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Ibovespa quebra série negativa e sobe 0,54%, com Petrobras e Vale

Após quatro sessões na defensiva, o Ibovespa teve um dia de recuperação moderada, não o suficiente para retomar os 137 mil pontos, nível visto na máxima (137.369,35), quando avançava mais de 1%. Ao fim, o índice da B3 mostrava ganho de 0,54%, aos 136.436,07 pontos, com mínima a 135.716,01 equivalente à abertura da sessão. O giro financeiro desta terça-feira ficou em R$ 20,7 bilhões. Na semana, o Ibovespa avança 0,25%, ainda cedendo 0,43% em junho – no ano, sobe 13,43%.

Destaque da sessão entre as blue chips, Petrobras conseguiu sustentar alta de 3,65% na ON e de 3,02% na PN, mesmo com a perda de força do petróleo em Londres e Nova York ao longo da tarde, com o Brent e o WTI em baixa nos respectivos fechamentos após terem chegado a subir mais de 1% até o início da etapa vespertina. As empresas de petróleo “juniores”, como Brava (+3,29%) e PetroReconcavo (+3,49%), também foram bem até o fechamento, a despeito da virada nas cotações da commodity.

“Foi apenas um ajuste mesmo de preços nas ações do setor na sessão desta terça-feira”, diz Hugo Queiroz, sócio da L4 Capital. Ele acrescenta que, na segunda-feira, os papéis do segmento tinham sido afetados pela possível alteração na tributação do segmento, como proposta alternativa ao aumento de IOF inicialmente proposto pelo governo, mas de saída rejeitado pelo Congresso. “O governo vai precisar dos royalties do setor, então isso pesou”, observa Queiroz.

Na B3, Vale ON, a principal ação da carteira, também foi bem, em alta de 0,68% no encerramento, apesar do recuo do minério de ferro na China e em Cingapura. Entre os bancos – ainda sob o peso de mudanças indicadas pelo governo para a tributação de JCP no âmbito do pacote -, Bradesco ON (+0,15%) e Santander (Unit +0,28%) foram as exceções, ainda que o ajuste negativo tenha sido moderado, entre -0,06% (Bradesco PN) e -0,87% (Banco do Brasil ON) no fechamento. Na ponta ganhadora do Ibovespa, Vamos (+5,88%), Braskem (+4,67%) e CSN (+4,10%). No lado oposto, Embraer (-2,43%), BB Seguridade (-2,15%) e Caixa Seguridade (-2,11%).

“O IPCA foi o destaque do dia, com a desaceleração da inflação em maio (a 0,26%) ante abril, e em desaceleração maior do que se antecipava para o mês. Quanto mais rápido desacelerar, mais rápido se poderá falar de possíveis cortes da Selic, que deve ser mantida em 14,75% ao ano na reunião do Copom em junho”, diz Felipe Papini, sócio da One Investimentos.

Ao se considerar o gráfico, “o Ibovespa tem respeitado a região dos 135 mil pontos”, aponta Anderson Silva, head da mesa de renda variável e sócio da GT Capital, que considera que o índice tende a permanecer lateralizado no curto prazo, refletindo a “gangorra” entre os preços de ações de peso, como as das commodities e de bancos.

Dólar

O dólar ganhou força ao longo da tarde e terminou a sessão desta terça-feira, 10, em leve alta, na casa de R$ 5,57, alinhado ao comportamento da moeda americana no exterior. Investidores evitaram exposição a divisas emergentes enquanto aguardavam um desenlace das negociações comerciais entre EUA e China, que entraram hoje em seu segundo dia com perspectivas positivas.

Pela manhã, o dólar chegou operar pontualmente em queda, com mínima a R$ 5,5388, com relatos de entrada de recursos estrangeiros para ativos locais e alta do petróleo, que se reverteu à tarde. A leitura benigna do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de maio não apagou as apostas em alta final da Selic em 0,25 ponto porcentual no encontro do Comitê de Política Monetária (Copom) na semana que vem.

As negociações entre governo e parlamentares sobre as medidas fiscais do ministério da Fazenda para substituir parcialmente o aumento do Imposto de Operações Financeiras (IOF) permaneceram como pano de fundos para os negócios, diante de dúvidas sobre a aprovação das medidas pelo Congresso e de eventual adoção de cortes de gastos.

Com máxima a R$ 5,5749, o dólar à vista encerrou o dia em alta de 0,14%, R$ 5,5704, após três pregões consecutivos de queda. A moeda americana acumula baixa de 2,61% nos sete primeiros pregões de junho e de 9,87% em 2025 na comparação com o real, que apresenta o melhor desempenho entre as divisas latino-americanas.

Termômetro do comportamento do dólar em relação a uma cesta de seis divisas fortes, o índice DXY teve leve alta e subia cerca de 0,10% no fim da tarde, aos 99,038 pontos, após máxima aos 99,390 pontos. Peso colombiano e won sul-coreano apresentaram as maiores quedas entre emergentes.

“O mercado está na defensiva e um pouco pressionado com essa expectativa pela negociação entre os Estados Unidos e China, em um momento em que o presidente Donald Trump enfrenta protestos e resistências dentro do próprio partido”, afirma o economista-chefe da Frente Corretora, Fabrizio Velloni, que vê a China ainda com “bastante força” para sustentar a guerra comercial, apesar dos indicadores recentes mostrando desaceleração da economia chinesa.

Na agenda do dia, destaque para o IPCA, que desacelerou de 0,43% em abril para 0,26% em maio, no piso das expectativas da pesquisa Projeções Broadcast, cuja mediana era de 0,34%. Embora ainda haja preocupação a dinâmica inflacionária, em especial de serviços, a leitura do índice foi considerada benigna.

