Cidades

Homem se comunica com família pelo tato

Todos os dias pela manhã, André Luiz Siqueira, de 36 anos, se levanta, prepara o café e se senta à mesa com a mulher, Adriana, e a filha, Maria Fernanda. Na casa no bairro Parque Ribeirão, em Ribeirão Preto (SP), a família compartilha a cena cotidiana comum a muitas pessoas. A diferença, no entanto, está na forma como Siqueira desempenha as tarefas: sem visão, nem audição, ele superou limites e aprendeu a se comunicar pelo tato, através de libras.

Apesar de ter nascido sem nenhum tipo de deficiência, Siqueira sofre da Síndrome de Usher, doença hereditária caracterizada pela perda progressiva da audição e da visão. Os primeiros sintomas da doença apareceram logo na infância: ele teve uma infecção nos ouvidos e foi perdendo a audição aos poucos. Mesmo sem ouvir, ainda conseguia desempenhar várias atividades e conviver normalmente com as pessoas.

Na adolescência, começaram a surgir os problemas de visão e, logo aos 22 anos, Siqueira ficou completamente cego. Sem ouvir, nem enxergar, ele se viu impossibilitado de desempenhar tarefas até então simples e acabou entrando em depressão. "Chorava bastante, não tinha mais amigos, não tinha convívio com a sociedade, não tinha como traduzir o que eu expresava. Na época, fui morar em uma chácara com meus pais. Muitas madrugadas eu acordava chorando. Sempre me questionava o porquê de ter ficado cego e disso tudo ter acontecido comigo", afirma, em libras.

Uma vaga em um centro de educação especial, no entanto, trouxe de volta a esperança para Siqueira, hoje considerado surdo-cego. Na Escola de Educação Especial Egydio Pedreschi, em Ribeirão, ele passou por um treinamento e aprendeu a se comunicar com libras, pelo tato. Foi então que, em 2006, o rapaz conheceu a mulher com quem casaria. Estudante de libras, Adriana Aparecida Moreira fazia uma visita ao colégio e conta que ficou admirada com a força de vontade de Siqueira. "Ele é uma pessoa determinada e foi essa determinação que me contagiou. A partir daí nasceu o amor entre nós", afirma.

Vida em família
Adriana, que na época trabalhava como esteticista, largou a profissão para viver com Siqueira. O dia a dia da comunicação pelo toque com o marido a motivou a cursar a faculdade de tradução e interpretação. Dois anos depois de casados, tiveram a primeira filha, Maria Fernanda, hoje com 5 anos.

Desde bebê, a menina tem contato com libras e se comunica com o pai sem dificuldade. "Minha mãe me ajudou a aprender. Na verdade, ainda estou aprendendo. Eu ajudo muito meu pai. Eu pego coisas pra ele, fazemos coisas juntos. Dá para fazer tudo com ele", diz Maria Fernanda.

Além do amor e companheirismo compartilhado com Adriana e Maria Fernanda, Siqueira tem outros motivos para se alegrar. Está aprendendo braille para realizar o sonho de cursar uma faculdade, e há dois meses ganhou mais um presente: o de ser pai pela segunda vez. Maria Gabriela nasceu em novembro,e segundo Adriana já responde aos estímulos do pai. "Ela fica prestando atenção aos gestos que ele faz para se comunicar com ela. É como se ela já compreendesse o que ele diz. O André está realizado com a segunda filha, e já chegou a falar que gostaria de ser pai de um menino ainda", diz.

Ao relembrar sua trajetória de superação, André diz que se sente feliz ao ver que, mesmo precisando encarar vários obstáculos, conseguiu construir uma família e levar a vida de forma tranquila. "Toda aquela depressão em ficar isolado acabou. Sou muito feliz com minha família e estou muito contente com a chegada da minha segunda filha. As duas meninas são lindas e me deixam orgulhoso. Minha família é maravilhosa e eu só tenho a agradecer", afirma.

Fonte: G1

Redação

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