O Ibovespa sobe desde cedo e consegue recuperar o nível dos 120 mil pontos que havia perdido na sexta-feira, 3, quando encerrou a sessão no seu menor valor em pontos desde novembro de 2023. O movimento tem como justificativa um “ajuste de preços” técnico, com mais de 80% da carteira teórica no positivo, em dia de queda dos juros futuros e do dólar. Ações cíclicas e do setor financeiro puxaram os ganhos, mas as blue chips Vale e Petrobras figuraram entre as maiores quedas.
A alta da Bolsa “parece um movimento de repique muito mais por fator de preço do que por algo mais fundamentado”, na avaliação do analista de ativos da Monte Bravo, Bruno Benassi.
Na mesma linha, Paulo Luives, especialista da Valor Investimentos, destaca que o Ibovespa teve uma performance “muito ruim” em 2024 e hoje passa por um “certo ajuste de preços”, considerando que o principal assunto de atenção do mercado – a dinâmica fiscal doméstica – não teve novidade nas últimas semanas, pois o Congresso está em recesso até fevereiro.
Parte da recuperação da Bolsa nesta segunda-feira se dá também por uma reportagem do jornal The Washington Post de que o presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, deve adotar políticas menos agressivas, especialmente na parte das tarifas, em relação ao que foi prometido durante a campanha eleitoral. Trump, contudo, escreveu na rede Truth Social que o Washington Post sabe que a informação está errada: “É apenas mais um exemplo de fake news”, alegou.
A reportagem, ainda assim, melhorou o ânimo do mercado, principalmente no câmbio. O Trump é muito vocal em termos de comunicação, mas até o momento, como ele ainda não assumiu a presidência, ainda temos o benefício da dúvida de se ele vai seguir com todas as propostas levantadas durante a campanha”, afirma Luives.
Em efeito dominó, a valorização do real contribuiu para que as taxas dos contratos de Depósito Interfinanceiro (DI) recuassem. Assim, ações mais ligadas ao ciclo econômico, como Azul PN (+14,67%), Yduqs (+10,32%) e Carrefour (+9,98%) lideraram os ganhos do Ibovespa.
Ainda assim, “o que explica boa parte da performance positiva do Ibovespa são os bancos”, segundo Benassi, da Monte Bravo, que menciona movimento de recuperação. “A ação preferencial do Itaú subindo 4%, por exemplo, não é algo que você vê sempre”.
Já Vale (-1,28%) e Petrobras ON (-0,94%) e PN (-0,47%) cederam, acompanhando suas respectivas commodities. Para a estatal, também pesou a incerteza sobre o preço dos combustíveis, em meio ao aumento da defasagem em relação à paridade internacional.
O Ibovespa encerrou a segunda-feira, 6, em alta de 1,26%, aos 120.021,52 pontos, e o giro financeiro foi de R$ 19 bilhões, ainda abaixo da média diária de aproximadamente R$ 23 bilhões.
Dólar
O dólar caiu em relação a outras moedas no primeiro pregão da semana e, na comparação com o real, não foi diferente. No final da sessão, rondava os menores níveis desde 20 de dezembro, tanto no mercado à vista quanto no futuro. A notícia de que o próximo governo dos Estados Unidos pode ser mais seletivo em relação à imposição de tarifas de importação foi o elemento de maior peso nos negócios hoje, mas o fator sazonal – início do ano e baixa presença dos investidores no mercado – também pode ter colaborado para acentuar as perdas.
O dólar à vista caiu 1,13%, para R$ 6,1125, mas na mínima intradia chegou a R$ 6,0928. O desempenho do real foi um dos melhores entre moedas emergentes. O dólar só caiu com mais intensidade em relação ao rublo (-2,93%), ao peso mexicano (-1,50%) e ao zloty polonês (-1,15%).
No mercado futuro, o contrato da moeda para fevereiro tinha queda de 1,21% às 18h18, a R$ 6,1395, com mínima de R$ 6,1215. O volume de negócios até então era de US$ 11,35 bilhões.
Desde antes da abertura do pregão o dólar já operava em queda em relação a uma série de moedas no exterior, mas aprofundou as perdas após o jornal The Washington Post publicar que assessores do presidente eleito dos EUA, Donald Trump, estudam a aplicação de tarifas de importação a todos os países, mas voltada a alguns produtos específicos. Antes, havia expectativa de adoção indiscriminada de tarifas de importação.
Trump disse algumas horas depois da publicação que a reportagem do Washington Post era falsa, mas as declarações não apagaram a empolgação dos investidores com a notícia.
Especialistas apontam que a queda mais intensa do dólar pode ser reflexo também do volume reduzido de negócios e de contratos em aberto, fatores que diminuem a resistência aos movimentos de preço, seja para baixo ou para cima. “O mercado está com poucos players. As pessoas ainda estão voltando das férias, não tem tanta gente nas mesas. Os movimentos são maximizados”, disse Gean Lima, estrategista e trader de juros e moedas da Connex Capital.
