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Ibovespa luta no fim e sobe 0,17%, aos 150,7 mil, estendendo série de recordes

O Ibovespa reteve em fechamento a inédita marca de 150 mil pontos pelo segundo dia, em viés positivo no ajuste de fechamento, estendendo hoje a série para dez altas – sete delas correspondendo a níveis recordes de encerramento. A sequência de dez avanços é a mais longa desde os 11 ganhos observados na primeira quinzena de julho de 2024. Nesta terça-feira, 04, o índice da B3 voltou a estabelecer novo pico histórico intradia, aos 150.887,55 pontos, no início da tarde, antes de perder fôlego na etapa vespertina, recuperando-se apenas nos minutos finais, em alta de 0,17%, aos 150.704,20 pontos, nova máxima de encerramento para o Ibovespa.

Reforçado em direção ao fechamento, o giro financeiro foi a R$ 25,3 bilhões. Na semana, o índice sobe 0,78%, e no ano agrega ganho de 25,29%. Na ponta ganhadora do Ibovespa na sessão, Pão de Açúcar (+6,16%), Vamos (+5,02%) e IRB (+3,49%). No lado oposto, Embraer (-3,60%) após balanço trimestral, seguida por Cosan (-3,12%) e CSN Mineração (-2,13%) no encerramento.

Na B3, o prosseguimento da escalada do Ibovespa parecia que seria contido, hoje, pelo desempenho negativo do carro-chefe Vale (ON -1,12%). Contudo, Petrobras se firmou em alta à tarde na ON (+0,94%, máxima do dia no fechamento) e na PN (+0,50%) apesar da queda do petróleo em Londres e Nova York. O dia também foi desfavorável ao minério de ferro na China, em baixa de 1,7% em Dalian.

Assim como Vale, Itaú, que divulga balanço após o fechamento, também oscilou para baixo, contribuindo para tirar força do Ibovespa na etapa vespertina, com a ação PN do banco em retração moderada a 0,30% no fechamento, na contramão dos papéis do setor financeiro nesta terça, em que o destaque, entre as maiores instituições, foi o Banco do Brasil (ON +0,86%).

Em dia de agenda macro relativamente esvaziada, destaque para a retração de 0,4% da produção industrial em setembro, na margem, conforme dados divulgados de manhã pelo IBGE, na véspera da deliberação do Comitê de Política Monetária (Copom) sobre a Selic, que deve ser mantida em 15% ao ano, amanhã. A expectativa para o fim da reunião desta quarta-feira se volta para o comunicado, na medida em que o mercado aguarda para o primeiro trimestre de 2026 o início do processo de redução da taxa básica de juros – que pode sofrer atraso, possivelmente para abril.

Para Antonio Ricciardi, economista do Daycoval, a leitura sobre a produção industrial veio praticamente em linha com o esperado para o mês, confirmando a desaceleração de ritmo em relação ao observado no fim do segundo trimestre. No terceiro trimestre, apenas bens intermediários conservam variação positiva na comparação interanual, com a abertura de dados da indústria confirmando a percepção sobre os efeitos da política monetária ainda restritiva.

“As aberturas têm mostrado enfraquecimento, e o viés tende a se manter dessa forma, na medida em que o segmento de bens intermediários é especialmente sensível ao tarifaço dos Estados Unidos”, acrescenta o economista, observando, também, que em 2024 a produção industrial teve desempenho de destaque na composição da alta do PIB no ano. “A indústria deve desacelerar de forma ainda mais acentuada no trimestre seguinte outubro-dezembro de 2025.”

“Ibovespa teve um dia bem volátil, com o mercado ansioso pelo comunicado do Copom, nesta quarta, 05, do qual se espera tom mais dovish suave do BC, uma vez que o comitê foi bem agressivo nos comunicados das manutenções de juros anteriores, mostrando uma postura mais rígida em relação a corte de juros”, diz Leonardo Santana, especialista em investimentos e sócio da casa de análise Top Gain. “A Bolsa está em 150 mil pontos com a taxa de juros a 15%. Quando os juros caírem aqui, é possível, sim, mais alta no Ibovespa.”

Dólar

O dólar exibiu alta firme nesta terça-feira, 4, alinhado ao comportamento da moeda americana no exterior. Investidores adotaram uma postura avessa ao risco, em meio a dúvidas sobre a extensão do afrouxamento monetário pelo Federal Reserve, além de temores de uma correção mais forte das bolsas em Nova York. O real, que costuma sofrer mais em dias de perdas de divisas emergentes, hoje caiu menos que seus principais pares, como o peso mexicano e o rand sul-africano.

A perspectiva de que o Comitê de Política Monetária (Copom) anuncie nesta quarta-feira, 05, a manutenção da taxa Selic em 15% ao ano com um comunicado duro, desautorizando apostas de cortes de juros ainda neste ano, tende a amenizar as pressões sobre a moeda brasileira vindas tanto do mercado global quanto do aumento sazonal de remessas ao exterior.

Com máxima a R$ 5,4017, à tarde, o dólar à vista encerrou a sessão em alta de 0,77%, a R$ 5,3989 – maior valor de fechamento em 10 dias. Depois de ganho de 1,08% em setembro, a moeda avança 0,35% nos dois primeiros pregões de outubro. No ano, as perdas são de 12,64%, o que faz o real liderar os ganhos entre divisas latino-americanas no período.

“Estamos vendo hoje um movimento global. Todas as moedas estão se desvalorizando frente ao dólar, com os investidores buscando ativos mais seguros, como os títulos do Tesouro americano”, afirma João Soares, sócio-fundador da Rio Negro Investimentos. “Essa busca por proteção vem no momento em que se avalia a magnitude e a velocidade dos cortes de juros nos EUA daqui para frente, após dois cortes seguidos de 25 pontos base”.

