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Ibovespa cai no 1º pregão de 2025 com cautela fiscal, China e bolsas de NY

O Ibovespa chegou a tocar o campo positivo no início da tarde desta quinta-feira, 2, com a ajuda das ações da Petrobras, na esteira do petróleo, mas acabou invertendo o sinal novamente e fechou em leve queda. O primeiro pregão de 2025 foi marcado pela liquidez reduzida, que justifica volatilidade e também uma influência maior do cenário externo. As bolsas de Wall Street pressionaram e cederem até mais do que o índice brasileiro, que também foi penalizado pela incerteza com relação ao crescimento da China após PMI abaixo do esperado. Contudo, a persistente cautela com o quadro fiscal doméstico foi destacada por operadores consultados pelo Broadcast.

Das 87 ações que compõem a carteira referencial da B3, apenas 23 subiram nesta quinta-feira. Assim o Ibovespa fechou em queda de 0,13%, aos 120.125,39 pontos, com giro de R$ 19,2 bilhões, após máxima (+0,41%) aos 120.781,81 pontos e mínima (-0,97%) aos 119.119,53 pontos.

Segundo o economista e sócio da Valor Investimentos, Davi Lelis, a liquidez reduzida desta quinta-feira faz com que os mercados internacionais tenham bastante influência sob o Ibovespa. Hoje Dow Jones caiu 0,36%, S&P 500 (-0,22%) e Nasdaq (-0,16%).

Outro fator de pressão ficou para o enfraquecimento do índice de gerentes de compras (PMI) industrial da China, que diminuiu para 50,5 em dezembro, ante 51,5 em novembro. “Se temos um PMI abaixo do esperado lá, pode acabar afetar o crescimento brasileiro, porque a China é um parceiro crucial”, afirma o economista da Valor Investimentos.

Mais cedo as ações da Vale chegaram a se beneficiar da alta de 1,56% do minério de ferro em Dalian, cotado a US$ 107,13 por tonelada, e com a esperança de que a segunda maior economia do mundo anuncie mais estímulos para apoiar a economia. Contudo, mineradora fechou em queda de 0,55% após acompanhar o restante do setor no período da tarde, com destaque para CSN (-4,97%) entre as maiores quedas do Ibovespa.

O cenário fiscal também ficou na ponta do lápis neste primeiro pregão de 2025, que também tipicamente conta com “alguns ajustes de portfólio”, segundo Queiroz, da L4 Capital.

A queda do Ibovespa foi contida pela alta das ações da Petrobras: 2,82% (ON) e 1,60% (PN), na esteira do avanço de cerca de 2% dos contratos futuros de petróleo. Na ponta positiva, destaque ainda para CVC (+8,70%) recuperando parte das perdas que teve em 2024, e IRB (+4,88%) após inclusão na carteira de Small Caps do BTG Pactual para janeiro e também na carteira 5+ deste mês do BB-BI.

Já entre as maiores baixas, Eneva cedeu 9,31% depois de uma portaria do Ministério de Minas e Energia (MME) com regras para um leilão de térmicas e hidrelétricas indicar que a companhia ficará de fora do certame.

Dólar

Depois de abrir o primeiro pregão do ano em alta, o dólar perdeu força e fechou em baixa ante o real, mas perto da estabilidade. O pano de fundo ainda é de receios com a situação fiscal doméstica e o ambiente externo desfavorável ao real. Apesar disso, a ausência de notícias relevantes o suficiente para reforçar ou amenizar estas preocupações e o volume reduzido de negócios inibiram apostas mais firmes dos investidores em uma direção específica para o câmbio e abriram espaço para uma pequena correção.

O dólar à vista caiu 0,29%, para R$ 6,1625, perto da mínima intradia (R$ 6,1517) e bem afastado da máxima da sessão (R$ 6,2267). O contrato futuro do dólar para fevereiro recuava 0,31%, a R$ 6,1855, mas durante o pregão oscilou entre R$ 6,1785 e R$ 6,2605. O volume de negócios foi de aproximadamente US$ 12,4 bilhões, abaixo da média de dezembro, de US$ 17 bilhões.

Pela manhã, o dólar chegou a subir ante o real, reagindo a dados que aumentaram a preocupação em torno do crescimento econômico da China.

A desaceleração econômica do país, porém, já havia sido incorporada ao cenário do mercado, assim como outros fatores capazes de prejudicar o superávit comercial brasileiro – como a possibilidade de políticas comerciais protecionistas nos Estados Unidos -, o que diminuiu o peso destes dados no decorrer do pregão, segundo Marcelo Bolzan, estrategista de investimentos e sócio da The Hill Capital.

