A Bolsa brasileira subiu menos do que os índices de Nova York, que avançaram mais de 2% em um movimento de recuperação, mas o Ibovespa conseguiu retomar o nível dos 130 mil pontos que não era visto desde o dia 3 de abril e passou a acumular uma valorização de 0,16% no mês. O movimento foi atribuído a fatores técnicos – inclusive, o giro financeiro ficou abaixo da média, após retorno do feriado.
O centro da atenção do mercado tem sido a política tarifária dos Estados Unidos. Nesta tarde o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, afirmou que o impasse tarifário com a China é “insustentável” e que espera uma redução nas tensões, fazendo com que Wall Street ampliasse os ganhos. O movimento foi acompanhado pelo Ibovespa, embora em menor magnitude.
“O mercado lá fora está ajustando a queda recente que teve, e estamos seguindo esse direcional de alta. Mas hoje o volume da Bolsa está pequeno. Um pouco por estar retornando de um feriado hoje, e um pouco porque muitos gestores podem ter adequado a sua carteira já na semana passada, em que tivemos muitas notícias”, comenta a gestora de renda variável do Fator, Isabel Lemos.
O Ibovespa fechou em alta de 0,63%, aos 130.464,38 pontos, acumulando avanço de 0,16% no mês de abril. O giro financeiro totalizou R$ 17,9 bilhões, abaixo da média diária de cerca de R$ 23 bilhões.
Lemos, do Fator, menciona ainda que grande parte do fluxo é local, principalmente de empresas brasileiras. Relatório do Itaú BBA aponta que há R$ 89 bilhões em programas de recompra abertos, de 109 companhias.
Isto porque o fluxo estrangeiro minguou neste mês, devido aos ruídos em torno da política tarifária do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump – com riscos de maior inflação e desaceleração econômica global. A retirada de R$ 10,885 bilhões em recursos externos em abril até o dia 16 zerou a entrada de R$ 10,642 bilhões que havia sido conquistada no primeiro trimestre de 2025, mostra reportagem especial do Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado).
Dólar
O dólar apresentou queda firme na sessão desta terça-feira, 22, a primeira após o feriado prolongado de Páscoa e Tiradentes, e fechou abaixo do nível de R$ 5,75. O dia foi marcado por enfraquecimento da moeda americana em relação a divisas emergentes, impulsionadas pela valorização de commodities, em especial do petróleo, e pelo apetite ao risco no exterior.
O real pode ter absorvido hoje parte do tombo da moeda americana no exterior ontem, quando investidores fugiram de ativos dos EUA em razão da instabilidade provocada pelos ataques de Donald Trump ao presidente do Federal Reserve, Jerome Powell. A moeda brasileira teve hoje o segundo melhor desempenho entre a divisas mais líquidas, atrás apenas do peso chileno.
Ontem, o índice DXY – termômetro do comportamento da moeda americana em relação a uma cesta de seis divisas fortes – caiu ao menor nível desde 30 de março de 2022. O Dollar Index subia cerca de 0,70% no fim da tarde de hoje, acima dos 98,900 pontos.
Mesmo sem sinais de trégua por parte de Trump, houve melhora do apetite ao risco, com uma recuperação das bolsas em Nova York, que exibiram ganhos de mais de 2%. Tradicional refúgio ao risco, o ouro, que renovou recorde histórico ontem, hoje recuou. À tarde, o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, afirmou que o impasse tarifário com a China era insustentável e que espera um arrefecimento das tensões, segundo a Bloomberg.
Com mínima a R$ 5,7184 à tarde, o dólar à vista encerrou o pregão em queda de 1,30%, a R$ 5,7284 – menor valor de fechamento desde 3 de abril (R$ 5,6281), sessão seguinte ao anúncio do tarifaço pelos EUA, chamado por Trump de “Dia da Libertação”. Apesar do tombo de hoje, o dólar ainda apresenta leve alta no mês (0,40%).
O economista-chefe da Frente Corretora, Fabrizio Velloni, afirma que, apesar do enfraquecimento da moeda americana ontem, o real poderia ter sofrido, caso o mercado local estivesse aberto, com o aumento da aversão ao risco diante do acirramento das críticas de Trump a Powell.
Enquanto o presidente do Fed alerta que o tarifaço aumenta a incerteza e pode pressionar a inflação, o que sugere uma postura mais cautelosa na gestão da política monetária, Trump exige corte de juros, acusa Powell de ter viés político e o ameaça com demissão, apesar da independência legal do Fed.
“Ontem, vimos uma busca maior por proteção. Investidores abandonaram o dólar e compraram ouro com essa tensão entre Trump e o Fed. Hoje, os mercados mostram uma certa recuperação do apetite ao risco, o que é bom para divisas emergentes”, afirma Velloni, ressaltando que o Brasil pode se beneficiar de aumento de exportação de commodities agrícolas, como soja e milho, para a China diante do tarifaço de Trump. “Vemos agora um cenário em que as economias e moedas emergentes podem ser puxadas pela China”.
O presidente do Fed de Minneapolis, Neel Kashkari, disse hoje que Powell faz um “ótimo trabalho” e que as decisões do BC americano são técnicas. Kashkari afirmou que é cedo para julgar qual será a trajetória da política monetária, mas ressaltou a importância de manter as expectativas de inflação ancoradas.
