A Covid-19, que também devasta os povos indígenas do país, levou o professor Ely Macuxi, pertencente à etnia Macuxi, da Terra Indígena Raposa Serra do Sol, no Amazonas, que ainda padece com a morosidade governamental em dar conta da desintrusão da área por não índios que ainda permanecem em seu interior.
No Brasil, os Estados da Amazônia são os que mais sofrem com a catastrófica onda de infecções e mortalidades. Entre os povos indígenas, aldeados ou não, os números de mortes e de contaminação chegam a ser 150% maior do que os não indígenas.
Líderes indígenas como Aritana Yawalapiti, Fernando Makari, Sergio Xexewa Waiwai, Dioníto Souza Macuxi, Cidaneri Xavante, Amoim Aruka e tantos outros foram vitimados pela Covid-19. Aruka foi o último homem da etnia Juma, extinta em decorrência de combates pela retomada de suas terras, de ocupação tradicional, que se arrastaram por mais de 50 anos.
Ely Macuxi, professor concursado de História da rede pública de ensino de Manaus, desde a década de 1990 lutou pela defesa da qualidade da educação escolar indígena; pela dignidade dos povos indígenas, ainda tão discriminados. Teve uma vida dedicada à Educação: integrou o Conselho de Educação Escolar Indígena do Amazonas, dirigiu o Núcleo de Educação Escolar Indígena na Secretaria Municipal de Educação Manaus. Jornalistas do Conexão Planeta escreveram: “Lutou para garantir boa formação para crianças, integrando ensinamentos não indígenas e a preservação da cultura e dos saberes dos povos originários.”
Com formação sólida na academia, graduou-se em Filosofia e concluiu os cursos de Especialização em Etnodesenvolvimento e de Mestrado em Sociedade e Cultura na Amazônia pela Universidade Federal do Amazonas. Faleceu no dia 21 de janeiro, dias antes de defender seu mestrado, quando perdeu a luta para a Covid-19.
No dia 12 de fevereiro, o Programa de Pós-graduação em Antropologia Social da Universidade Federal do Amazonas decidiu realizar defesa póstuma da dissertação de mestrado do professor Ely Macuxi intitulada “Relações interétnicas em contexto urbano: coordenação dos povos indígenas de Manaus e Entorno”. Uma iniciativa primorosa de docentes e discentes para homenagear o indígena e sua militância junto aos povos indígenas.
A sessão de defesa, aberta pelo professor Carlos Machado Dias, contou com o pronunciamento do professor Raimundo Nonato Pereira da Silva, orientador, Antônio Carlos de Souza Lima, João Pacheco de Oliveira Filho, representantes indígenas de diversas instituições. Ao término da defesa, familiares de Ely Macuxi receberam a Ata de Defesa como homenagem póstuma.
Para conhecermos um pouco da trajetória de luta do professor Ely Macuxi, uma indicação de leitura, de sua autoria: “Ipaty: o curumim da selva”, dedicado ao público infantil, juvenil. Adulto. Um percurso mágico que nos ensina a entender como podemos estar mais próximos à Natureza e, então, nos tornarmos um só.