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Ibovespa cai 0,40%, a 122,4 mil pontos, apesar de correção favorável ao real

O Ibovespa lutou em certos momentos para oscilar levemente para cima e retomar o nível de 123 mil pontos no fechamento desta quinta-feira, 23, com poucos catalisadores para orientar os negócios. Evento mais aguardado do dia, a fala do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ao Fórum de Davos apenas reiterou pontos já conhecidos da agenda do republicano, sem maior detalhamento de iniciativas tarifárias. De qualquer forma, a ausência de novidades contribuiu para alívio adicional no câmbio, dando prosseguimento à recente correção de excessos ante as moedas de referência como também as de emergentes, entre as quais o real. Assim, o dólar fechou em baixa de 0,35%, a R$ 5,9255, com mínima a R$ 5,8745 na sessão.

O alívio, contudo, não deu fôlego ao Ibovespa, que encerrou em baixa de 0,40%, aos 122.483,32 pontos. Na máxima, o índice se reaproximou dos 124 mil pontos, marca não vista no intradia desde 18 de dezembro. Na mínima, renovada durante e após a fala de Trump, foi aos 122.159,03, distanciando-se do nível de abertura, aos 122.964,79 pontos. O giro se manteve em nível semelhante ao de ontem, a R$ 19,0 bilhões nesta quinta-feira. Na semana, o Ibovespa limita o avanço a 0,11% e, no mês, tem ganho de 1,83%.

“O dólar caiu frente ao real, mas o dia não foi bom para outros ativos brasileiros, como os da Bolsa e a curva de juros, que subiu. Havia muita gordura a ser queimada no câmbio, e o dólar já caía antes da fala de Trump em Davos. Ele continua no terreno retórico, em linhas ainda abrangentes, mencionando corte de impostos e também China, entre outros pontos. A retórica pode ser agressiva, mas sem detalhamento e ações específicas, o que resulta em retirada de prêmio que havia impulsionado o dólar frente a outras moedas”, diz Matheus Spiess, analista da Empiricus Research. “O modo ainda é o de voo de galinha” para a Bolsa, acrescenta o analista, mencionando questões em aberto, como o fiscal doméstico.

Assim, as ações de maior peso e liquidez operaram em terreno negativo, com destaque para Vale (ON -0,65%) e Petrobras (ON -0,92%, PN -0,70%). Entre os grandes bancos, BB foi a exceção positiva, em alta de 2,26% no fechamento. Na ponta perdedora do índice, Minerva (-6,67%), MRV (-5,70%) e Pão de Açúcar (-5,57%). No lado oposto, Marfrig (+4,06%), Braskem (+3,56%) e Yduqs (+2,76%).

“A ação da Marfrig respondeu bem à recomendação de compra do Goldman Sachs, que destacou melhor risco-retorno do ativo. E Braskem se beneficiou de expectativas de melhora nas margens petroquímicas”, diz Anderson Silva, head da mesa de renda variável e sócio da GT Capital.

A curva de juros doméstica manteve-se em alta ao longo da tarde, com efeito em especial para as ações associadas ao ciclo doméstico, como as de construtoras e as do setor de consumo. Dessa forma, o índice de consumo (ICON) caiu 0,52%, enquanto o de materiais básicos (IMAT), correlacionado a demanda e preços formados no exterior, operou perto da estabilidade e, no fechamento, mostrava ganho de 0,42% nesta quinta-feira.

“O dólar tem mantido o movimento de recuo nessas primeiras semanas de 2025, com redução da saída de moeda do País – lembrando que, no primeiro semestre, as exportações do agronegócio contribuem bastante para que o câmbio se acomode em patamares mais baixos”, aponta Silva, da GT Capital.

Dólar

O dólar à vista perdeu força ao longo da tarde e encerrou a sessão desta quinta-feira, 23, em queda de 0,35%, cotado em R$ 5,9255. Operadores atribuíram a apreciação do real à onda de enfraquecimento da moeda americana no exterior, em especial na comparação com divisas emergentes latino-americanas, após o presidente dos EUA, Donald Trump, adotar um tom conciliador em relação à China.

Ao longo da tarde, o real exibiu o melhor desempenho entre as principais moedas globais, mas acabou perdendo fôlego na última hora de negócios. Teria pesado contra a divisa brasileira o aumento da aversão ao risco com notícia, veiculada pela Bloomberg e confirmada por fontes ao Broadcast, de que o governo avalia fornecer alimentos com custo reduzido por meio de uma rede popular de abastecimento. Com o mercado já fechado, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que não se cogita usar “espaço fiscal” para reduzir preços de alimentos e que tudo não passa de “boataria”.

Pela manhã, a divisa chegou a apresentar alta moderada, em meio a um aparente movimento de ajustes após o recuo de ontem, quando rompeu o piso de R$ 6,00 no fechamento pela primeira vez desde o início de dezembro. Havia também um sentimento de cautela e busca por proteção diante da expectativa pela participação virtual de Trump no Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça.

Depois de anunciar ontem tarifas de 10% sobre importações da China, bem longe dos 60% prometidos na campanha, Trump adotou em Davos postura menos belicosa. A intenção seria ter um bom relacionamento com os chineses, sem abrir mão de combater o déficit comercial americano. O presidente dos EUA revelou que recebeu ligação do líder chinês, Xi Jinping, no qual trataram, entre outros temas, de possível resolução do conflito entre Rússia e Ucrânia.

