O Ibovespa encadeou um segundo dia positivo, amparado nesta terça, 14, pela muito descontada Vale ON, um dos carros-chefes do índice, que teve avanço limitado à tarde a 0,66%, a R$ 51,85 no fechamento. A sessão também foi favorável às ações do setor financeiro, com destaque para Bradesco – em alta de 2,13% na ON e de 1,87% na PN, em dia no qual o banco levantou US$ 750 milhões em títulos de 5 anos no exterior, com forte demanda que reduziu o custo de captação, reporta o jornalista Altamiro Silva Junior, do Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado). Petrobras, por sua vez, terminou sem direção única (ON +0,42%, PN -0,67%), o que definiu o grau de ajuste do Ibovespa, em sessão negativa para os preços do petróleo em Londres e Nova York.
Nesse cabo de guerra entre ações de primeira linha, o Ibovespa fechou como ontem acima da estabilidade, hoje em alta de 0,25%, aos 119.298,67 pontos, entre mínima de 118.222,64 e máxima de 119.451,01 na sessão, em que saiu de abertura aos 119.006,60. O giro ficou em R$ 19,2 bilhões. Na semana, o índice da B3 avança 0,37%, ainda cedendo 0,82% na primeira quinzena do mês. Na ponta vencedora, destaque para Petz (+4,88%), Marcopolo (+4,12%) e Iguatemi (+3,60%), com Eneva (-2,80%), CSN (-2,47%) e Marfrig (-2,31%) no canto oposto, no encerramento.
“Dois fatores contribuíram para o desempenho do Ibovespa na sessão: primeiro, a notícia de que a equipe econômica de Trump não pretende implementar um aumento abrupto nas tarifas de importação assim que o novo governo assumir, mas sim adotar um modelo gradual, mês a mês. E os novos dados de empréstimos na China surpreenderam positivamente, indicando uma economia mais forte do que o esperado em dezembro”, aponta em nota Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos.
“O Ibovespa teve oscilação um pouco maior hoje, puxado por Vale, em alta na ação que superava 1% mais cedo. Divulgada pela manhã, a inflação no atacado dos Estados Unidos, um pouco abaixo do esperado, contribui para a expectativa de que o Federal Reserve mantenha os cortes de juros, o que fez o dólar recuar. No cenário doméstico, permanece a espera por novidades em relação ao fiscal, uma pauta seguida de perto pelo mercado desde outubro, e que continua no radar em 2025”, diz Rubens Cittadin, operador de renda variável da Manchester Investimentos.
Além dos Estados Unidos, “a China também trouxe dados econômicos mais favoráveis, especialmente os relativos a novos empréstimos, que superaram as expectativas e favoreceram em parte o avanço de preço do minério de ferro, a US$ 100 por tonelada em Cingapura, com efeito para a ação da Vale, que dava a maior contribuição de alta ao Ibovespa na sessão”, diz Lucas Serra, analista da Toro Investimentos. Em Cingapura, o ganho do minério foi de 1,88% e, em Dalian (China), de 2,22%, com a tonelada a US$ 106,79 por tonelada nesta terça-feira, no contrato mais negociado.
“Amanhã, além do índice de preços ao consumidor nos Estados Unidos, que pode trazer volatilidade, serão divulgados os balanços trimestrais de importantes instituições financeiras, como BlackRock, Citi, Goldman Sachs, JPMorgan e Wells Fargo”, acrescenta o analista da Toro.
“A Bolsa continua lateralizada no Brasil, com apreensão ainda perante as questões fiscais domésticas, e com os investidores muito atentos, também, aos Estados Unidos. Hoje, o minério ajudou a Vale, e o setor de bancos esboça melhora. O início da temporada de balanços nos Estados Unidos, pelos bancos americanos, pode contribuir, com expectativa positiva para esses números. O fechamento da curva de juros, por aqui, também é um fator que ajuda”, diz Rodrigo Moliterno, head de renda variável da Veedha Investimentos.
