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Ibovespa interrompe série negativa com alta de 0,65%; dólar inverte sinal e cai a R$ 5,6629

O Ibovespa interrompeu nesta quinta-feira, 24, série de cinco perdas ao subir 0,65% e retomar a linha de 130 mil pontos, aos 130.066,95 pontos, com apoio das principais blue chips ao longo da tarde, em sessão na qual o suporte ao índice foi favorecido por retração na curva do DI e também no câmbio, ainda que em nível alto. Assim, oscilou dos 128.798,26 aos 130.129,98 pontos, na máxima do fim da tarde, saindo de abertura aos 129.233,11. O giro financeiro ficou em R$ 18,3 bilhões na sessão. Na semana, o Ibovespa ainda recua 0,33% e, no mês, cede 1,33%, com perda no ano a 3,07%.

Na B3, as ações de grandes bancos deram apoio ao Ibovespa nesta quinta-feira, com ganho até 0,90% (Itaú PN) no fechamento. A tarde foi positiva também para Vale (ON +0,59%, na máxima do dia no encerramento) e para Petrobras (ON +0,33%, PN +0,67%). Destaque no fechamento para Lojas Renner (+4,84%), CVC (+4,76%) e Cogna (+4,23%). No lado oposto, IRB (-7,32%), Pão de Açúcar (-2,71%) e Braskem (-1,69%).

“Estava com jeito de que seria mais um dia negativo para a Bolsa, mas as declarações de integrantes do governo acabaram contribuindo para a virada, com menções a endereçamento das questões fiscais por meio de medidas ainda este ano. E o ministro Fernando Haddad Fazenda reiterou que não há reformulação do arcabouço, mas sim reforço, o que agradou ao mercado, contribuindo para o fechamento observado na curva de juros na sessão, acompanhando também o comportamento dos Treasuries”, diz Larissa Quaresma, analista da Empiricus Research, destacando ainda a retração do câmbio nesta quinta-feira, com o dólar à vista em baixa de 0,53%, a R$ 5,6629, no fechamento.

O efeito da curva de juros se propagou em especial às ações com exposição ao ciclo doméstico, como as de varejo, sensíveis a juros, aponta a analista. Dessa forma, o índice de consumo (ICON) mostrava alta de 1,30% no fechamento, bem à frente do desempenho dos materiais básicos (IMAT +0,13%), os quais são mais correlacionados a preços e demanda externa.

“É preciso ver se o discurso sobre responsabilidade fiscal permanecerá e continuará a convencer”, diz Larissa. De fato, o mercado tem tomado a atitude de esperar para ver as medidas que eventualmente emergirão, no aguardado sentido de cortes de gastos. Mas, hoje, Haddad fez preço, positivamente.

E as declarações do ministro vieram em dia de divulgação do IPCA-15, prévia da inflação oficial de outubro: leitura que se mostrou um pouco mais pressionada. Helena Veronese, economista-chefe da B.Side Investimentos, observa que o IPCA-15 referente a outubro foi a 0,54%, acima da mediana das expectativas e também no maior nível para o mês desde 2021.

“A inflação de outubro foi fortemente impactada por condições climáticas mais severas. A falta de chuvas fez com que a Aneel acionasse a bandeira tarifária mais cara, e também prejudicou lavouras e pastos – o que já se reflete nos preços de carnes”, diz a economista, acrescentando que o efeito de outubro levou o acumulado em 12 meses ao maior nível desde fevereiro.

“Outro ponto de alerta veio nas principais medidas de núcleos, em serviços e bens industriais: todos esses grupos apresentaram aceleração na margem, enquanto no acumulado em 12 meses apenas os serviços arrefeceram”, aponta Helena. “A despeito de a inflação de outubro ter sido em grande parte impactada pelas condições climáticas, houve, sim, uma composição qualitativa pior do que a que vinha sendo observada nos meses anteriores”, enfatiza.

Dólar

O dólar renovou mínima intradia a R$ 5,66 perto do fechamento e passou a ceder ante o real no período da tarde. Operadores mencionam que o mercado embute maior chance de que o governo anuncie medidas de contenção de despesas após as eleições municipais, marcadas para este fim de semana, após coletiva conjunta do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, no G20 reforçar o arcabouço fiscal e mencionar que os preços de mercado “estão exagerados”.

O câmbio também teve apoio do exterior, em que a divisa americana cedeu tanto ante pares fortes quanto em relação à maioria das moedas emergentes e exportadoras de commodities. No segmento à vista, o dólar fechou em queda de 0,53%, a R$ 5,6629. Às 17h20, o contrato para novembro registrava queda de 0,39%, a R$ 5,6680. O DXY, que mede o dólar ante uma cesta de moedas fortes fechou em queda de 0,36%, aos 104,058 pontos.

Depois de subir por toda a manhã, o dólar inverteu o sinal à tarde após coletiva de Haddad com Campos Neto que, segundo o analista e sócio da Ajax Asset, Rafael Passos, “foi positiva por ter tido um discurso um pouco mais proativo em relação ao fiscal”.