À tarde, a secretária de Comunicação da Casa Branca, Karoline Leavitt, afirmou que Trump deixou “clara sua posição sobre o Fed e Powell”, de que “é preciso cortar os juros”, e que o presidente dos EUA deseja que o dólar permaneça como a moeda de reserva mundial.
Por aqui, o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, reiterou pela manhã, em audiência no Senado, o desconforto com a inflação elevada e a necessidade e de manutenção de política monetária restritiva. Galípolo lembrou que o processo de elevação da Selic no fim de 2024 tornou menos atrativo apostar contra o real, mas reiterou que o regime de câmbio é flutuante e que o BC tem meta de inflação.
Apesar de a taxa de câmbio estar abaixo de R$ 5,80, o Citi mantém a previsão de dólar ao redor de R$ 6,00 no fim deste ano. O banco observa que o ambiente externo se tornou mais adverso e incerto após o tarifaço de Trump, com o dólar oscilando entre R$ 6,10 e R$ 5,60 ao longo de abril.
Segundo o banco, os fatores determinantes para a formação da taxa de câmbio se movem em direções divergentes, com aversão ao risco maior, como mostra o índice VIX, preços de commodities razoavelmente estáveis e um enfraquecimento global do dólar, que leva a uma queda do índice DXY em 2025.
Juros
Os juros futuros tiveram uma sessão volátil nesta terça-feira e fecharam com viés de baixa nos vencimentos curtos e em alta na ponta longa. A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2026 encerrou em 14,720%, de 14,745% no ajuste de quinta-feira, e a do DI para janeiro de 2027, em 14,18%, de 14,21%. O DI para janeiro de 2029 fechou com taxa de 14,08%, de 14,02% no ajuste de quinta-feira.
A queda firme do dólar teve influência limitada sobre a curva local, atuando sobre a ponta curta mais na primeira etapa dos negócios, associada ao alívio nas expectativas de inflação de curto prazo no Boletim Focus. A projeção de IPCA em 12 meses à frente furou os 5%, ao cair de 5,01% para 4,95%, enquanto a mediana para 2025, após três semanas de estabilidade, cedeu de 5,65% para 5,57%, ambas ainda distantes do teto da meta de 4,50%.
À tarde, as taxas curtas zeraram o recuo, pressionadas por falas do presidente do BC sobre inflação e atividade. Eduardo Velho, economista-chefe da Equador Investimentos, chama a atenção para a ênfase dada ao crescimento da economia, “aparentemente acima do que o BC esperava”, e que, apesar de terem desacelerado, da mediana das expectativas de inflação para 2025 seguirem bem desancoradas. “Foi uma sinalização hawkish”, disse. “E ainda estão vendo se o nível de juros é alto o suficiente para debelar a inflação. Ou seja, a fala não somente ratifica a elevação de 50 pontos-base da Selic em maio como indica que pode não parar em junho”, completou.
Em audiência pública da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, Galípolo ressaltou que a inflação acima da meta está bastante disseminada, “por diversos produtos, sejam bens industriais, sejam serviços, seja através do IPCA ou administrados ou alimentação a domicílio”. Questionado sobre a taxa de juros do Brasil estar em nível elevado, Galípolo ponderou que no atual momento, em que é preciso frear a economia, a taxa de juros precisa estar acima do nível neutro. “A gente está tateando agora nesse ajuste, se a gente está num patamar restritivo suficiente, ou qual é esse patamar restritivo suficiente, ao longo desse ciclo de alta que nós ainda estamos fazendo”, reiterou.
Os vencimentos longos estiveram a reboque do clima externo e notícias do lado fiscal. “Ontem, a Treasury nos EUA subiu bastante, e só caiu parte da alta hoje. Então, seria um efeito defasado do feriado. E internamente ainda há algum mau humor por conta da LDO, muita repercussão na mídia ao longo do feriado prolongado”, afirma o sócio-gestor da Oriz Partners, Carlos Kawall.
O rendimento da T-Note de dez anos voltou a superar ontem os 4,40% e hoje no fim da tarde oscilava nos 4,39%, refletindo os ataques do presidente dos EUA, Donald Trump, ao presidente do Federal Reserve, Jerome Powell. Trump acusa Powell de atuar de forma política e de estar atrasado ao não promover cortes de juros. Disse ainda que, se quiser, pode demitir o comandante do Fed “bem rápido”, ainda que isso seja bastante improvável pela legislação americana.
Internamente, o noticiário fiscal não ajuda. Auditoria realizada pelo Tribunal de Contas da União (TCU) identificou a prática de medidas “heterodoxas” na condução das contas públicas pelo governo Lula, segundo um documento preliminar da fiscalização feita pelo Tribunal ao qual o Estadão/Broadcast teve acesso.
Além disso, Velho acrescenta que o Tesouro tem emitido dívida a taxas muito elevadas nos leilões. “Estão impactando bastante a curva, na tentativa de alongar a divida, com juro real muito elevado, numa despesa que vai ficar também para os próximos governos”, diz.