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Ibovespa é contaminado por mau humor externo e pela queda de 2% da Vale; dólar volta a cair

A bolsa brasileira cedeu menos que os índices de Nova York, mas foi contaminada pelo mau humor externo, que se acentuou no período da tarde após o presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), Jerome Powell, reconhecer que a política tarifária dos Estados Unidos pode gerar inflação e desaceleração econômica. Investidores também digerem, desde cedo, as restrições a exportações de chips à China impostas por Donald Trump, em mais um sinal de escalada da guerra comercial. No cenário corporativo, Vale cedeu 2% após reportar produção abaixo do esperado no primeiro trimestre de 2025, em dia de queda moderada do minério de ferro.

O Ibovespa fechou o dia em queda de 0,72%, aos 128.316,89 pontos, perto da mínima (-0,85%) de 128.149,10 pontos. O giro financeiro somou R$ 25,1 bilhões.

O mercado amanheceu com um alerta da Nvidia sobre restrição do governo dos EUA à exportação de seus chips AI H20 para a China. Segundo o especialista em mercado de capitais e sócio da AVG Capital, Lucas Almeida, a medida pode gerar um prejuízo estimado de até US$ 5,5 bilhões e reacende o temor de uma guerra comercial prolongada, o que contaminou todo o setor de tecnologia nos EUA e aumentou a aversão a risco global.

Há receio de que a restrição seja delegada para outros setores no futuro, acrescenta o operador de renda variável da Manchester Investimentos Rubens Cittadin. “Os microchips são componentes essenciais para toda a cadeia produtiva americana, então há dúvida se essa restrição não pode ser estendida para outras áreas futuramente.”

Além de restrições às exportações de chips, Trump afirmou que, caso a China tome novas medidas retaliatórias, terá que pagar tarifas de até 245% para exportar aos EUA, sendo que hoje a taxa vai até 145%.

O sentimento externo negativo – visto principalmente na queda de 3% do Nasdaq, pressionado pelo tombo de 6,8% da Nvidia – piorou ainda mais após Powell afirmar que as tarifas de Trump têm grande probabilidade de gerar pelo menos um aumento temporário na inflação. O presidente do Fed disse também que os mercados estão com dificuldade para lidar com tanta incerteza, relacionada a tarifas, o que se traduz em volatilidade.

“Antes Powell dizia que não via possibilidade de recessão, mas de 15 dias para cá acabou mudando o discurso”, nota Bruna Centeno, economista, sócia e advisor na Blue3 Investimentos.

A maior pressão sobre a carteira teórica do Ibovespa ficou para Vale (-2,32%), que divulgou uma produção de minério de ferro abaixo do esperado nas prévias operacionais do primeiro trimestre, de modo que nem o PIB da China acima do esperado no primeiro trimestre tenha amparado uma alta na ação ou na commodity nesta terça-feira.

Dólar

O acirramento da guerra comercial entre Estados Unidos e China voltou a afastar investidores de ativos norte-americanos, levando a uma nova rodada de queda global do dólar. O real apresentou desempenho inferior a de seus principais pares, à exceção do peso chileno, o que pode refletir tanto questões técnicas quanto ruídos fiscais com divulgação na terça-feira do Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO).

Com máxima a R$ 5,9158 e mínima a R$ 5,8525, o dólar à vista encerrou a sessão desta quarta-feira, 16, em baixa de 0,42%, cotado a R$ 5,8650. Em abril, a moeda apresenta valorização de 2,80% em relação ao real. No ano, as perdas, que já chegaram a superar 8%, são agora de 5,10%.

Na queda de braço entre Estados Unidos e China, o governo americano impôs nesta terça à noite restrições para vendas de chips da empresas de tecnologia Nvidia e da AMD para os chineses, derrubando as bolsas em Nova York. A medida vem depois de a China proibir a entrega de jatos da Boeing a companhias áreas do país.

No meio da escalada das tensões comerciais, veio uma nota positiva para a economia global. O PIB da China surpreendeu no primeiro trimestre, ao crescer 5,4% na comparação anual, acima das expectativas de economistas (5,1%).

A economista-chefe do Ouribank, Cristiane Quartaroli, vê o movimento da taxa de câmbio nesta quarta muito ligado ao ambiente externo, uma vez que outras divisas emergentes, inclusive as latino-americanas, também estão se apreciaram em relação ao dólar.

“O crescimento da China favoreceu essa melhora do apetite por essas divisas. A fraqueza do dólar lá fora também está ligada a esse modelo mais agressivo de negociação do presidente dos EUA com a China”, afirma Quartaroli, para quem a questão fiscal, com “desconforto” em relação aos números do PLDO “teve menos impacto” que a questão externa no câmbio.

Termômetro do comportamento do dólar em relação a uma cesta de seis divisas fortes, o índice DXY voltou a furar o piso dos 100,000 pontos, com mínima aos 99,174 pontos à tarde, em linha com as mínimas das taxas dos Treasuries, após fala do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell. Franco suíço, visto como porto seguro, subiu mais de 1%.

