Abaixo dos 140 mil pontos, o Ibovespa emendou nesta quarta-feira, 3, um terceiro dia negativo desde que renovou recordes na última sexta-feira, tanto no intradia como no fechamento. Entre a mínima e a máxima da sessão, o índice da B3 oscilou dos 139.581,88 aos 140.495,88 pontos, saindo de abertura aos 140.331,63 pontos. Ao fim, marcava perda de 0,34%, aos 139.863,63 pontos, com giro financeiro moderado a R$ 17,5 bilhões. Na semana e no mês, o Ibovespa recua 1,10% e, no ano, sobe 16,28%.
Entre as ações de primeira linha, de maior liquidez, destaque apenas para Vale (ON +0,38%), com Petrobras (ON -1,06%, PN -0,86%) firme no campo negativo, ainda que em ajuste inferior ao do Brent na sessão, em baixa de 2,23% no fechamento de Londres. Entre os grandes bancos, apenas Bradesco ON conseguiu evitar o ajuste negativo no encerramento da B3, em leve alta de 0,14%. Na ponta ganhadora do Ibovespa, destaque para Cosan (+8,00%), Raízen (+4,96%) e Pão de Açúcar (+2,93%). No lado oposto, Brava (-2,97%), IRB (-2,24%) e Ambev (-2,14%).
“Um dia de noticiário mais esvaziado, que favoreceu um ajuste de posições especialmente em setores como o de petróleo, em realização mais forte na sessão com o petróleo em baixa. Houve dados de emprego nos Estados Unidos relatório Jolts, mas a expectativa está voltada para o payroll desta sexta-feira referente à geração de vagas de trabalho nos EUA em agosto. Assim, um dia mais amarrado, com liquidez mais fraca também”, diz Rodrigo Moliterno, head de renda variável da Veedha Investimentos.
“O dia começou sem direção muito definida para o Ibovespa, mas logo se firmou em baixa com a queda na produção industrial doméstica, conforme dados do IBGE”, diz Gustavo Trotta, sócio da Valor Investimentos, em referência à retração de 0,2% em julho. “O mercado também segue atento ao julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro e, na sexta-feira, o payroll tende a movimentar muito o mercado de juros americano”, acrescenta o especialista.
Para Pedro Moreira, sócio da One Investimentos, o recuo da produção industrial era algo esperado, enquanto o PMI de serviços, ainda abaixo de 50 em agosto, confirma o viés de desaceleração da atividade econômica no curto prazo, mas não o suficiente para colocar em risco ou dúvida as projeções de crescimento do PIB para o ano de 2025 ou mesmo para o de 2026. “Bolsa seguiu em leve correção como nos dias anteriores, sem grande impacto dos dados econômicos, dando prosseguimento ao ajuste sobre uma semana passada muito positiva em fluxo e desempenho para o Ibovespa”, acrescenta.
Lá fora, a leitura abaixo do esperado sobre o número de vagas de trabalho em aberto nos EUA em julho conforme o relatório Jolts – uma métrica sobre o giro de mão de obra acompanhada de perto pelo Federal Reserve – resultou em aumento da precificação de corte de juros pelo BC dos EUA em setembro, o que deu algum suporte aos mercados acionários de Nova York na sessão, com destaque para o Nasdaq, o índice de tecnologia, em alta de 1,02% no fechamento.
“O payroll deve confirmar o cenário de mercado de trabalho mais fraco nos Estados Unidos. Isso consolidaria a necessidade de corte de juros pelo Fed em setembro, o que pode gerar maiores oscilações nos próximos dias”, diz Marcelo Bolzan, sócio da The Hill Capital.
Dólar
Após três pregões de alta, em que acumulou valorização de 1,27%, o dólar recuou na sessão desta quarta-feira, 3, mas ainda se manteve acima da linha de R$ 5,45 no fechamento. O real pegou carona na onda global de baixa da moeda americana, após dados mais fracos do mercado de trabalho nos EUA e declarações de dirigentes do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano).
As taxas dos Treasuries, que na terça avançaram com o estresse no mercado de dívidas que atingiu principalmente Reino Unido e França, recuaram hoje, abrindo espaço para a recuperação da maioria das divisas emergentes.
Temores de retaliação dos EUA em caso de condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) por tentativa de golpe de Estado seguem no radar e podem ter impedido um movimento mais forte de apreciação do real. A defesa do ex-presidente disse hoje que o Supremo Tribunal Federal (STF) não pode fazer julgamento político e defendeu a inocência de Bolsonaro.
Com mínima de R$ 5,4345 pela manhã, o dólar à vista encerrou o pregão em alta de 0,40%, cotado a R$ 5,4529. Depois de cair 3,19% em agosto, a moeda sobe 0,57% nas três primeiras sessões de setembro. No ano, recua 11,77%.
“O dólar abriu muito colado com o comportamento da moeda americana em relação a outras divisas após dados mais fracos nos EUA, em ambiente de queda das taxas dos Treasuries”, afirma Marcos Weigt, head da Tesouraria do Travelex Bank.
Weigt ressalta que é difícil imaginar um movimento mais forte de apreciação do real, mesmo se o Fed promover uma redução de juros em setembro, como amplamente esperado pelos investidores.
“Não sei se o Fed vai cortar agora, mas se cortar já está no preço”, afirma o tesoureiro. “É difícil o dólar cair ainda mais mesmo com todo o ‘carrego’ porque o fluxo tende a ser mais negativo no fim do ano.”