Dólar
O dólar encerrou a sessão desta terça-feira, 14, em queda firme no mercado doméstico, alinhado ao comportamento da moeda americana no exterior. Informações de que a nova administração Donald Trump pode optar por imposição gradual de tarifas de importação, aliadas à leitura benigna da inflação ao produtor nos EUA, deram fôlego a divisas emergentes.
O real apresentou hoje o melhor desempenho entre as principais moedas globais, seguido pelo seu principal par, o peso mexicano. Operadores afirmam que o dólar passa por uma acomodação no mercado local, com investidores promovendo realinhamento de posições neste início de ano, após o forte estresse que marcou dezembro.
Com mínima a R$ 6,0410, na última hora de negócios, o dólar terminou o dia em queda de 0,85%, cotado a R$ 6,0464. Com o escorregão de hoje, a moeda passa a acumular em janeiro queda de 2,16% em relação ao real, após ter avançado 2,98% em dezembro e encerrado 2024 com ganhos de 27,34%.
Termômetro do comportamento do dólar em relação a uma cesta de seis divisas fortes, o índice DXY recuava mais de 0,60% no fim da tarde, com mínima aos 109,204 pontos. A moeda americana ganhou terreno, porém, em relação ao iene e a libra, que segue negociada nos menores níveis desde novembro, apesar dos esforços do Reino Único para demonstrar comprometimento fiscal.
Entre commodities, os preços do petróleo recuaram com as notícias de avanços do acordo de cessar-fogo entre Israel e o grupo palestino Hamas. Já as cotações do minério de ferro voltaram a subir, apoiadas por perspectivas de mais medidas de estímulo na China, que promete ações também para estabilizar o yuan. Em dezembro, os bancos chineses liberaram 990 bilhões de yuans (US$ 135 bilhões) em novos empréstimos, um salto em relação aos 580 bilhões de yuans repassados em novembro
“O dólar segue em queda global, refletindo dados de inflação mais brandos e a sinalização de gradualismo de Trump na aplicação de tarifas, o que diminui a aversão ao risco, dando suporte para moedas de países emergentes”, afirma o economista André Galhardo, consultor econômico da plataforma de transferência internacional Remessa Online.
Integrantes da equipe econômica do presidente eleito dos EUA discutem a possibilidade de promover aumento gradual de tarifas como forma de fortalecer a posição dos EUA nas negociações como outros países e evitar um repique da inflação, segundo informações da Bloomberg.
Do lado dos indicadores, o índice de preços ao produtor (PPI, na sigla em inglês) dos Estados Unidos subiu 0,2% em dezembro e 3,3% em 2024, abaixo das expectativas dos analistas. O núcleo do índice – que exclui itens voláteis – permaneceu estável em dezembro, aquém do esperado (0,2%).
“Os componentes que afetam o PCE foram razoavelmente moderados. Isso favorece um PCE abaixo do previsto”, afirmou, em relatório, o diretor de estratégia para renda fixa do Schwab Center for Financial Research, em referência ao indicador de inflação preferido do Federal Reserve, que será publicado em 31 de janeiro.
Investidores aguardam a divulgação, amanhã, do índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) nos EUA para refinar as apostas para os próximos passos do Fed. Ferramenta de monitoramento do CME Grupo mostra que o cenário mais provável é de uma redução adicional de 25 pontos-base na taxa básica americana neste ano, com cerca de 40% de probabilidade.
Analistas ouvidos pelo Projeções Broadcast estimam que o CPI subiu 0,3% em dezembro na comparação com novembro, de acordo com a mediana de 25 projeções coletadas. Na taxa anual, a previsão mediana é de alta de 2,9% no período. Esses números representariam repetição da variação mensal de novembro e aceleração na comparação anual.
“O CPI americano pode validar a expectativa de inflação mais branda. Se vier abaixo do esperado, há grande chance de consolidação dessa queda do dólar. Se vier acima, o mercado tende a reagir com estresse de curto prazo”, afirma Galhardo, da Remessa Online.
