Após o leve rebote da terça-feira – que interrompeu sequência de quatro perdas -, o Ibovespa voltou a recuar nesta quarta-feira, 4, em baixa de 0,40%, aos 137.001,58 pontos, com giro a R$ 22,0 bilhões. Na mínima da sessão, o índice da B3 foi aos 136.695,49 pontos, em queda de 0,63%, saindo de abertura aos 137.547,09 pontos e tocando, na máxima do dia, os 138.796,91 pontos.
Na semana, o Ibovespa quase não tem variação (-0,02%), assim como neste começo de junho – no ano, sobe 13,90%.
“Mercado tem buscado se sustentar num patamar acima de 137 mil pontos, bem elevado ainda, após ter quebrado recorde, com máxima histórica aos 140 mil pontos, em maio. Há muito fluxo estrangeiro com a rotação global de carteiras, direcionada também aos emergentes, com os investidores em busca de retorno especialmente em emergentes mais descontados”, diz Felipe Moura, analista da Finacap Investimentos, para quem o cenário permanece favorável à busca de oportunidades na B3.
Ele lembra que, em 8 de abril, o Ibovespa fechou aos 123 mil pontos, então no menor nível desde 12 de março, e iniciou naquela data uma progressão que o levaria 17 mil pontos acima, até o recorde de 140 mil em maio – no dia 20 -, impulsionado pela busca de opções fora dos EUA desde que o governo Trump proclamou o Dia da Libertação, no início de abril. No fim de março, estava na casa dos 130 mil.
A baixa desta quarta-feira foi condicionada em especial pelas ações de Petrobras (ON -2,91%, na mínima do dia no fechamento; PN -2,75%), que se inclinaram mais do que as perdas vistas no petróleo na sessão, na casa de 1% em Londres, direcionadas pela notícia de que a Arábia Saudita quer que a Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados (Opep+) continue com aumentos acelerados na oferta da commodity nos próximos meses, dando maior importância à recuperação de participação de mercado. O país, principal exportador de petróleo, reduziu o preço de julho do tipo Arab Light para compradores asiáticos.
No front doméstico, a intenção do governo de arrecadar até R$ 35 bilhões junto ao setor de petróleo e gás até 2026, por meio de possível aumento de impostos e antecipação de receitas, mexe com o preço das ações de petroleiras, em especial de Petrobras, muito relevante para o índice – o que contribuiu para determinar o sentido do Ibovespa na sessão, observa Ian Lopes, especialista da Valor Investimentos. “Há preocupação quanto a pagamento de dividendos e a efeito sobre fluxo de caixa da empresa e também do setor”, acrescenta Lopes.
Por outro lado, com recuperação de pouco mais de 1% para o minério de ferro em Cingapura e na China na sessão, Vale ON (+0,46%) – a única na sessão entre as blue chips – contribuiu para mitigar as perdas do Ibovespa neste meio de semana, negativo também para as ações de grandes bancos, como Banco do Brasil (ON -2,74%, também na mínima no dia no fechamento) e Santander (Unit -2,35%), com ajuste bem à frente de Itaú (PN -0,24%) na sessão.
Segundo João Paulo Fonseca, head de renda variável da HCI Advisors, no setor financeiro, Banco do Brasil tem dado prosseguimento a movimento de realização desde o anúncio do resultado do primeiro trimestre. “Investidores continuam receosos com a possibilidade de que o banco demore para retomar os retornos de trimestres anteriores”, acrescenta.
Na ponta ganhadora do Ibovespa, MRV (+6,86%), Cogna (+4,65%) e Yduqs (+4,39%). No lado oposto, Minerva (-7,13%), São Martinho (-5,39%) e Petz (-3,69%). Apesar do dia positivo para Vale, a sessão foi ruim para outros nomes do setor metálico, como Metalúrgica Gerdau (-0,34%), CSN (-0,60%), Usiminas (-1,14%) e Gerdau (-0,62%) – ainda que boa parte deles tenha reduzido o ajuste em direção ao fechamento, à exceção de Gerdau PN, que encerrou na mínima do dia.
