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Ibovespa se ajusta a juros e cai 1,15%, aos 137,1 mil pontos

Em dia de vencimento de opções sobre ações, o Ibovespa retrocedeu para a linha dos 137 mil pontos, em baixa de 1,15% no fechamento, aos 137.115,83, tendo tocado 136.814,52 na mínima do dia. Assim, a semana termina em tom distinto da segunda-feira, quando o índice havia se reaproximado dos 140 mil na máxima daquela sessão e encerrado acima dos 139 mil – marca retomada em fechamento pela primeira vez desde 27 de maio.

A abertura da segunda quinzena de junho parecia que levaria o Ibovespa para cima, mas, finalizada a semana, o índice segue quase neutro no mês (+0,07%). Na semana, também houve virtual estabilidade (-0,07%), conservando praticamente a recuperação, de 0,82%, do intervalo anterior – que havia interrompido três perdas semanais. O giro desta sexta-feira subiu a R$ 31,3 bilhões, reforçado pelo vencimento de opções sobre ações. No ano, o Ibovespa sobe 13,99%.

Apesar do prosseguimento da volatilidade de preços no petróleo – com a referência global, o Brent, em baixa acima de 2% no fechamento em Londres -, Petrobras foi a exceção entre as ações de maior peso no índice, com a ON em alta de 0,45% e a PN, em leve baixa de 0,27% no fechamento. Vale ON caiu 2,58%, abaixo de R$ 50 no fechamento, a R$ 49,92, também a mínima do dia. Entre os maiores bancos, as perdas chegaram a 2,11% (BB ON, outra ação no piso da sessão no encerramento).

Na ponta ganhadora do Ibovespa, TIM (+1,51%), Telefônica Brasil (+1,47%) e PetroReconcavo (+1,35%). No lado oposto, destaque para Cosan (-9,00%), à frente de Vamos (-7,44%) e de Petz (-5,41%).

“Mercado estava bem dividido sobre o que viria na decisão do Banco Central sobre a Selic, e hoje o ajuste foi mais forte em empresas consideradas mais alavancadas, como é caso de Cosan, pelo efeito da exposição a juros, que tendem a seguir altos por mais tempo conforme sinalizou o Copom”, observa Guilherme Petris, operador de renda variável da Manchester Investimentos.

Assim, com o feriado de ontem de permeio, o dia para os ativos brasileiros foi marcado pelo ajuste ao comunicado, considerado duro, do Banco Central na noite de quarta-feira, quando elevou a Selic em mais 0,25 ponto porcentual, arredondada a 15% ao ano – parte do mercado esperava manutenção da taxa básica em 14,75%. Tal ajuste nos ativos foi especialmente perceptível na curva do DI.

“O Copom comunicou que avaliará se a estratégia de manter a taxa de juros no patamar atual por um período bastante prolongado é suficiente para reduzir a inflação para o centro da meta”, diz Luis Cezario, economista-chefe da Asset 1. “Com isso, entendemos que os membros do comitê de política monetária quiseram reforçar a mensagem de que não pretendem começar a cortar a taxa de juros nos próximos meses, com o intuito de tentar evitar que o mercado precifique um início prematuro de um ciclo de afrouxamento”, acrescenta.

“Desde a semana passada, com a intensificação do conflito no Oriente Médio, o mercado considerava os riscos advindos e a gente tinha ali uma fatia de 62% esperando que o Copom mantivesse a Selic, embora o Gabriel Galípolo presidente do BC tivesse dado um direcionamento, de que não excluía a possibilidade de alta”, diz Bruna Centeno, economista, sócia e advisor na Blue3 Investimentos.

“Decisão do Copom veio pelo lado mais hawkish – muitos, como a gente, esperavam estabilidade para a Selic. Porta está aberta para a possibilidade de retomada da alta, mas sinalizou também a interrupção do ciclo para avaliar o impacto, como a gente viu em outras ocasiões – mas houve uma convicção, a interpretação inicial do mercado, de que pode vir a ser uma taxa terminal. Mas o ‘bastante prolongado’, na referência a juros em nível alto, dá a ideia de a Selic ficar parada por muito tempo”, diz Marcos Freitas, analista macroeconômico da AF Invest.

Dólar

O dólar ganhou força no mercado local ao longo da tarde desta sexta, 20, e fechou em alta de 0,44%, cotado a R$ 5,5249, após atingir a máxima de R$ 5,5274. A desvalorização do real ocorreu em meio ao fortalecimento da moeda americana no exterior em relação a divisas emergentes e de países exportadores de commodities, especialmente o peso mexicano. Apesar da alta de hoje, o dólar encerra a semana com perdas de 0,30%, o que leva a desvalorização acumulada em junho a 3,40%.

Os operadores não identificaram um gatilho específico para a alta do dólar nesta sexta-feira, mas mencionaram ajustes após o rali recente do real e uma postura mais defensiva por parte dos investidores na véspera do fim de semana. Há temores de escalada do conflito entre Irã e Israel, que trocaram acusações em reunião com o Conselho de Segurança da ONU. A Casa Branca informou, pela manhã, que Donald Trump tomará uma decisão sobre o envolvimento dos EUA nas “próximas duas semanas”, informação reiterada pelo presidente americano à tarde. “Não podemos deixar o Irã ter arma nuclear”, afirmou Trump.

