Opinião

“Homem com H”: A Vida, a Arte, o Amor e a Coragem de Ney Matogrosso 

Estreado nos cinemas brasileiros em 1º de maio de 2025, “Homem com H” é muito mais do que um filme biográfico — é um manifesto de liberdade, amor e resistência. Dirigido e roteirizado por Esmir Filho, o longa, baseado no livro “Ney Matogrosso: A Biografia”, de Julio Maria, retrata a trajetória de um dos maiores e mais irreverentes artistas brasileiros. 

Estrelado de forma impecável por Jesuíta Barbosa, o filme traça uma linha poética e contundente sobre a vida de Ney, desde sua infância no interior do país, passando pela adolescência marcada por descobertas, até alcançar sua consagração como ícone absoluto da música e da cultura brasileira. No elenco, nomes como Caroline Abras, Hermila Guedes, Bruno Montaleone, Rômulo Braga e Lara Tremouroux complementam a narrativa de forma primorosa. 

O enredo mostra Arte, Amor e Coragem em Cada escolha, conduzindo o espectador pelas diversas fases da vida de Ney Matogrosso, mostrando não só sua explosão artística com o grupo Secos & Molhados, nos anos 1970, mas também o caminho corajoso e solitário da carreira solo, que o consolidou como um dos artistas mais livres e autênticos da história do Brasil. 

A obra não se furta a explorar suas dores mais íntimas, entre elas, o impacto devastador da epidemia de Aids, que, nos anos 1980 e 1990, ceifou a vida de pessoas extremamente próximas a Ney. O filme retrata, com enorme sensibilidade, o luto e a solidão vividos após a perda de seu companheiro, vítima da doença, e também de seu grande amigo e amor afetivo, o cantor Cazuza, com quem Ney manteve uma relação de profunda cumplicidade, amor e admiração. 

Essas perdas marcaram sua vida de maneira indelével, mas também revelaram ao mundo a imensa capacidade que Ney tem de amar profundamente, com uma entrega que transcende as convenções. Seu amor é livre, generoso, sem amarras, e permeia toda sua trajetória — seja no palco, seja na vida pessoal. 

O filme revela não apenas o artista performático, desafiador e revolucionário, mas, sobretudo, o ser humano ímpar, sensível, amoroso e destemido, que viveu e vive segundo sua verdade, sem concessões. Ney Matogrosso nunca abriu mão de ser quem é. Desafiou o conservadorismo, enfrentou o preconceito e transformou sua própria existência em uma bandeira viva pela liberdade de ser, de amar e de existir. 

Sua sensibilidade não é apenas artística, mas humana. Ney demonstra, ao longo de sua vida, que é possível amar de maneira inteira, generosa e intensa, mesmo sabendo que amar também pode significar enfrentar a dor da perda. E ele fez isso de peito aberto, sem esconder suas fragilidades, nem se encolher diante da dor. 

Sob a direção sensível de Esmir Filho, o filme acerta ao traduzir em imagens, sons e silêncios a essência multifacetada de Ney. A fotografia é pulsante, contrastando os brilhos dos palcos com os tons mais intimistas de seus dramas pessoais. 

A atuação de Jesuíta Barbosa é arrebatadora. Ele não interpreta Ney; ele se entrega a Ney. Seus gestos, sua voz, sua postura corporal e seus olhares traduzem não só o artista performático, mas o ser humano que existe por trás das maquiagens, dos figurinos e das luzes. 

A trilha sonora, naturalmente, é um espetáculo à parte. As músicas que marcaram gerações embalam as cenas e carregam, junto com elas, a história não só de Ney, mas de todo um país que aprendeu a questionar padrões e abraçar a diversidade. 

Um H de Humanidade, de História e de Honra e um filme a serviço da verdade. 

“Homem com H” é uma obra que reverencia não apenas um artista, mas um ser humano que soube, acima de tudo, amar, resistir e viver plenamente. Ney Matogrosso é mais do que um ícone da música — ele é símbolo de liberdade, de coragem, de amor sem amarras e de uma sensibilidade que poucos possuem. 

Sua história nos lembra que viver de verdade é assumir quem se é, sem medo, com autenticidade e com amor. E se há algo que esse filme nos ensina é que, mesmo diante da dor, da perda e do preconceito, a arte, o amor e a liberdade sempre encontrarão um caminho. 

Viva o cinema brasileiro. 

Viva Ney Matogrosso. 

Vale muito a pena assistir.

Olinda Altomare é magistrada em Cuiabá e cinéfila inveterada, tema que compartilha com os leitores do Circuito Mato Grosso, como colaboradora especial.

Foto capa: Reprodução/Divulgação

Olinda Altomare

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Olinda Altomare é magistrada em Cuiabá e cinéfila inveterada, tema que compartilha com os leitores do Circuito Mato Grosso, como colaboradora especial.

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