Termômetro do comportamento do dólar em relação a uma cesta de seis moedas fortes, o índice DXY superou a marca dos 100,000 pontos pela primeira vez desde o início de agosto. A libra tocou o menor valor desde abril com temores fiscais no Reino Unido. A exceção foi o iene, com ganhos de cerca de 0,30% na comparação com a moeda americana. Petróleo e commodities metálicas caíram.

Nos últimos dias, dirigentes do Fed expressaram visões distintas sobre a possibilidade de novo corte de juros neste ano, espelhando as divergências que existem dentro do comitê de política monetária (FOMC, na sigla em inglês) do BC americano. Na última quarta-feira, em entrevista coletiva, o chairman Jerome Powell ressaltou que não há garantia de uma redução de juros em dezembro.

O apagão de dados com a paralisação parcial (shutdown) do governo dos EUA, que já ultrapassa 30 dias, turva ainda mais o cenário econômico e aumenta a percepção de risco. Pela manhã, o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, disse que os impactos do shutdown na economia já começam a ser percebidos.

“O mercado reflete as dúvidas sobre os próximos passos do Fed, porque o tom do Powell na semana passada foi muito duro. Existe agora a possibilidade de que o Fed faça uma pausa no processo de corte de juros, o que diminui um pouco a atratividade dos ativos de risco e deixa o dólar mais forte”, afirma a economista-chefe do Ouribank, Cristiane Quartaroli.

Mesmo sem novo corte de juros pelo BC americano neste ano, a perspectiva é de manutenção de amplo diferencial entre juros interno e externo com a aposta de que o Copom vai iniciar um ciclo de afrouxamento monetário apenas em 2026, apesar da desaceleração da inflação corrente e da melhora das expectativas. Entre 65 instituições consultadas pelo Projeções Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado na manhã desta terça, 29 instituições apostam em corte de juros em janeiro.

Juros

Em um movimento visto por agentes mais como reflexo do aumento da aversão ao risco no ambiente global do que de questões fiscais domésticas, a curva a termo ganhou tímida inclinação no pregão desta terça-feira, com alta maior nos vértices mais distantes e declínio nos vencimentos de curto prazo.

Encerrados os negócios, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2027 cedeu de 13,887% no ajuste anterior para 13,870%. O DI para janeiro de 2029 oscilou de 13,1% no ajuste de segunda-feira a 13,120%. Na parte mais longa da curva, que chegou a bater máxima intradia de 13,46%, a taxa projetada para janeiro de 2031 terminou a sessão em 13,435%, de 13,39% no ajuste.

Segundo operadores, a abertura das taxas longas foi contaminada principalmente pelo fortalecimento global do dólar, na esteira de alerta feito por instituições de peso sobre uma provável perda de tração das Bolsas americanas à frente, especialmente em ações de tecnologia. O comportamento dos Treasuries, cujos rendimentos recuaram, por outro lado, ajudou a conter a elevação dos DIs.

Às vésperas da decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) que deve manter a Selic nos atuais 15%, o recuo de 0,4% da produção industrial entre agosto e setembro, feitos os ajustes sazonais, veio exatamente alinhado à mediana do Projeções Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado e confirmou o ritmo gradual de desaquecimento da atividade, sem surtir efeito relevante sobre a curva futura.

“Acredito que boa parte da alta dos DIs mais longos hoje reflete a piora do cenário global”, afirmou o economista de uma grande tesouraria à Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado. “Houve um movimento de ‘risk-off’ no mundo, com depreciação de todas as moedas e o índice SP&500 caindo bastante”, apontou.

Economista-chefe e fundadora da consultoria Buysidebrazil, Andrea Damico concorda que a dinâmica dos ativos no pregão desta terça pode ser considerada um risk-off “clássico”, com fuga dos investidores para a divisa americana, perda nos índices acionários dos Estados Unidos e dos rendimentos dos títulos soberanos do país.

“Tivemos um dia de dólar mais forte, queda da Bolsa e os Treasuries sendo vistos como porto-seguro”, disse. O rendimento menor dos títulos públicos dos EUA poderia fornecer alívio à curva local, pontua Damico, mas, em sua visão, a depreciação do real teve impacto preponderante sobre os DIs. “Somos um país de risco, por isso os DIs sofreram um pouco hoje (terça-feira, 04)”.

Nesta terça, os CEOs da Capital Group, do Goldman Sachs e do Morgan Stanley advertiram, em reportagem da agência Bloomberg, que investidores devem se preparar para um tombo de até 15% no mercado acionário americano nos próximos um a dois anos, em um eventual ajuste que seria “saudável”.

Por aqui, a redução de 0,4% da atividade industrial em setembro ante agosto, publicada hoje pelo IBGE, endossou a percepção de que a atividade perde ímpeto em velocidade em linha com a prevista pelo mercado e pelo Banco Central, avalia Damico. Entre o segundo e o terceiro trimestres, a produção da indústria ficou praticamente estável, com expansão de 0,1% na comparação dessazonalizada.

No cenário fiscal, o presidente da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, Renan Calheiros (MDB-AL), anunciou nesta terça que o Projeto de Lei (PL) 5.473/2025, que aumenta a tributação de bets e fintechs, vai ser apreciado pela comissão amanhã. Também fica para esta quarta a votação do projeto que amplia a isenção do Imposto de Renda (IR) para aqueles que ganham até R$ 5 mil. Calheiros manteve os principais pontos do texto e as alterações feitas por seu adversário Arthur Lira (PP-AL). “Não acho que essa questão do IR tenha feito preço hoje”, frisa a economista da BuysideBrazil.

Estadão Conteudo

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