“Esse resultado do IPCA, junto com os impactos da mudança no IOF, reforça a tese de fim de ciclo de alta de juros e de manutenção da Selic na próxima reunião do Copom apesar dos sinais ainda incipientes de desaceleração da atividade econômica”, afirma o economista Vladimir Caramaschi, sócio-fundador da +Ideas Consultoria Econômica.

Mesmo que não haja alta adicional da Selic, a visão de analistas é a de que a perspectiva de que a taxa de juros permaneça em nível elevado por período prolongado dá certa sustentação ao real, ao estimular operações de carry trade e tornar muito custoso o carregamento de posições compradas em dólar.

Além de eventuais movimentos de aversão ao risco no exterior, o real pode ser prejudicado pelas incertezas que cercam a política fiscal, em meio às negociações em torno do pacote do governo para substituir parcialmente o aumento do IOF. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que expôs nesta terça ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que retornou na segunda-feira à noite de viagem à França, as medidas negociadas com os líderes parlamentares.

Haddad minimizou fala da segunda-feira do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), de que o Congresso não tem compromisso em aprovar as medidas apresentadas. “É uma fala de prudência”, disse Haddad, que atribuiu aos parlamentares a inclusão do aumento dos Juros sobre Capital Próprio (JCP) no pacote. “Qual foi a medida da Fazenda que não foi aprovada depois de uma negociação?”.

“As falas de Haddad em relação à política fiscal continuam voltadas mais para arrecadação do que para um corte de gastos. Não está claro se ele está disposto a negociar com cada um dos segmentos que vão ser impactados pelas medidas”, afirma a economista Paloma Lopes, da Valor Investimentos, acrescentando que, sem novidades positivas por aqui, o dólar seguiu o exterior.

Juros

Os juros futuros fecharam a terça-feira em baixa, em reação ao Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de maio, que não somente veio no piso das estimativas como trouxe composição benigna, o que deu fôlego às apostas de manutenção da Selic no Copom de junho, que vinham enfraquecidas nos últimos dias.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2026 fechou em 14,850%, de 14,873% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2027 caiu de 14,22% para 14,15%. A taxa do DI para janeiro de 2028 cedeu a 13,57%, de 13,69%, e o DI para janeiro de 2029 terminou com taxa de 13,51% (de 13,64%).

O IPCA de maio, de 0,26%, teve forte desaceleração ante a taxa de 0,43% em abril, abaixo da mediana das projeções (0,34%) e alinhado à previsão mais otimista da pesquisa do Projeções Broadcast. Os preços de abertura mostraram desaceleração mensal em bens industriais, serviços, serviços subjacentes, serviços intensivos em mão de obra e a média dos núcleos, além de queda no índice de difusão. Em 12 meses, o IPCA passou de 5,53% até abril para 5,32% até maio.

Para Luiz Otávio de Souza Leal, economista-chefe da G5 Partners, o IPCA de hoje dá esperança de que talvez o pior do processo inflacionário tenha ficado para trás. “Não que veremos daqui para frente uma desaceleração linear dos acumulados em 12 meses em todas as métricas, mas devemos observar oscilações com viés de baixa, de modo que o IPCA feche 2025 em 5,30%”, disse.

O resultado e a composição do indicador encorajaram apostas mais otimistas para a política monetária de curto prazo. Tanto na curva do DI quanto nas opções digitais da B3 cresceu a expectativa de manutenção da Selic em 14,75%, sendo que na B3 já aparecia como levemente majoritária. Nos DIs, a precificação de Selic mostrava nesta tarde 55% de chance de alta de 25 pontos-base e 45% de chance de estabilidade para junho. Ontem, a precificação para junho era de 64% de probabilidade de aumento de 25 pontos e 36% para manutenção.

“Temos reforçada a nossa percepção de que o Copom não vai elevar os juros na sua próxima reunião, com a Selic sendo mantida em 14,75% até pelo menos o final de 2025, uma vez que, se não parece mais necessário elevar os juros, tampouco há espaço para quedas no curto prazo”, afirma Leal.

Na avaliação de Matheus Pizzani, economista da CM Capital, o IPCA reforça a possibilidade de Selic estável no Copom da próxima semana, mas acredita que o colegiado trará uma comunicação dura, de forma a sinalizar que a taxa seguirá em nível elevado por período prolongado. “A comunicação não pode ser frouxa”, diz.

Gustavo Sung, da Suno Research, acredita que a estabilização da taxa câmbio nos atuais patamares, combinada à queda das commodities, deve contribuir para uma redução das pressões inflacionárias no segundo semestre, que tende a ser um período de maior estabilidade de preços. Ainda assim, mantém a expectativa de alta de 0,25 ponto porcentual no Copom de junho. “Caso os próximos dados mostrem um comportamento mais benigno, especialmente em relação à atividade econômica e ao mercado de trabalho, é possível que o ciclo de alta de juros tenha chegado ao fim”, afirma.

Na quinta e na sexta, serão divulgadas a divulgada a Pesquisa Mensal de Comércio (PMC) e a Pesquisa Mensal de Serviços (PMS). “Teremos esta semana uma janela importante de indicadores de atividade para o mercado e para o Copom”, afirma Pizzani.

Nos vencimentos longos, o economista da CM atribuiu a dinâmica essencialmente à ausência de novidades no noticiário sobre o IOF. “O fato de não ter notícia foi a boa notícia nesse atual momento da política fiscal doméstica.”

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, se reuniu hoje com o presidente Lula para apresentar as medidas discutidas com lideranças do Congresso no último domingo e que foram entregues hoje à Casa Civil. Ele informou que uma comissão de líderes será formada para avaliar medidas de redução do gasto primário, grupo que terá o apoio técnico da Pasta.

Estadão Conteudo

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