Opinião

Hora de descartar os pregadores do ódio.

Hesitei antes de começar este texto. Há uma razão para esta dúvida: se todos nós,
articulistas profissionais ou diletantes, escrevemos esperando ser lidos, por que
faríamos artigos que, supostamente, desagradam à maioria dos possíveis leitores?

Sabendo que no segundo turno das eleições de 2022, mais ou menos metade dos
eleitores votaram no Lula e outros tantos, no Bolsonaro, é natural pensar que
seguidores do mito da direita e adeptos do demiurgo da esquerda abandonariam a
leitura deste artigo quando percebessem que seus ídolos não são aqui tratados como
tais.

Entretanto, nem todos que escolheram um ou outro lado, são bolsonaristas raiz ou
lulistas convictos. Dizem os entendidos de estatísticas e de política que metade dos
que votaram no Lula não o fizeram por preferir o petista, mas para se livrarem do
Bolsonaro. Outra metade teria escolhido Bolsonaro para cancelar de vez o Lula. Estes
dois grupos talvez leiam, até o fim, a matéria que segue.

Feito este “nariz de cera”, que no jargão jornalístico significa enrolação e com o qual já
gastei quase um terço do meu espaço, é hora de escrever o que interessa.

Petistas e bolsonaristas, conforme pesquisas recentes da FGV, dizem confiar no
próprio grupo político quase na mesma proporção em que confiam em suas famílias.

Com notas de 0 a 10, bolsonaristas dão 8,3 para a confiança nas suas próprias famílias;
petistas chegaram a 7,5. Quando avaliam os próprios grupos políticos, os valores são
apenas um pouco menores que os atribuídos à família: 7,8 os de direita e 7,3 os de
esquerda.

Têm ainda dois dados importantes: ambos os grupos relatam um índice de confiança
de apenas 4,5 pontos nas pessoas em geral e quando perguntados quais os índices de
confiança de cada grupo em relação ao opositor (direita/esquerda), os números
ficaram muito próximos — 0,8 da direita em relação à esquerda e 1,0 desta para
aquela.

Enfim, chegamos à dúvida que motivou este artigo: que suficientes qualidades — ou
defeitos — têm estes dois personagens para conseguirem espalhar uma inimizade tão
profunda na sociedade brasileira?

As desavenças e escaramuças políticas sempre existiram no País, mas Lula e Bolsonaro
conseguiram transformá-las em ódio, que o povo rapidamente assimilou.

Creio que eles não leram Guimarães Rosa, o famoso escritor mineiro: “ (..) quem toma
o veneno é quem guarda o ódio, e não quem o recebe”.

Ou, como na frase, cuja autoria desconheço: “ódio é o veneno que alguém toma todos
os dias, achando que está matando o outro”.

Se você, leitor, chegou até aqui, é porque, provavelmente, não pertence aos dois
grupos extremados que idolatram o Bolsonaro ou veneram o Lula e se odeiam
mutuamente. Esta parcela que procura se distanciar do ódio que corrói os fanáticos
representa mais de metade da população e pode decidir a eleição de 2026.

O ex-presidente estará fora do pleito se as condenações no STE e STF não forem
anuladas (não esquecer que o Lula estava preso antes de ser presidente). Cumpre
aposentar o demiurgo e afastá-lo definitivamente da política, antes que detone de vez
as finanças do País.

Renato de Paiva Pereira.

Foto Capa: Reprodução/Divulgação

Renato Paiva

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