Assim como outros analistas, ele acredita que a questão fiscal e as dúvidas a respeito de como se dará o processo de ajuste nas contas públicas terão mais peso sobre a direção do câmbio no curto prazo, principalmente por causa do cerco do Judiciário e do Executivo às emendas parlamentares e aos efeitos disso sobre a receptividade do Congresso a propostas de austeridade nos gastos.

“Existe preocupação de que novas medidas terão uma dificuldade muito maior agora de passar em função desse entrave, então a questão principal é o fiscal. Há alguns momentos de alívio um pouco maior, mas dá para concluir que seria um descompasso em relação ao cenário macro. A gente não imagina que este ano o dólar vá se valorizar mais de 25% como no ano passado, mas trabalha com dólar mais perto de R$ 6,25. Se tivermos notícias positivas, pode ser que vá abaixo disso”, afirmou.

Carlos Thadeu Gonçalves, sócio e líder de produtos na KAT Investimentos, ressaltou que a avaliação dos investidores sobre o quadro fiscal terá muito peso no início de 2025, maior inclusive do que fatores externos. “A expectativa é de que se tiver algum norte do governo em relação ao fiscal mais sólido, o real pode ter valorização. Se não tiver uma postura sólida do governo, deve oscilar entre R$ 6,20 e R$ 6,25”.

A queda do dólar no primeiro pregão do ano ocorreu também sem intervenções do Banco Central. O câmbio mais comportado, porém, pode ser em parte resultado das intervenções anteriores. “Pode ser um ponto psicológico. A gente tem percebido o BC atuando de forma mais forte quando o dólar chega perto de 6,20”, disse Bolzan, ressaltando, no entanto, que o efeito deste tipo de medida tem sido limitado.

Juros

Os juros futuros fecharam a primeira sessão de 2025 em queda firme. Após quatro altas consecutivas, exceto nas taxas de curto prazo, o acúmulo de prêmios atraiu alguns aplicadores, mas a liquidez foi um pouco menor que o padrão, com muitos players ainda em recesso. O noticiário e a agenda doméstica estiveram esvaziados, o que abriu espaço para alguma volatilidade no dia, mas o que tende a definir mesmo a tendência de curto prazo é o cenário fiscal, permeado pela crise das emendas parlamentares e de governabilidade.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2026 caiu de 15,44% no ajuste de segunda-feira para 15,14%. O DI para janeiro de 2027 fechou com taxa de 15,61%, ante 15,95% no ajuste anterior. O DI para janeiro de 2029 encerrou com taxa de 15,38%, de 15,75%.

As taxas chegaram ao fim do dia com queda entre 30 e 40 pontos-base, longe de devolver tudo o que subiram nas últimas quatro sessões, no caso dos vencimentos de médio e longo prazos. O DI para janeiro de 2027 avançou cerca de 80 pontos e o janeiro de 2029, em torno de 100 pontos, no período.

Enquanto as taxas curtas estiveram em baixa durante toda a quinta-feira, as longas chegaram a subir pela manhã, acompanhando o aumento da pressão no câmbio, com o dólar tocando máxima em R$ 6,22. À tarde a moeda inverteu o sinal e passou a cair, fechando em R$ 6,1625 (-0,29%).

Apesar do cenário inflacionário e fiscal pressionados, o mercado encontrou hoje espaço para uma correção parcial. “Pode ser que com a virada de ano o pessoal esteja disposto a tomar mais risco. A curva como um todo está com muito prêmio, em algum momento teria que comer um pouco dessa taxa”, afirmou o economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi.

Para o economista da Meraki Asset Rafael Ihara, o mercado de juros teve uma “volatilidade estranha hoje”, mas diz que no geral, há uma decepção com a ausência de novas medidas fiscais. “Segue o impasse das emendas, que só deve ser pacificado na reforma ministerial”, prevê.

Ontem (1º), a novela das emendas teve mais um capítulo. O ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal, negou um pedido do partido Novo para bloquear repasses do governo Lula à Saúde, classificados como despesas obrigatórias – as quais, segundo o partido, estariam sendo usadas “indevidamente, visando compensar perdas parlamentares decorrentes da suspensão” das emendas de relator e de comissão – espólio do orçamento secreto.

No exterior, a agenda foi permeada por sinais de fraqueza da atividade emitidos por PMIs nos EUA, Europa e China, que reforçaram a expectativa por medidas de estímulo da economia, seja pelo lado fiscal ou monetário.

Estadão Conteudo

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