Na contramão de Nova York, onde as perdas nesta primeira sessão da semana chegaram a 3,07% (Nasdaq), o Ibovespa interrompeu série de três sessões em baixa e avançou ao maior nível de fechamento desde 12 de dezembro, de volta aos 124 mil pontos. Hoje, o índice da B3 oscilou dos 122.206,78 aos 124.861,50 pontos: uma variação de 2.654 pontos do piso ao teto, que correspondeu ao nível de fechamento, em alta de 1,97%, agora perto dos 125 mil. O giro foi a R$ 23,0 bilhões na sessão. Em janeiro, o Ibovespa sustenta ganho de 3,81%, a caminho do primeiro desempenho positivo desde agosto – e também do melhor janeiro desde 2022, quando subiu 6,98%.
Apenas três dos 87 papéis que compõem o Ibovespa fecharam o dia em baixa: WEG (-7,88%), Embraer (-2,97%) e RD Saúde (-0,38%). Na ponta ganhadora, Magazine Luiza (+10,05%), Minerva (+9,91%) e Assai (+7,64%). Entre as ações e os setores de maior peso no índice, destaque para o financeiro, com Banco do Brasil (ON +4,09%, máxima do dia no fechamento) à frente de Itaú PN, que marcou ganho de 2,40%, e de Bradesco, em alta de 2,69% (ON) e de 2,48% (PN, no pico do dia no encerramento). Vale ON subiu 1,75% e Petrobras avançou 1,11% (ON) e 1,47% (PN), mesmo com perdas em torno de 2% para o petróleo na sessão.
Com o Ibovespa “impulsionado pela queda dos juros futuros, os investidores têm mantido o foco em ações domésticas, especialmente em setores sensíveis à taxa de juros, como o varejo”, diz Patrick Buss, operador de renda variável da Manchester Investimentos. No lado oposto do índice nesta segunda-feira, destaque para WEG que, segundo Buss, refletiu hoje o noticiário corporativo.
“Há avanço da concorrência chinesa no setor de tecnologia: a startup DeepSeek anunciou uma IA muito avançada, que está sendo desenvolvida com menor custo e sem a necessidade de chips de alta performance, o que traz preocupação quanto a uma possível redução na demanda por equipamentos de infraestrutura essencial à tecnologia, segmento em que a WEG também atua na área elétrica”, diz.
Em Nova York, a mesma notícia, de que uma concorrente chinesa teria “bolado” um processo de inteligência artificial para bater de frente com o chatGPT, resultou em forte correção no mercado de ações local, em especial as do setor de tecnologia, que “despencaram” hoje, enfatiza o analista Alison Correia, sócio-fundador da Dom Investimentos. “É um ponto de correção para os ativos por lá. A gente observa, principalmente de oito meses para cá, recordes de alta para Dow Jones, S&P 500, Nasdaq, índices que andavam extremamente positivos”, acrescenta.
Para Bruna Centeno, economista e advisor da Blue3 Investimentos, a concorrência chinesa no estratégico setor de inteligência artificial também foi o tema do dia, desviando um pouco a atenção dos primeiros movimentos do governo Trump, em especial em relação à política tarifária, que haviam dominado a atenção dos mercados na semana passada. O ajuste de hoje, principalmente nas ações do setor de tecnologia, deflagrou uma busca por segurança nos Treasuries, o que resultou em forte queda também nos rendimentos desses títulos, considerados livres de risco.
“Um dia bastante focado nos Estados Unidos, mas nossa Bolsa conseguiu se descolar, com apoio de Vale, Petrobras e dos grandes bancos. A análise gráfica sugere que esse movimento de recuperação pode se manter no curto prazo”, acrescenta Bruna.
Dólar
O dólar se firmou em leve baixa ao longo da tarde no mercado local, apesar do avanço firme da moeda americana em relação a divisas emergentes latino-americanas e de países exportadores de commodities. Segundo operadores, o real pode ter se beneficiado de fluxos pontuais de recursos para ações domésticas e de um eventual ajuste técnico carteiras, com investidores abandonando o peso mexicano para recompor posições na moeda brasileira.
Parte dos analistas pondera que a provável elevação da taxa Selic em 1 ponto porcentual pelo Comitê de Política Monetária (Copom) nesta quarta-feira, 29, aliada a um tom duro no comunicado, tende a aumentar a atratividade de operações de carry trade e, por tabela, atrair investidores. Além disso, a ausência de surpresas negativas vindas de Brasília, em meio ao recesso parlamentar, teria aberto uma janela para apostas no real, que se depreciou mais de 20% no ano passado.
Pela manhã, o dólar até ensaiou uma movimento de alta e chegou a superar o nível de R$ 5,95, com máxima a R$ 5,9564. Mas a divisa perdeu força ao longo da tarde e operou pontualmente abaixo de R$ 5,90, registrando mínima R$ 5,8997. No fim do dia, a moeda americana recuava 0,09%, a R$ 5,9133 – menor valor de fechamento desde 26 de novembro (R$ 5,8081). O contrato de dólar futuro para fevereiro recuou 0,30%, a R$ 5,9000.