Para Felipe Paletta, estrategista da EQI Research, a Bolsa havia aberto de forma mais favorável, com nova indicação de queda de popularidade do presidente Lula (em pesquisa Genial Quaest, divulgada antes da abertura), que contribuía para o “call” sobre a possibilidade de uma eventual alternância de poder em 2026 – tendo em vista que a situação fiscal doméstica, com a falta de ajuste no sentido de contenção de gastos que redirecione a trajetória da relação dívida/PIB, é um dos principais fatores de preocupação do mercado com relação à agenda brasileira.
“O mercado tende a ficar um pouco de lado, tentando entender, também, os próximos passos com relação ao conflito comercial entre Estados Unidos e China. E lembrando que houve superação de máximas históricas no mês passado no Ibovespa, mesmo com múltiplos mais baixos. É natural ver agora alguma volatilidade intradiária, mesmo sem grandes novidades macro, e no sentido de realizar lucros”, acrescenta o estrategista.
Dólar
O dólar apresentou leve alta no mercado local na sessão desta quarta-feira, 4, e fechou na casa de R$ 5,64. O escorregão do real veio apesar do enfraquecimento global da moeda americana, na esteira de dados econômicos abaixo do esperado nos EUA, que reforçam a expectativa de corte de juros pelo Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) neste ano.
Operadores atribuíram a falta de fôlego do real ao menor otimismo em torno das medidas em estudo no governo para ajustar as contas públicas, em substituição às alterações do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). Na terça, a despeito da alta global do dólar, o real não apenas se fortaleceu como apresentou o melhor desempenho entre as moedas mais líquidas, embalado por sinais de que estariam sendo debatidas ações fiscais mais estruturais.
Com máxima a R$ 5,6535 na última hora de negócios, em paralelo a mínimas do Ibovespa, o dólar à vista encerrou a sessão em alta de 0,17%, a R$ 5,6455. A moeda ainda acumula queda de 1,29% nos três primeiros pregões da semana e de junho. Pela manhã, a divisa até ensaiou uma queda, com mínima a R$ 5,6105.
“A alta do dólar hoje é parte da devolução da queda de ontem. O mercado havia se empolgado demais com a tese de que vem um pacote de ajustes dos gastos do governo”, afirma o economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi, para quem o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, se colocou em uma “situação ruim” ao dizer na terça que tinha preferência por ajuste estrutural dos gastos. “É uma posição de fragilidade, porque se não vier algo nesse sentido, o mercado vai cobrar bastante.”
Fontes ouvidas pelo Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado) afirmam que as propostas para compensar um eventual recuo no aumento do IOF incluem, no longo prazo, a revisão de benefícios fiscais, a imposição de uma trava na complementação da União ao Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb), além da taxação de criptoativos e bets.
Um integrante do governo reforçou à reportagem que as medidas mais “estruturantes”, de médio e longo prazo foram apresentadas no contexto da negociação, mas nem todas devem necessariamente prosperar. No curto prazo, ou seja, ainda neste ano, a equipe econômica aposta no aumento do repasse de dividendos pelo BNDES e na alteração do Preço de Referência do Petróleo (PRP), medidas que não dependem do aval do Congresso.
“O que circulou até agora é um pouco decepcionante. Apenas a questão do Fundeb é mais estrutural. O resto é tentar apagar incêndio com uma garrafa d’água”, afirma Borsoi, da Nova Futura Investimentos.
Sem implicações na formação da taxa de câmbio no curto prazo, o Tesouro realizou nesta quarta emissão títulos públicos da dívida soberana brasileira em dólares. Fontes ouvidas pelo Broadcast afirmam que houve captação de US$ 1,5 bilhão com papéis de cinco anos e de US$ 1,25 bilhão em títulos de dez anos, com demanda bem expressiva. A demanda teria superado US$ 10 bilhões.
Lá fora, o índice DXY – que mede o desempenho do dólar em relação a uma cesta de seis moedas fortes – recuou e furou o piso dos 99,000 pontos, com mínima aos 98,673 pontos. O dólar caiu em relação à maioria das divisas emergentes e de países exportadores de commodities. Dados da economia americana vieram abaixo do esperado, mostrando desaceleração da atividade, o que pode abrir espaço para cortes de juros pelo Fed neste ano.