Juros
Os juros futuros recuaram, conduzidos pelo exterior e pelo recuo do dólar e, no fim da sessão, renovaram mínimas com a Pesquisa Mensal de Serviços (PMS) que sai amanhã no radar. A inflação no atacado nos EUA, levemente abaixo do esperado, e notícias mais animadoras relacionadas à China favoreceram ativos de economias emergentes como um todo. O alívio nos prêmios de risco se deu num ambiente ainda de liquidez reduzida, e será testado nesta quarta-feira pela divulgação da inflação ao consumidor norte-americano.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2026 caiu de 14,95% para 14,86% (mínima) e o DI para janeiro de 2027 cedeu a 15,14%, de 15,28%. A taxa do DI para janeiro de 2029 fechou a 15,06%, de 15,29%.
O aumento do apetite ao risco a partir do exterior reduziu a inclinação da curva, com os contratos mais longos cedendo em maior grau. “O PPI nos EUA foi o que deu a direção, tanto o índice cheio quanto em outros recortes. Tivemos ainda o bom desempenho dos novos empréstimos na China, o que ajuda a trazer otimismo aos emergentes, atraindo fluxo, mas o CPI amanhã é que terá maior peso”, afirmou o sócio e estrategista-chefe da EPS Investimentos, Luciano Rostagno.
O índice de preços ao produtor (CPI, na sigla em inglês) teve alta de 0,2% em dezembro ante novembro, e de 3,3% na comparação interanual, contra medianas de 0,3% e 3,4%, respectivamente, levando a uma pausa no movimento de redução das apostas em corte de juros pelo Federal Reserve.
Da China, o mercado comemorou o forte resultado da concessão de empréstimos em dezembro, que subiram em nível acima do esperado pelos mercados no final de 2024, à medida que Pequim flexibilizou a política monetária. Além disso, segundo a Bloomberg, a equipe econômica do presidente eleito dos EUA, Donald Trump, estaria discutindo a possibilidade de promover um aumento gradual das tarifas a importações, o que suavizaria impactos inflacionários.
Na seara geopolítica, Israel e Hamas teriam acertado um acordo preliminar de cessar-fogo em Gaza, o que reduz tensões na região. Se o entendimento evoluir para o fim do conflito, haveria um impacto adicional de baixa nos preços do petróleo, que hoje recuaram.
A todo esse cenário, houve resposta positiva do câmbio, com o dólar fechando a sessão abaixo de R$ 6,05, o que suaviza as preocupações com o repasse a preços, servindo também de indutor para o fechamento da curva.
Apesar da queda vista ontem e hoje – e em boa parte das sessões em janeiro -, a maioria das taxas seguem rodando na casa de 15%, encontrando resistência para furar esse nível em função do risco fiscal.
Rostagno afirma que nos últimos dias têm crescido a expectativa de adoção de medidas complementares ao pacote de corte de gastos lançado em 2024. “As notícias são de que o ministro Fernando Haddad teria conversado com o presidente Lula sobre a necessidade de mais medidas para acalmar o mercado, e ele teria concordado”, diz. “Dá esperança de que o governo pode mudar o rumo da política fiscal.”
Haddad disse hoje que o governo ainda aguarda a aprovação do Orçamento de 2025 para uma definição sobre a ampliação da faixa de isenção do Imposto de Renda da Pessoa Física (IRPF), para garantir que esta faixa atenderá as pessoas que recebem dois salários mínimos. Segundo o ministro, a Fazenda ainda divulgará dados sobre o impacto dessa alteração, mas haverá indicação de medidas de compensação para garantir a mudança sem desequilibrar as contas públicas. “Não tem nada que vai ser feito sem compensação”, garantiu.
Na reta final da sessão, as taxas tiveram alívio extra, renovando mínimas. “Há percepção de que a atividade vai embicar”, afirmou um trader, apontando sinais emitidos por dados antecedentes. Além disso, lembra o profissional, o mercado estaria se preparando para a PMS, amanhã. A mediana das estimativas coletadas pelo Projeções Broadcast aponta queda de 0,5% no volume de serviços em novembro.
Com as taxas recuando desde ontem, a Selic terminal precificada na curva do DI voltou a rodar abaixo de 16%, apontando 15,79% no fim da tarde.