Foi o sexto pregão consecutivo de queda do dólar, com desvalorização acumulada de 2,51% no período. Em janeiro, a moeda americana apresenta baixa de 4,32% em relação ao real, que apresenta o terceiro melhor desempenho no mês entre as principais divisas globais, atrás apenas do rublo russo e do peso colombiano.
O economista-chefe da Monte Bravo, Luciano Costa, observa que pela manhã o real se depreciou junto com os pares latino-americanos, que sofreram com dados fracos da China e, sobretudo, pela ameaça de Donald Trump de imposição de tarifas de importação a países da região.
“Provavelmente vimos algum fluxo para ativos domésticos, como a bolsa, e ajustes técnicos que levaram o real a se descolar dos pares”, afirma Costa, acrescentando que o recesso parlamentar deixa o ambiente doméstico mais calmo, o que abre espaço para recuperação do real. “O dólar subiu na comparação com emergentes, mas o DXY caiu mais uma vez. O real ainda se beneficia do enfraquecimento da moeda americana neste mês”.
Termômetro do comportamento da moeda americana frente pares, o índice DXY apresentou ligeira queda, sobretudo em razão da valorização do iene. As bolsas em Nova York sofreram, em especial o índice Nasdaq, com baixa de mais de 2%, na esteira da notícia de que a empresa chinesa DeepSeek apresentou avanços consideráveis em inteligência artificial com menos recursos que os utilizados pelas companhias dos EUA.
Entre as divisas latino-americanas, o peso colombiano caiu mais de 0,80%, enquanto o peso mexicano amargou perdas superiores a 2%. No estilo morde-e-assopra, Trump recuou da intenção de tarifar produtos colombianos, após a Colômbia concordar receber imigrantes ilegais extraditados. De outro lado, fontes ouvidas pela Dow Jones revelaram que Trump pode realmente impor tarifa de 25% ao México e ao Canadá a partir de sábado, 1º de fevereiro, como prometeu.
“Trump parece usar as tarifas mais como um fator para negociar com os países, o que levou a uma descompressão global do risco nas últimas semanas. Tivemos esse caso da Colômbia agora como exemplo”, afirma Costa, da Monte Bravo. “Mas a notícia de que as tarifas para o México podem realmente entrar em vigor acabou derrubando o peso mexicano e outras divisas”.
Juros
A queda no rendimento dos Treasuries e no dólar apoiou uma correção nos juros futuros brasileiros de médio e longo prazo nesta segunda-feira, às vésperas da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom). A ponta curta, contudo, sentiu pressão da piora nas expectativas inflacionárias do boletim Focus e fechou perto dos ajustes. A curva precifica uma Selic terminal a 16,25% em dezembro de 2025.
A taxa de depósito interfinanceiro (DI) para janeiro de 2026 fechou em 15,135%, de 15,145% no ajuste anterior. O DI para janeiro de 2027 caiu para 15,335%, de 15,392%, e o para 2029 recuou para 15,075%, de 15,181% no ajuste de sexta-feira.
“Lá fora nos Estados Unidos as taxas estão caindo bem, ajudando aqui”, afirma o economista-chefe do Banco Bmg, Flavio Serrano.
A pressão sobre os rendimentos dos Treasuries nesta segunda-feira ocorre por conta de uma ambiente de aversão a risco, após a rápida ascensão do chatbot R1, da startup chinesa DeepSeek, desencadear um selloff de ações de tecnologia sob temores de que os EUA e pares ocidentais possam perder a liderança em inteligência artificial.
Serrano aponta que um dos riscos que podem estar sendo precificados hoje é a de uma possível desaceleração econômica dos EUA, que desencadearia uma desaceleração econômica global e abriria espaço para queda nos juros no longo prazo – o que justificaria as taxas mais longas em queda mais firme.
O mercado monitorou ainda a pesquisa da Genial/Quaest que indicou perda de força do presidente Lula aos eleitores que deram a ele a vitória na última disputa presidencial. Para o economista-chefe da Nova Futura, Nicolas Borsoi, a pesquisa também influenciou o comportamento dos juros, visto que “a queda da popularidade de Lula reduz as chances de ele se reeleger em 2026 e, por uma questão probabilística, o mercado vai antecipar a possibilidade de um candidato mais responsável fiscalmente”.
Assim como no final da manhã, os juros futuros curtos se acomodaram perto da estabilidade, pressionados pelo boletim Focus, que trouxe uma deterioração acentuada das expectativas de inflação.
A mediana da projeção suavizada do IPCA 12 meses à frente disparou de 5,13% para 5,64%. Um mês antes, era de 4,94%. Já a mediana de IPCA de 2025 passou de 5,08% para 5,50%, acima do teto da meta, e para 2026, subiu de 4,10% para 4,22%.