De volta do feriado no Brasil (Corpus Christi) e nos Estados Unidos (Juneteenth), a liquidez foi bastante reduzida, o que deixou a formação da taxa de câmbio mais sujeita a operações pontuais. Principal termômetro do apetite por negócios, o contrato de dólar futuro para julho teve movimento bem abaixo da média para sextas-feiras.

“Estamos vendo um pequeno ajuste para cima do dólar, com aumento da aversão ao risco devido às questões geopolíticas”, afirma a economista-chefe do Ouribank, Cristiane Quartaroli, ressaltando que o real chegou a se apreciar mais cedo, refletindo o aumento do diferencial entre juros interno e externo, após o Comitê de Política Monetária (Copom) elevar a taxa Selic de 14,75% para 15% na última quarta-feira, 18.

De fato, o dólar à vista abriu em queda firme, com mínima nos primeiros negócios de R$ 5,4696, mas foi reduzindo as perdas ao longo da manhã até inverter o sinal no começo da tarde. Apesar da queda de hoje, o real se mantém bem posicionado, dizem analistas. A promessa do Copom de manter a taxa Selic elevada por um período prolongado estimula as operações de carry trade e encarece o carregamento de posições em dólar, afirmam analistas.

“O Copom ressaltou que não hesitará em retomar o ciclo de alta caso o cenário se deteriore. Além disso, destacou que a política monetária deve permanecer contracionista por um período prolongado. Nesse ambiente, o real teve uma performance na semana melhor do que a média de seus pares”, afirma a economista-chefe da Armor Capital, Andrea Damico.

Enquanto o dólar subiu em relação à maioria das divisas emergentes e de países exportadores de commodities, ele caiu em relação ao euro, levando o índice DXY a fechar em queda de 0,20%, na casa dos 98,700 pontos. Na semana, Dollar Index subiu quase 0,70%.

Na última quarta-feira, 18, o Federal Reserve manteve a taxa básica de juros americana na faixa entre 4,25% e 4,50%, em comunicado considerado neutro. O presidente do BC americano, Jerome Powell, adotou um tom mais duro em entrevista coletiva após a decisão, ao alertar sobre o impacto inflacionário das tarifas de Donald Trump.

Dirigentes do Fed mostraram visões distintas hoje sobre o rumo da política monetária. O diretor Christopher Waller disse que a instituição está “em um bom lugar para começar a conversar sobre cortes de juros”. Já o presidente do Fed de Richmond, Thomas Barkin, afirmou que não há pressa em afrouxar a política monetária, dado que o risco de repique da inflação em razão das tarifas comerciais não foi dissipado.

Juros

A desinclinação na curva de juros se acentuou no período da tarde. Os vértices longos renovaram mínimas intradia, tanto por ajustes após um comunicado do Copom mais duro – com a mensagem de Selic elevada por um período bastante prolongado, mas que traz confiança para cortes mais expressivos adiante -, quanto pela inversão de sinal nos rendimentos dos Treasuries, que cediam em bloco, apesar de o juro do T-Bond de 30 anos por fim ter fechado em alta. Já a ponta curta subiu, com a ampla maioria do mercado vendo a Selic parada em 15% até o fim de 2025, conforme mostra pesquisa Projeções Broadcast.

O Copom surpreendeu parte do mercado financeiro não só por ter elevado a taxa Selic em 25 pontos-base na reunião de quarta-feira, como por ter fornecido o forward guidance de que pretende interromper o ciclo de aperto monetário na próxima reunião. É o que diz o JPMorgan, em relatório enviado a clientes.

Neste sentido, a curva a termo mostra que operadores estão desarmando a posição de inclinação que havia sido montada antes da reunião do Copom desta semana, avalia o diretor de investimentos da Nomos, Beto Saadia.

“Acho que grande parte do mercado estava com posicionamento de estabilidade da Selic na reunião de junho, protegendo-se de um eventual cenário em que o BC não elevaria o juro e inclusive poderia ter uma perda de credibilidade. Como isso não aconteceu, o mercado estabelece a confiança de que o BC vai se concentrar no centro da meta de inflação, convicto no curto prazo e, assim, pode haver espaço para cortar juros mais para frente”, comenta Saadia.

O BTG Pactual destaca que o Copom usou o termo “período bastante prolongado” – nunca antes usado na comunicação do Copom – duas vezes no comunicado desta semana para indicar que a política monetária seguirá firmemente contracionista. O banco, inclusive, faz parte da maioria do mercado que passa a projetar um corte na taxa Selic apenas em 2026, mais especificamente a partir do primeiro trimestre.

A curva de juros precifica cortes de 17 pontos-base na Selic na reunião de janeiro de 2026, de 24,12 pontos-base na reunião de março e de 27,83 pontos-base na reunião de abril, segundo o economista Carlos Lopes, do Banco BV.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2026 fechou em 14,960%, ante 14,868% no ajuste de quarta-feira. A do DI para janeiro de 2027 passou de 14,25% a 14,270%. Na ponta longa, o DI para janeiro de 2029 encerrou com taxa de 13,390%, de 13,55%; e o para janeiro 2031 fechou em 13,510%, ante 13,70% do ajuste anterior. Na semana, a curva também perdeu inclinação, com o vértice curto subindo 12 pontos-base e o longo em leve recuo de 2 pontos-base.

Estadão Conteudo

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