À tarde, o Banco Central informou que o fluxo cambial foi negativo em US$ 230 milhões na semana passada. Com isso, o saldo em agosto ficou negativo em US$ 2,063 bilhões, resultado da saída líquida de US$ 3,823 bilhões pelo canal financeiro. No ano, o fluxo cambial total está negativo em US$ 16,904 bilhões.
No exterior, o Dollar Index – que mede o comportamento do dólar em relação a uma cesta de seis divisas fortes – recuava cerca de 0,20% no fim da tarde, na casa dos 98,200 pontos, após mínima aos 98,014 pontos. As taxas dos Treasuries de dez e 30 anos caíram mais de 1%.
O relatório Jolts mostrou abertura de 7,181 milhões de postos de trabalho nos EUA em julho, abaixo das projeções dos analistas, de 7,357 milhões. O resultado aumenta as expectativas para o relatório de emprego (payroll) de agosto, que sai na sexta-feira, 5.
Pela manhã, o diretor do Fed Christopher Waller defendeu corte de juros neste mês e disse ver espaço para múltiplas reduções nos próximos meses. Waller votou pela redução da taxa de 25 pontos-base em julho, quando as taxas foram mantidas.
À tarde, presidentes regionais do BC americano, como Raphael Bostic (Atlanta) e Neel Kashkari (Minneapolis), adotaram tom mais cauteloso, alertando para o repique inflacionário das tarifas, mas não tiraram da mesa a ideia de afrouxamento monetário.
Para a economista-chefe do Ouribank, Cristiane Quartaroli, os números do relatório Jolts reforçam a expectativa de que o Fed possa começar a cortar juros neste mês. Ela ressalta, contudo, que há preocupações ainda com a inflação americana, como ficou patente na divulgação à tarde do Livro Bege, relatório publicado pelo Fed sobre as condições econômicas.
“Pela manhã, a gente viu uma queda mais expressiva do dólar, muito por conta da declarações do diretor do Fed, que defendeu juros mais baixos. Houve uma moderação dessa queda à tarde, em parte por conta do livro Bege”, afirma Quartaroli.
Juros
A dinâmica benigna do exterior, após a firme deterioração observada nos mercados globais de renda fixa ontem, acabou prevalecendo sobre a curva de juros futuros doméstica no pregão desta quarta-feira. As taxas longas iniciaram a tarde em viés de elevação, depois de leilão extraordinário realizado no fim da manhã pelo Tesouro Nacional que colocou no mercado todas as 4,5 milhões de NTN-B ofertadas. O estresse, no entanto, teve curta duração, e os DIS andaram praticamente de lado no restante da sessão.
No fechamento, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2027 oscilou de 13,987% no ajuste anterior a 13,995%. O DI para janeiro de 2028 passou de 13,341% no ajuste a 13,35%. O DI para janeiro de 2029 subiu de 13,322% no ajuste de ontem para 13,33%. O DI para janeiro de 2031 marcou 13,66%, de 13,659% no ajuste antecedente.
Nesta tarde, o presidente do Federal Reserve (Fed) de Atlanta, Raphael Bostic, afirmou que a política monetária tem hoje postura “marginalmente restritiva” e sinalizou que pode haver alguma flexibilização, provavelmente de 0,25 ponto porcentual, ao longo do ano. Já o presidente da distrital de Minneapolis, Neel Kashkari, disse que as taxas de juros no país têm espaço para cair de forma lenta nos próximos anos.
Também reforçando a percepção de que uma redução dos Fed Funds se aproxima, o relatório Jolts, publicado hoje pelo Departamento do Trabalho dos EUA, indicou que abertura de postos de trabalho na economia americana caiu para 7,181 milhões em julho, ante previsão de 7,373 milhões dos analistas consultados pela FactSet. O dado de junho foi revisado para baixo, de 7,437 milhões para 7,357 milhões de vagas.
Segundo Ian Lima, gestor de renda fixa da Inter Asset, o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no Supremo Tribunal Federal (STF), que hoje teve sua segunda sessão, pode ter pressionado um pouco as taxas futuras nesta quarta. Mas houve um movimento generalizado de fechamento de curvas a termo hoje ao redor do mundo, o que acabou tendo mais peso sobre os DIs, avalia.
“Essa tendência foi capitaneada pelo dado mais fraco do mercado de trabalho americano, que jogou o juro global para baixo”, disse Lima. Ao mesmo tempo, os títulos soberanos da França e do Reino Unido, que tiveram uma escalada nesta terça-feira devido a preocupações fiscais sobre os dois países, hoje mostraram correção expressiva.
Por aqui, o IBGE divulgou o resultado da produção industrial de julho, que recuou 0,2% em relação a junho, feitos os ajustes sazonais – praticamente em linha com a mediana de estimativas do Projeções Broadcast, que apontava retração de 0,3%. O número anterior foi revisto ligeiramente para baixo, de alta de 0,1% para variação nula. “O ambiente restritivo e juros está impactando a atividade, em linha com o que esperamos para os dados que compõem o terceiro trimestre”, diz Lima.
Para o chefe de economia no Brasil e estratégia para América Latina do Bank of America (BofA), David Beker, “os astros estão se alinhando” para o Banco Central iniciar o aguardado o ciclo de corte de juros ainda neste ano. Além da perda de tração apontada pelo PIB do segundo trimestre, Beker mencionou a queda da inflação corrente e das expectativas para os próximos dois anos, em paralelo à tendência de dólar fraco em meio a incertezas relacionadas às tarifas e rumos fiscais nos EUA.
No cenário do BofA, a Selic será reduzida em 0,5 ponto porcentual na reunião de dezembro do Comitê de Política Monetária (Copom), a 14,5%, recuando para 11,25% e 10,5% em 2026 e 2027, respectivamente.