelas tarifações”, aponta Rodrigo Moliterno, head de renda variável da Veedha Investimentos.

Dólar

Apesar do sinal predominante de alta da moeda americana no exterior, o real experimentou um leve movimento de apreciação nesta segunda-feira, 10, embalado pelo apetite de estrangeiros por ativos domésticos, em dia de avanço de preços de commodities como petróleo e minério de ferro.

Segundo operadores, o anúncio ontem do presidente Donald Trump de imposição de tarifas de 25% sobre aço e alumínio a partir de hoje e de tarifas recíprocas ainda nesta semana não trouxe grande aversão ao risco. Investidores ainda esperam a decisão oficial e especulam sobre possível recuo tático de Trump, como ocorreu nos casos de México e Canadá.

Pela manhã, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, indagado sobre eventual resposta do governo brasileiro sobre a taxação de 25% sobre importações de aço e alumínio pelos EUA, disse que a decisão é só se manifestar “oportunamente”, com base em intenções concretas. O Brasil figura no grupo dos três maiores exportadores de aço aos EUA, ao lado de México e Canadá. À tarde, o vice-presidente Geraldo Alckmin reforçou que acredita no diálogo, ressaltando que, em episódios anteriores de taxação, houve estabelecimento de cotas.

Com o avanço da moeda americana no exterior, o dólar até abriu em alta por aqui e chegou a superar o nível de R$ 5,80 na primeira hora de negócios, com máxima a R$ 5,8246, mas arrefeceu longo em seguida e registrou a mínima da sessão ainda pela manhã, a R$ 5,7648. Após rondar a casa de 5,78 ao longo da tarde, o dólar fechou a R$ 5,7860, em queda de 0,13%, passando a acumula desvalorização de 0,87% em fevereiro e de 6,38% em 2025.

Operadores notam que a liquidez foi reduzida, o que sugere ausência de mudanças relevantes de posições. Principal termômetro do apetite por negócios, o contrato de dólar futuro para março teve volume fraco, abaixo de US$ 10 bilhões.

O economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi, vê a apreciação do real como fruto de entrada de recursos estrangeiros, com a alta das commodities e a atratividade das operações de carry trade. Ele cita a possibilidade de investidores virem ao Brasil como forma indireta de aproveitar a melhora de expectativas para a China.

“Bancos de investimento dizem que é muito difícil investir na China. A bolsa lá apresenta um rali muito grande. Comprar ativos de países com exposição à economia chinesa seria uma alternativa. E o Brasil com suas blue chips se encaixa nessa definição”, afirma Borsoi.

Operadores também veem a possibilidade de certo recuo de prêmios de risco que haviam sido embutidos na taxa de câmbio no fim do pregão da última sexta-feira, 7, após a ventilação de possível reajuste do Bolsa Família em razão da alta de alimentos, na esteira da entrevista ministro do Desenvolvimento e Assistência Social, Wellington Dias, em entrevista ao portal Deutsche Welle. A proposta foi desmentida em nota pela Casa Civil no início da noite de sexta-feira, mas após o fechamento do mercado de câmbio. Fontes da equipe econômica já haviam dito que se tratava apenas de ruído.

“Houve um estresse na sexta-feira com a notícia de que poderia haver aumento do Bolsa Família, que depois foi desmentido pelo ministério da Fazenda. O dólar até se valorizou um pouco na tarde de sexta, mas hoje já está em queda”, afirma o economista-chefe do Banco Master, Paulo Gala, para quem a perspectiva de mais aumento da taxa Selic ampara o real. “Com um diferencial de juros alto, há uma pressão forte para a apreciação da taxa de câmbio, podendo levar o dólar para a casa dos R$ 5,50. O carrego está muito alto, tornando o real atrativo para investidores estrangeiros”.

Amanhã sai o IPCA de janeiro, que deve mostrar variação de 0,16%, segundo mediana de Projeções Broadcast, após alta de 0,52% em dezembro. Analistas ouvidos pelo Broadcast afirmam que boa parte da desaceleração do índice será explicada pela entrada do bônus de Itaipu na tarifa de energia elétrica. O Boletim Focus desta segunda-feira trouxe nova piora das projeções de inflação e perspectiva de taxa Selic em 15% no fim deste ano.

No exterior, o índice DXY – que mede o desempenho do dólar em relação a uma cesta de seis divisas fortes – operou em leve alta e rondava os 108,300 pontos no fim da tarde, após máxima aos 108,440 pontos. A moeda americana subiu na comparação com a maioria das divisas emergentes e de países exportadores de commodities, com exceções como o real, o peso chileno e o dólar australiano.

