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Ibovespa reage bem a ‘plot twist’ no tarifaço e sobe quase 1%, perto de 134 mil

O decreto que parecia o tiro de misericórdia no kit Brasil – com a confirmação da sobretaxa de 50% às exportações do País, conforme prometido no último dia 9 pelo presidente dos EUA, Donald Trump – veio a ser a salvação da lavoura, firmando o Ibovespa no campo positivo do meio para o fim da tarde: no melhor momento, chegou a testar a linha dos 134 mil pontos, com o plot twist, a inesperada reviravolta no roteiro do tarifaço.

Ao fim, a Casa Branca optou por uma extensa lista de exceções, em itens como produtos alimentícios, agrícolas, minérios e combustíveis, entre outros, bem como um prazo ampliado, daqui a sete dias, para que as medidas, inicialmente previstas para esta sexta-feira, 1º de agosto, entrem em vigor. O que parecia tormento virou alívio, recolocando o Ibovespa aos 133.989,74 pontos no fechamento, em alta de 0,95%, com giro a R$ 22,7 bilhões – o melhor das recentes sessões em que vinha prevalecendo sinal de baixa.

O dia foi volátil, aderente ao noticiário em torno das iniciativas punitivas dos Estados Unidos em relação ao Brasil e a autoridades como o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF) – o que deixou em segundo plano a decisão do Federal Reserve, em linha com o esperado ao manter os juros dos EUA na faixa de 4,25% a 4,50% ao ano. “Os mercados provavelmente interpretarão o resultado de hoje como uma continuação da estratégia de ‘esperar para ver’ do Fed, com uma inclinação dovish emergindo através das dissidências e linguagem mais suave. A reunião de setembro será movimentada”, avalia em nota Dan Siluk, gerente de portfólio na Janus Henderson.

No front da disputa comercial e política do governo Trump com o Brasil, em um primeiro momento, no início da tarde, veio um desdobramento ruim: a aplicação da Lei Magnitsky contra Moraes, do STF. A iniciativa, contudo, já era aguardada e, a princípio, não chegou a afetar muito as ações mais expostas ao tarifaço, conforme operadores ouvidos pela Broadcast, reporta o jornalista Vinícius Novais.

Dessa forma, Weg, Suzano e o setor de minerais e metalurgia, considerados os mais sensíveis aos EUA, não mudaram de direção nem intensificaram os movimentos após a publicação da notícia. A Embraer, empresa de capital aberto mais prejudicada, chegou a entrar no campo negativo, mas voltou a subir. “A princípio, os desdobramentos desta tarde trouxeram um pouco mais de lenha na fogueira”, aponta João Piccioni, CIO da Empiricus Asset.

Contudo, a cereja do bolo viria depois, com a inesperada inclusão de uma extensa lista de exceções ao tarifaço americano, e um prazo maior para que entre em vigor, o que, teoricamente, abre espaço para negociações e, quem sabe, uma flexibilização maior, apontam analistas de mercado. “Talvez haja ainda alguma saída para a questão das tarifas”, diz Piccioni.

“A atualização desta tarde sobre o pacote da tarifas trouxe lista de produtos que serão isentos desse tarifaço, entre os quais os da aviação civil, como as aeronaves da Embraer. Também na lista grande de exceções entraram diversos produtos, como os alimentícios”, o que contribuiu para a recuperação vista nesta tarde no Ibovespa, observa Rodrigo Marcatti, economista e CEO da Veedha Investimentos. Dessa forma, pelo segundo dia, Embraer foi a empresa cuja ação mais subiu dentre as 84 componentes da carteira Ibovespa, hoje em alta de 10,93%, a R$ 76,25, no fechamento – à frente de Pão de Açúcar (+5,80%) e Magazine Luiza (+5,16%). No lado oposto, Engie (-2,39%), RD Saúde (-2,17%), Bradespar (-1,85%) e Vale (-1,79%).

“Os Estados Unidos são um dos principais mercados da Embraer, e a empresa ficou livre da tarifação em aeronaves. Outro produto que estava muito em foco era o suco de laranja, que também ficou fora do tarifaço, assim como o minério de ferro”, aponta Cleber Rentróia, head de renda variável da Blue3 Investimentos.

Da mínima à máxima da sessão, o Ibovespa oscilou quase 2,5 mil pontos, entre 131.882,74 e 134.367,54 pontos, tendo saído de abertura aos 132.702,24 pontos. O ganho em ações do setor financeiro, com destaque para Bradesco (ON +1,43%, PN +1,62%) e Itaú (PN +1,15%), mais do que compensou o efeito negativo de Vale, a ação de maior peso.

Petrobras, por sua vez, fechou em alta de 1,12% na ON e de 1,02% na PN, favorecida como ontem pela progressão dos preços do petróleo – na terça-feira, em alta superior a 3% em Londres e Nova York, hoje na casa de 1% para ambas as referências, Brent e WTI. Com o desempenho desta quarta-feira, o Ibovespa vira para o positivo na semana (+0,35%), mas ainda cede 3,50% no mês, que chega ao fim amanhã – no ano, sobe 11,40%.

Dólar

O real registra o melhor desempenho entre as principais divisas globais nesta quarta-feira, 30. Apesar de o presidente dos EUA, Donald Trump, ter assinado decreto que implementa tarifa de 50% ao Brasil, uma longa lista de exceções e o fato de que a aplicação só ocorrerá daqui sete dias – prazo maior do que o inicial, de 1º de agosto -, em tese abre margem para mais negociações. Ainda assim, a Lei Magnitsky dos EUA contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes gera certa cautela que, aliada com a valorização global do dólar, por fim empurrou a moeda brasileira para baixo.