O diretor de câmbio da corretora Ourominas, Elson Gusmão, destaca principalmente as declarações de Haddad. O ministro afirmou, por exemplo, que o arcabouço fiscal brasileiro não precisa ser reformulado, mas reforçado, além de ter dito que o plano de corte de gastos é parte de questões estruturais do Brasil e não tem relação específica com um ou outro ministério.

Gusmão diz ainda que “depois das eleições municipais nesse fim de semana, a tendência é que o governo comece a elencar medidas em relação à contenção de despesas, e o dólar pode recuar um pouquinho mais”.

Na mesma linha, o economista-chefe da Monte Bravo, Luciano Costa, afirma que o mercado vem aumentando a expectativa de que a Fazenda avance na proposta para cortar gastos. “Reuniões neste sentido devem ocorrer na semana que vem após as eleições municipais, então a possibilidade de uma sinalização de maior sincronização entre corte de despesas e aumento de arrecadação está aumentando”, avalia.

Pela manhã, o câmbio era pressionado por uma maior cautela fiscal e pela desancoragem das expectativas de inflação, reforçada pelo avanço de 0,54% do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo – 15 (IPCA-15) em outubro, acima da mediana do Projeções Broadcast, de 0,51%. Na primeira etapa do pregão, o dólar também ganhava terreno em relação a outras divisas emergentes ligadas a commodities, em meio à perda de força do petróleo e no contexto de preocupações com as eleições nos EUA.

Juros

Os juros futuros tiveram uma guinada no período da tarde, quando inverteram o sinal de alta para a queda, que chegava a 25 pontos-base em boa parte dos principais contratos no fim do dia. Não houve um gatilho único a disparar o movimento de correção, mas sim um conjunto de falas do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, além de maior alívio na curva dos Treasuries. A fotografia da tarde contrastava com a da manhã, quando o IPCA-15 acima da mediana das expectativas e com leitura negativa dos preços de abertura pressionava as taxas para cima, rompendo os 13% nos vencimentos intermediários e longos.

No fechamento a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2026 caía a 12,59%, de 12,76% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2027 cedia a 12,695%, de 12,95%. O DI para janeiro de 2029 tinha taxa de 12,680% (na mínima, de 12,97% ontem).

O mercado absorveu o impacto do IPCA-15 de outubro acima do esperado já no fim da manhã, quando o sinal de alta começou a perder fôlego, levando as taxas para perto da estabilidade. A partir das 14h, passaram a cair e a renovar mínimas em sequência, de olho nas falas de autoridades.

Profissionais nas mesas de renda fixa destacaram, na fala de Campos Neto, a menção a um certo excesso do mercado na precificação dos ativos. Ele disse que a autoridade monetária não trabalha apenas com o termômetro do que está precificado e que os preços de mercado “estão exagerados”. “Olhamos tudo, as reuniões do BC são baseadas em critérios técnicos”, afirmou em coletiva conjunta com o ministro Fernando Haddad, sobre o G20.

Além disso, reforçou a visão não fornecer um guidance para as próximas decisões do Banco Central e comentou sobre o aumento do prêmio de risco nas taxas longas de juros. “Temos endereçado isso”, disse Campos Neto, que também frisou que aguarda pelos anúncios do Ministério da Fazenda para endereçar a dinâmica fiscal no País.

Sobre isso, Haddad, também em Washington, disse que afirmou que o plano de corte de gastos é parte de questões estruturais do Brasil e não tem relação específica com um ou outro ministério. Ontem, o Broadcast mostrou que resistências internas nos ministérios devem tornar mais desafiador o trabalho da equipe econômica para cortar gastos. “O reforço do arcabouço é uma questão estrutural, é diferente de fazer bloqueio e contingenciamento, que são momentâneos para fazer com que a lei aprovada pelo nosso governo seja respeitada”, explicou.

Na curva a termo, a precificação de Selic para o Copom de novembro era de 53 pontos nesta tarde, ou seja, 88% de chance de alta de 50 pontos, enquanto a probabilidade de avanço de 75 pontos, que na semana passada chegou a ser de 30%, era de 12%. A curva projeta Selic de 13,35% – ou seja, entre 13,25% e 13,50% – no fim do ciclo.

No exterior, os yields dos Treasuries recuaram, em movimento de realização, ajudando a curva local a devolver prêmios.

Pela manhã, o mercado reagiu mal ao IPCA-15 de outubro. A taxa de 0,54%, ante 0,13% em setembro, veio mais alta do que apontava a mediana das estimativas, de 0,51%. Além disso, a leitura qualitativa foi ruim, com núcleos pressionados e aumento do índice de difusão, em boa medida puxado pela inflação de alimentos. Analistas afirmam que há evidências da desvalorização cambial na inflação de bens industriais, enquanto questões climáticas pesaram nos preços de energia e alimentação. Porém, a intensificação das chuvas nas últimas semanas traz algum alívio para o curto prazo.

Estadão Conteudo

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