“Trump adotou um discurso mais brando em relação à China, sabendo da dependência dos EUA de produtos importados e do impacto de aumento de tarifas sobre a política monetária americana”, afirma o superintendente da mesa de derivativos do BS2, Ricardo Chiumento, para quem o Federal Reserve, dependendo das ações de Trump, pode ter espaço para redução adicional da taxa de juros nos EUA. “No caso do real, é positivo o fato de Trump não ter citado o Brasil como alvo da política de aumento de tarifas”.

Após as palavras de Trump, o dólar passou a cair na comparação com outras moedas fortes, como o euro, e aprofundou o ritmo de queda em relação a divisas emergentes. Por aqui, o moeda rompeu o piso psicológico de R$ 5,90 e desceu até mínima a R$ 5,8745, menor valor intradia desde 12 de dezembro (R$ 5,8681). Na reta final dos negócios, com a piora da aversão ao risco que jogou o Ibovespa para as mínimas da sessão e os juros futuros para as máximas, o dólar reduziu bastante o ritmo de queda até fechar no nível de R$ 5,92.

Foi o quarto pregão consecutivo de queda da moeda americana, que já acumula baixa de 2,31% na semana e de 4,12% no mês, o que faz o real ter o melhor desempenho entre as principais divisas globais em janeiro. Boa parte desse movimento está relacionado a ajustes e realização de lucros, dado que o dólar subiu 2,88% em dezembro e encerrou 2024 com ganhos de 27,34%.

O economista Gustavo Rostelato, da Armor Capital, afirma que o recuo recente do dólar reflete, em grande parte, desmonte de posições compradas na moeda americana por investidores estrangeiros, dada a melhora do apetite ao risco no exterior. O gatilho seria o fato de Trump não ter optado por imposição agressiva de tarifas neste início de mandato.

Na B3, a posição comprada em derivativos cambiais (dólar futuro, mini, cupom cambial e swap) de não residentes caiu de quase US$ 80 bilhões no fim de 2024 para cerca de US$ 59 bilhões nos últimos dias.

“A incerteza quanto a um eventual novo governo Trump elevou a aversão ao risco, impulsionando a demanda por dólares. Após a posse do presidente republicano, a propensão ao risco aumentou”, afirma, em nota, Rostelato, acrescentando que a sazonalidade também favorece o real, com exportações de grãos no início do ano.

A economista-chefe do Ouribank, Cristiane Quartaroli, afirma que ainda é cedo para dizer que há uma tendência sustentada de queda do dólar. Por ora, o real se beneficiaria de um alívio com a postura de Trump nos primeiros dias de seu segundo mandato.

“Vimos no mandato anterior de Trump que as opiniões mudavam com muita frequência, o que provoca muita volatilidade. Além da questão externa, estamos em um momento de agenda política esvaziada, com o Congresso ainda em recesso”, afirma Quartaroli.

Juros

Os juros futuros subiram mais de 15 pontos renovaram máxima por toda a curva no fim da tarde desta quinta, 23, com o mercado embutindo o risco de um novo aumento dos gastos públicos, após notícia da Bloomberg mencionar que o governo avalia medidas para fornecer alimentos com custo reduzido. A discussão foi confirmada por fontes ouvidas pelo Broadcast. Oficialmente o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, negou a possibilidade, mas as taxas não aliviaram e seguiram no nível de 15%. A alta dos rendimentos dos Treasuries também apoiaram o movimento, em dia de volume de negócios mais escasso por conta da agenda esvaziada e na véspera do IPCA-15.

As taxas de contrato de Depósito Interfinanceiro (DIs) já subiam desde cedo, mas o estresse maior veio no fim da tarde. Apuração do Broadcast mostra o governo estuda diminuir a distância da produção de alimentos e levar esses alimentos para as redes mais afastadas.

“Acho que essa possibilidade gera um problema de quanto ficaria essa conta de subsídios e, segundo, aumenta o risco de o governo adotar uma posição mais intervencionista na economia”, afirma o economista-chefe da Nova Futura, Nicolas Borsoi.

Haddad, por volta das 17h40, mencionou que “ninguém pensa em usar espaço fiscal para esse tipo de coisa (reduzir preço de alimento)”. Segundo ele, subsídios para baixar preços de alimentos é “boataria”. Ainda assim, as taxas se mantiveram nos níveis de 15%, sem denotar alívio.

Saadia, da Nomos, enfatiza que os juros não seguiram a queda proeminente do dólar – que, no piso, chegou a R$ 5,87 – por um “ajuste técnico e acompanhando os Treasuries”. Ele destaca que o volume de negócios foi menor nesta quinta-feira, de modo que “às vezes temos movimentos que foram feitos por apenas um player forte, por exemplo”.

O pico da valorização do real nesta quinta-feira ocorreu após participação do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, no Fórum Econômico Mundial de Davos, na Suíça. O republicano sugeriu uma aproximação entre ele e o presidente da China, Xi Jinping. “Não fez preço nos juros, mas em geral a notícia deixa investidores menos tensos em relação às tarifas, que devem ficar abaixo do que foi prometido no palanque da corrida eleitoral”, pondera Saadia.

O sócio e analista da Ajax Asset, Rafael Passos, menciona ainda que “com o IPCA-15 de amanhã e o Copom chegando, faz sentido o mercado ficar em posição mais de hedge”.

A taxa de depósito interfinanceiro (DI) para janeiro de 2026 subiu para 15,070%, de 14,921% no ajuste anterior. O DI para janeiro de 2027 encerrou em 15,355%, ante 15,14%, e o para 2029 avançou a 15,205%, de 14,98% no ajuste de ontem.

Estadão Conteudo

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