Com mínima de R$ 5,5397 e máxima de R$ 5,6303, o dólar à vista fechou em alta de 0,35%, a R$ 5,5892. O índice DXY, que mede o dólar contra seis pares fortes, subia cerca de 0,92% por volta das 17 horas, ilustrando a valorização global do dólar.

Depois de a moeda americana subir por toda a manhã, a volatilidade permeou os negócios na segunda etapa do pregão. Primeiro a máxima de R$ 5,6303 veio no início da tarde, com a notícia de que os EUA aplicaram a Lei Magnitsky – de sanções – contra o ministro Alexandre de Moraes, em um sinal de escalada na tensão entre os países. Depois, também seguia em alta quando Trump firmou ordem para aumentar a tarifa de 10% a produtos brasileiros para 50%.

Contudo, na lupa, o documento americano mostrou que o início das tarifas foi prorrogado para daqui sete dias, com vigor apenas no dia 6 de agosto. “Será que isso não deixa o Brasil ter mais dias para negociar? Já que antes o prazo era 1º de agosto”, questiona o diretor de pesquisa econômica do banco Pine, Cristiano Oliveira.

Além disso, foi divulgada uma lista extensa de exceções quanto ao nível de alíquota, como produtos de aviação civil e algumas categorias de aviões e helicópteros; categorias de minério de ferro e estanho; gás natural liquefeito e algumas categorias de petróleo; castanha-do-pará, polpa de laranja e categorias de sumo de laranja; entre outros. Café e carne, no entanto, estão fora da série de isenções.

Com estas duas notícias, o dólar conseguiu voltar a cair ante o real. Ainda assim, o movimento não se sustentou.

Na avaliação do economista-chefe da Monte Bravo, Luciano Costa, o maior fator para a alta do dólar ante o real no fim do pregão foi o “efeito Powell”, que reforçou que a decisão sobre juros para setembro ainda não foi tomada, e o DXY “subindo muito”.

Juros

Em uma sessão marcada por elevada oscilação das taxas, a curva a termo operou sob um jogo de forças na segunda etapa do pregão desta quarta-feira, 30. De um lado, o comunicado da Casa Branca que oficializou a imposição da tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, divulgado por volta das 15h, provocou abertura nos vértices intermediários e longos.

De outro, a exclusão de uma série de itens do tarifaço, bem como o anúncio de um prazo de 7 dias a partir de hoje para a entrada em vigor da sobretaxa, chegou a zerar as altas cerca de uma hora depois. No fim, prevaleceu a influência do exterior, de firme avanço dos rendimentos dos Treasuries, e os juros passaram a operar em ascensão novamente.

A decisão do Federal Reserve (Fed), que manteve a taxa dos Fed Funds inalterada na faixa de 4,25% a 4,50% ao ano, já era amplamente aguardada, mas os rendimentos dos títulos do Tesouro americano subiram, em reação a falas do presidente da instituição, Jerome Powell, indicando que ainda não há definição para setembro. “Isso frustrou um pouco expectativas de cortes de juros por lá nas próximas reuniões”, aponta Tiago Hansen, diretor de gestão e economista da Alphawave Capital.

Por aqui, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) deve optar por deixar a Selic estável em 15%, em reunião que se encerra hoje.

No fechamento, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) que vence em janeiro de 2026 oscilava de 14,913% no ajuste de ontem para 14,915%. O DI de janeiro de 2027 passava de 14,151% no ajuste da véspera a 14,225%. O DI de janeiro de 2028 marcava 13,515%, de 13,457% no ajuste antecedente, e o DI de janeiro de 2029 avançava de 13,368% no ajuste de terça para 13,415%.

Na ponta mais longa da curva, o vértice de janeiro de 2031 subiu de 13,611% no ajuste a 13,640%. O contrato do primeiro mês de 2033 também avançou, de 13,734% no ajuste para 13,760%.

“A abertura da curva americana acaba por pressionar a curva local”, afirma Luis Otávio de Souza Leal, sócio e economista-chefe da G5 Partners. “Após a surpresa positiva inicial com as isenções, o mercado realizou um pouco porque o cenário ainda está muito incerto”, acrescentou.

Para Leal, a despeito da extensa lista de isenções informadas pela Casa Branca da alíquota de 50% sobre produtos nacionais – tais como produtos de aviação, celulose, nafta e alguns alimentos, entre outros -, dificilmente haverá solução de curto prazo para questões de cunho mais político.

“O mercado está subestimando que a aplicação dessa lei a Moraes aumenta as chances de o governo brasileiro fazer algum tipo de retaliação, ou aumentar o tom em relação ao governo dos EUA, e a coisa desandar de vez. Estamos no fio da navalha”, diz o economista-chefe da G5 Partners.

“Até que a reação do mercado a essa confusão está contida. Tem espaço para o prêmio de risco piorar mais”, diz, ponderando que os vencimentos curtos seguem ancorados na expectativa de manutenção da Selic no nível atual em período bastante prolongado.

De acordo com pesquisa pré-Copom publicada hoje pelo BTG Pactual, que ouviu 58 participantes do mercado, todos esperam estabilidade do juro básico na decisão de hoje do colegiado. No entanto, 8,6% deles avaliam que o correto seria uma elevação da taxa pelo BC – 5,2% acham que a Selic deveria aumentar 25 pontos-base, e 3,4%, 50 pontos-base.

Estadão Conteudo

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