Fato é que as expectativas em torno de aonde o câmbio vai nos próximos meses ainda estão difusas. No boletim Focus publicado mais cedo, a mediana das projeções do mercado crava o dólar a R$ 6 no final deste ano, mas as previsões variam entre os especialistas.
Adauto Lima, economista-chefe da Western Asset, acredita que a moeda possa caminhar em direção aos R$ 6, mas não no curto prazo. “Até porque os fatores que levaram a essa precificação permanecem – basicamente a trajetória da dívida desancorada por questões fiscais. Espero ao longo dos próximos meses que o dólar rode no patamar atual. Não me surpreenderia se fosse a patamares ainda mais elevados”, acrescentou.
Caique Stein, especialista de investimentos offshore da Blue3 Investimentos, também mencionou que o receio em torno da estabilização da dívida e dos efeitos da política fiscal são fatores que inibem uma potencial valorização do real. “Vemos o dólar na faixa dos R$ 6,30 até março, meados de abril, enquanto tiver esse cenário sem progresso de políticas fiscal e monetária”.
Juros
Os juros futuros fecharam em queda nesta segunda-feira, 6, ainda em correção de excessos dos prêmios embutidos na curva nas últimas semanas, hoje embalada pela melhora do câmbio. O fator técnico acabou se sobrepondo à piora nas medianas de inflação, juros e câmbio trazidas no Boletim Focus.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2026 encerrou em 14,97%, de 15,08% no ajuste de sexta-feira, e a do DI para janeiro de 2027, em 15,34%, de 15,50%. O DI para janeiro de 2029 fechou com taxa de 15,04%, de 15,33%. A exemplo dos últimos dias, o alívio se deu sem respaldo de giro, que manteve-se abaixo da média padrão, uma vez que muitos players ainda estão em recesso e, além disso, a agenda e o noticiário têm sido escassos nesses dias.
“Em novembro e dezembro, o movimento foi muito forte, com as taxas precificando Selic acima de 16%. É bastante, mas está corrigindo. O movimento do dólar hoje ajudou. Dá para começar a pensar em aplicar um pouco”, resumiu o economista-chefe do Banco Bmg, Flávio Serrano. O dólar à vista caiu 1,13%, para R$ 6,1125.
O apetite ao risco no câmbio que beneficiou também a curva de juros foi atribuído, em boa medida, à reportagem do jornal The Washington Post afirmando que o presidente dos EUA, Donald Trump, restringiria a aplicação de tarifas de importação durante seu governo a alguns setores. Trump negou a informação, à qual chamou de “fake news”, o que, porém, não interferiu no bom humor do mercado.
Desde o começo da semana passada, as taxas dos contratos mais líquidos já devolveram até 60 pontos-base, mas ainda seguem em níveis elevados, com o miolo e parte dos vencimentos longos resistindo na casa dos 15%. A precificação de Selic terminal nos DIs no meio da tarde ainda era agressiva, entre 16,25% e 16,50%, segundo Flávio Serrano. Para o Copom de janeiro, a curva projetava alta de 125 pontos-base e para o Copom de março, em torno dos 100 pontos sinalizados pelo último Copom.
A precificação da curva está acima do que trouxe hoje o Boletim Focus. A mediana para o fim do ciclo, projetado para o fim de junho, subiu a 15%, sem indicação de cortes para este ano. Apesar do aumento da expectativa para a Selic, as projeções de inflação voltaram a piorar, com as medianas para 12 meses à frente (4,96%) e 2025 (4,99%) já flertando com 5%. A mediana para câmbio no fim de 2025 subiu de R$/US$ 5,96 para R$/US$ 6.
Serrano considera que o ritmo de piora das projeções de IPCA no Focus tem diminuído e deve se estabilizar em breve, ainda que em patamar elevado. “Deve parar nos 5%, 5,10% neste ano e para o ano que vem, entre 4% e 4,10%. É provável que 2027 e 2028 busque algo perto de 4%”, afirma.
Na avaliação do economista-chefe da Ativa Investimentos, Étore Sanchez, o mais relevante foi a elevação da mediana de IPCA para 2027, de 3,83% para 3,90%, marcando a 5ª semana consecutiva de avanço. “Esse movimento ocorre em um horizonte além do alcance imediato da política monetária, denotando um esfacelamento adicional das instituições do arcabouço fiscal e monetário”, argumentou.
Profissionais da renda fixa veem um melhora mais consistente da curva atrelada ao dólar a níveis mais baixos e a novas medidas fiscais para complementar o pacote de corte de gastos, considerado insuficiente para estabilizar a dívida de longo prazo. “Quando isso começar a acontecer, pode haver um fluxo mais vendedor. Só que, para cair bastante mesmo, vai precisar avançar na votação do orçamento de 2025, que só acontece em fevereiro, e, principalmente, em novas medidas. São essas coisas que vão, de fato, fazer o mercado reduzir mais prêmio”, diz Serrano.