O mesmo HPV que causa câncer no colo do útero, pênis e boca também está relacionado a um câncer na superfície do olho. Um estudo publicado no periódico New England Journal of Medicine identificou que o HPV está presente em lesões desse câncer que, embora menos perigoso do que os anteriores, pode culminar na perda de visão.
A lesão aparece em forma de uma pinta branca, que cresce com o tempo. O oftalmologista da Escola Paulista de Medicina, Rubens Belfort Neto, explica que o diagnóstico precoce é fundamental para um bom tratamento.
Se diagnosticado cedo, o tratamento é simples: o oftalmologista pode escolher fazer uma pequena cirurgia para retirar o tumor ou tratar com colírios quimioterápicos, que não trarão efeitos colaterais em outras partes do corpo. Se o diagnóstico for tardio, o paciente pode ter de retirar o olho. Em alguns casos, até a pálpebra.
O médico explica que, embora não seja possível mensurar a incidência, é um dos casos de câncer ocular mais frequentes atendidos na Escola Paulista de Medicina, em São Paulo. “O HPV provavelmente tem um papel importante nessa incidência. Por isso, nós torcemos para a vacina contra o HPV ser estendida para todos", diz.
Atualmente, a vacina quadrivalente fornecida gratuitamente pelo SUS protege contra os tipos potencialmente perigosos, mas só é ministrada a meninas com idade entre 11 e 13 anos.
“O menino acaba funcionando como um vetor, mas normalmente é assintomático. Com a vacina, o garoto não transmitiria para as parceiras", diz Belford Neto. "Além disso, em 50% dos casos de câncer de pênis, o HPV está presente."
O Ministério da Saúde informa que o foco atual da pasta é vacinar garotas de 11 a 13 anos, para diminuir a incidência do câncer de colo de útero. Não há pretensão do Ministério em ampliar as medidas para o sexo masculino.
O tratamento é simples: o oftalmologista pode escolher fazer uma pequena cirurgia para retirar o tumor ou tratar com colírios quimioterápicos, que não trarão efeitos colaterais em outras partes do corpo.
Entenda o vírus
Conhecido mais popularmente por causar câncer do colo do útero, a família do HPV é muito extensa, visto que há mais de 200 tipos diferentes. Há aqueles tipos que provocam verrugas plantares, que não têm relação com câncer. “Há 40 tipos que infectam a região genital. Desses 40 tipos, 14 são de alto risco, os oncogênicos, que podem causar câncer. Os demais não dão câncer”, explica o oncologista do Hospital A.C. Camargo, Glauco Baiocchi Neto. A vacina do SUS protege contra os quatro tipos mais comuns e perigosos de causar câncer.
O médico conta que, na maioria dos casos, quando a pessoa tem um bom sistema imunológico, a infecção se resolve espontaneamente e o paciente nem fica sabendo que teve contato com o HPV. Já para outros com imunidade mais baixa ou que fumam, as defesas do corpo não ficam totalmente alerta como deveriam, deixando a pessoa em risco.
O oncologista explica que, depois que a mulher contraiu o vírus, ele leva cerca de dez anos para se transformar em um câncer. Antes disso, há lesões de graus diferentes que, se tratadas, impedem uma evolução a um quadro mais grave. A razão de os ginecologistas recomendarem que se faça exame de papanicolau periodicamente é justamente para evitar que o problema evolua para um câncer. “80% das mulheres vão entrar em contato com o HPV ao longo da vida”, diz Baiocchi.
Fonte: iG