O índice de gerentes de compras (PMI) do setor de serviços dos EUA medido pelo Instituto para Gestão da Oferta (ISM, na sigla em inglês) caiu de 51,6 em abril a 49,9 em maio, enquanto analistas previam alta para 52,2. Leitura abaixo de 50 indica contração. Já o relatório ADP mostrou que o setor privado nos EUA gerou 37 mil empregos em maio, bem abaixo das expectativas, de 130 mil.
“Tivemos dados fracos nos Estados Unidos, como o ADP. Também pesou no mercado externo a incerteza sobre as negociações comerciais entre China e Estados Unidos, com expectativa para uma conversa entre Donald Trump e Xi Jinping ainda nesta semana”, afirma a economista-chefe da Coface para a América Latina, Patrícia Krause, em referência aos presidentes americano e chinês.
Juros
Os juros futuros fecharam a sessão com viés de alta nas taxas curtas e intermediárias e as longas em queda marginal. A leve desinclinação da curva foi atribuída principalmente ao exterior. O tombo dos rendimentos dos Treasuries trouxe algum alívio para a ponta longa, mas limitado pelas incertezas com o quadro fiscal, diante da espera pelas medidas alternativas ao aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF).
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2026 fechou em 14,830%, de 14,808% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2027 passou de 14,18% para 14,21%. A do DI para janeiro de 2029 caiu a 13,60%, de 13,65%, e a do DI para janeiro de 2031, de 13,78% para 13,72%.
A curva americana mostrou fechamento importante nesta quarta-feira, após dados fracos da economia estimularem apostas numa postura mais dovish do Federal Reserve, num dia também de queda forte dos preços do petróleo. Com o ISM de Serviços em maio entrando em terreno contracionista, e a geração de vagas na pesquisa ADP, também de maio, vindo muito abaixo da esperada, o mercado elevou a probabilidade de corte de juros em junho para perto de 30%.
O yield da T-Note de dez anos cedia mais de 10 pontos-base no fim da tarde, tocando os 4,35% nas mínimas da sessão, mas com efeito sobre as taxas locais diluído pelas preocupações com as contas públicas. “O mercado doméstico está sentindo a falta de informações sobre as compensações ao IOF. Algumas medidas têm sido ventiladas, mas de concreto não se sabe absolutamente nada”, avalia Gustavo Rostelato, economista da Armor Capital.
Em comentário a clientes, Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, afirma que o governo, que até então alegava serenidade nas contas públicas, se mostra irredutível quanto na questão do IOF, adotando agora o discurso de que as finanças públicas estão à beira do colapso. “Ontem, após o almoço na residência presidencial, tivemos um ‘não evento’. Enquanto todos aguardavam um anúncio mais objetivo e preciso, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, apenas trouxe incertezas”, diz.
“As notícias sobre o IOF e a troca por algumas receitas extraordinárias não são boas. A parte que é permanente é burocrática, exige PEC, o que parece difícil de progredir com um governo com aprovação em queda”, afirma Sanchez.
A pesquisa Genial/Quaest sobre o governo Lula, divulgada pela manhã, mostrou que a desaprovação oscilou de 56% em março para 57% em maio, recorde desde o início do governo, enquanto a aprovação foi de 41% para 40%.
Rostelato, da Armor, vê a ponta curta mais resistente por uma cautela em relação à política monetária dos próximos meses, diante das dúvidas sobre o ritmo de desaceleração da atividade. “O mercado está receoso. Será que a atividade está mesmo arrefecendo? Galípolo tem adotado um tom mais hawkish, de vigilância”, pontua.
Na gestão da dívida, a emissão de bônus de 5 e 10 anos em dólares no exterior hoje pelo Tesouro foi bem recebida pelo mercado. O Broadcast apurou que a demanda pelos papéis está bastante forte, já superando US$ 10 bilhões, apesar da mudança de perspectiva da nota brasileira Ba1, de positiva para estável, pela Moody’s, na sexta-feira. Nas mesas, profissionais acreditam que o Tesouro conseguiu uma boa janela de oportunidade oferecida pelo fechamento expressivo da curva americana.