Investidores aguardam a divulgação nesta semana da inflação ao consumidor e ao produtor nos EUA para calibrar as apostas em torno dos próximos passos do Federal Reserve. Por ora, o BC americano diz que a política monetária está “bem posicionada” e vai acompanhar os indicadores para avaliar os impactos das medidas de Trump sobre atividade e inflação. O presidente do Fed, Jerome Powell, fala no Congresso americano amanhã, 11, e na quarta-feira, 12.

Juros

Os juros futuros fecharam a segunda-feira em baixa até os vencimentos intermediários. A queda do dólar e a curva dos Treasuries relativamente bem comportada deram espaço para o mercado descontar parte dos prêmios acumulados na última semana, apesar do possível anúncio do presidente dos EUA, Donald Trump, de taxação nas importações de aço e da piora das expectativas de inflação no Boletim Focus. A ponta longa teve variações mais contidas, oscilando entre a estabilidade e leve alta.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2026 encerrou a 14,97%, de 15,04% na sexta-feira, e a do DI para janeiro de 2027 caiu de 15,21% para 15,16%. O DI para janeiro de 2029 terminou a sessão com taxa de 14,88%, ante 14,87% no último ajuste.

A afirmação de Trump, ontem, de que anunciaria nesta segunda-feira a imposição de taxa de 25% a importadores de aço e alumínio trouxe algum estresse no começo dos negócios, pressionando para cima o dólar, com a curva de juros a reboque. Trump prometeu ainda anunciar nos próximos dias tarifas recíprocas aos países que “tiram vantagem” dos americanos”.

Ao longo da sessão, porém, a alta da taxas foi se diluindo, por uma segunda leitura, segundo a qual o presidente americano estaria usando a retórica mais como uma ferramenta para negociações. Os governos do Brasil e do México demonstraram estar de prontidão, mas avisaram que só vão se posicionar caso a ameaça se concretize. Até o fechamento deste texto, a medida não havia sido oficializada. A sinalização de Trump também pouco assustou a curva dos Treasuries.

O dólar virou para baixo ainda pela manhã, em meio aos ganhos das commodities, abrindo caminho para uma correção em baixa no mercado de juros. A moeda é vista como elemento-chave nas expectativas de inflação. “O câmbio é uma preocupação para vários tipos de preços, especialmente alimentação, e um alívio é bem vindo, ainda que não dê para comemorar muito porque o cenário pode mudar rapidamente e a cotação voltar a R$ 6”, afirma o estrategista-chefe da EPS Investimentos, Luciano Rostagno. No fechamento, a moeda americana estava em R$ 5,7860.

Rostagno considera, contudo, que a margem para grandes oscilações dos DIs curtos é restrita. “A ponta curta fica engessada, dado que o Copom já avisou que vai elevar a Selic em 100 pontos na próxima reunião. E segue a dúvida sobre até o onde o ciclo vai. O BC evitar dar maiores pistas, até em função das incertezas do cenário, como a questão das tarifas de Trump”, diz. Nesta tarde, a curva precificava 106 pontos de alta para a Selic no Copom de março e 60 pontos na reunião de maio. A projeção para o fim do ano era de taxa básica a 15,72%.

Além do exterior conturbado pelo risco Trump, o alívio de prêmios a ponta longa é limitado pelo quadro fiscal periclitante no Brasil, também permeado por ruídos, como a informação da Deutsche Welle de um possível reajuste no valor do Bolsa Família, negada pela Casa Civil. “Tal medida significaria mais pressão sobre o endividamento público, dificultando ainda mais a tarefa do Banco Central em trazer a inflação para a meta. Soma-se a isso a demora para a tramitação do pacote de ajuste fiscal proposto pelo Governo Federal, que ainda não tem perspectivas de aprovação no Congresso”, afirma Danilo Igliori, economista-chefe da Nomad, em nota.

O Boletim Focus trouxe hoje nova rodada de deterioração das medianas de inflação. A expectativa suavizada para 12 meses subiu de 5,74% para 5,87% e a de 2025, de 5,51% para 5,58%. Para 2026, avançou de 4,28% para 4,30%. A meta de inflação contínua é de 3%, admitindo 1,5 ponto porcentual para cima ou para baixo. Não houve alteração nas projeções de Selic para o fim de 2025 (15,00%) e fim de 2026 (12,50%).

Estadão Conteudo

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