Indicadores econômicos dos EUA divulgados nesta quarta – como o crescimento além do esperado das vendas do varejo em março – mostram que a economia americana segue saudável, mas as expectativas de crescimento e inflação pioram em razão do tarifaço.

Em discurso à tarde, Powell observou que o nível das tarifas já anunciadas é “significativamente maior do que o previsto”, o que deve se traduzir em inflação mais alta e crescimento mais lento. Powell acredita que haverá um repique transitório da inflação, mas ressaltou que os efeitos do choque tarifário nos preços podem ser mais persistentes.

O time de economistas do Itaú, comandado pelo ex-diretor do Banco Central Mario Mesquita, observa que o comportamento do real tem sido ditado “majoritariamente” pelos movimentos de aumento ou diminuição da aversão ao risco no exterior em meio ao desenrolar da guerra comercial.

Para o banco, em caso de uma desaceleração da economia americana que não resulte em recessão global, é “razoável” esperar enfraquecimento global do dólar e, por tabela, apreciação do real, “especialmente considerando o diferencial de juros elevado”. Já uma escalada da guerra comercial que provoque uma retração da atividade mundial aumentaria a aversão ao risco, resultando em uma taxa de câmbio mais depreciada.

“Diante da incerteza elevada, mantivemos a nossa projeção de taxa de câmbio em R$ 5,75 para 2025 e 2026”, afirmam os economistas do Itaú.

O BC informou nesta quarta que o fluxo cambial na semana passada (de 7 a 11 de abril) foi negativo em US$ 235 milhões, em razão da saída líquida de US$ 3,152 bilhões pelo canal financeiro. Em abril, até dia 11, o fluxo total ainda é positivo em US$ 2,669 bilhões, graças ao saldo positivo de US$ 4,705 bilhões no comércio exterior.

“O câmbio doméstico voltou a colar na dinâmica do dólar no exterior. Vejo um piso de R$ 5,82 no curtíssimo prazo”, afirma o economista-chefe da Equador Investimentos, Eduardo Velho, acrescentando que houve melhora do superávit comercial. “Mercado já precifica na curva de juros Selic em 15%. Nesse nível, o impacto predominante sobre o dólar depende mais do cenário externo e do fluxo cambial.”

Juros

Os juros futuros fecharam a quarta-feira, 16 com viés de queda, estabelecido partir do meio da tarde, diante da aceleração de baixa dos rendimentos dos Treasuries conforme foi piorando o sentimento do investidor com relação à economia dos EUA.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2026 fechou em 14,740%, de 14,732% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2027 caiu de 14,25% para 14,235%. O DI para janeiro de 2028 tinha taxa de 14,020% (de 14,05%) e a do DI para janeiro de 2029, de 14,125%, ante 14,14%.

Em geral, a movimentação das taxas foi errática, sem firmar tendência, em sessão de giro bastante abaixo da média padrão. “A semana é de agenda fraca e os feriados retraem um pouco o volume”, explica o economista-chefe do Banco Bmg, Flávio Serrano.

As novidades vindas da guerra comercial continuaram penalizando as bolsas e tumultuando o segmento de Treasuries, mas com pouca força para mobilizar o mercado local. A partir do meio da tarde, os retornos dos títulos do Tesouro norte-americano aceleraram o recuo para as mínimas, o que levou as taxas a se firmarem em queda moderada. A curva americana reagia a declarações do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell. Ele ressaltou que o ambiente das tarifas ainda é incerto, mas reconheceu que podem ocorrer efeitos inflacionários e de desaceleração da economia americana.

Mais cedo, as taxas até chegaram a subir, mas em tentativa de correção limitada pela percepção de que o ambiente externo é desinflacionário para o Brasil, via commodities. O Itaú informou hoje que revisou de 5,7% para 5,5% sua projeção de IPCA para este ano, incorporando expectativa de redução no preço da gasolina e nas matérias-primas metálicas, com efeitos nos bens industriais. A instituição também reduziu sua expectativa de IPCA para 2026, de 4,5% para 4,4%.

A ponta longa da curva mostrou certa rigidez aos eventos externos, com o quadro fiscal no radar. O PLDO não chegou a provocar grande reação, mas de todo modo trouxe premissas que são consideradas pouco críveis. “Não trouxe impacto nos ativos porque não havia expectativa de que fosse diferente”, explica o sócio e economista-chefe da Lev Asset Management (LAM), Jason Vieira, destacando especialmente as receitas, que segundo ele estão superestimadas. A proposta apresentada prevê que em 2026 o governo registrará uma receita primária líquida de R$ 2,577 trilhões.

“A maior dúvida para a gente agora entender é a projeção de receita”, afirmou ao Broadcast, o ex-secretário do Tesouro Nacional e atual CEO do Bradesco Asset Management, Bruno Funchal, ressaltando a falta clareza sobre de onde virão os recursos, que estão acima da expectativa da Bradesco Asset.

Estadão Conteudo

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