Dentre os estados brasileiros, Mato Grosso detém as maiores taxas de detecção de hanseníase do país e, por esse motivo, é reconhecido como hiperendêmico. Segundo os dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), em 2018, o estado registrou 4.713 casos novos da doença, o que corresponde a uma incidência de 134,1 para 100.000 habitantes. Destes, 199 casos novos ocorreram em menores de 15 anos.
No ano de 2017, foram registrados 3.477 casos novos, representando uma taxa de detecção de 105,2/100.000 habitantes. De acordo com a Secretaria de Estado de Saúde (Ses-MT), os dados disponíveis no Sinan para o Estado reforçam a presença de focos de infecção sem diagnóstico e de cadeias de transmissão recentes da doença. Diante do cenário, o órgão estadual inicia o ano de 2020 estimulando a conscientização da população quanto à necessidade de prevenção e combate à doença.
A iniciativa faz parte da campanha “Janeiro Roxo”, que tem como objetivo a promoção do diagnóstico precoce, o tratamento, a prevenção e a quebra de preconceitos. Neste contexto, a Ses-MT conclama a sociedade em geral para utilizar a cor roxa, internacionalmente adotada nas fachadas de prédios e repartições públicas e/ou de sedes com grande circulação de pessoas. Este ano o lema da campanha adotado pela Sociedade Brasileira de Hansenologia é “Todos Contra a Hanseníase”.
Por meio da assessoria de imprensa, a Ses alerta para a importância de os municípios intensificarem as ações e discussões acerca da hanseníase, em especial nos programas Saúde na Escola, Bolsa Família, Estadual Pró-Família e demais ações intersetoriais das Secretarias Municipais de Educação, Assistência Social e outras. A iniciativa tem foco na intra e intersetorialidade destas ações, ressaltando a importância do diagnóstico precoce de pessoas com hanseníase e a avaliação de seus contatos (familiares de convívio próximo e prolongado). “A avaliação dos contatos das pessoas acometidas pela hanseníase durante, pelo menos, cinco anos após o diagnóstico é outra iniciativa de primordial importância”, ressalta Edriane Cristhina Catarin, servidora da Coordenadoria de Atenção às Doenças Crônicas da Ses.
De acordo com os profissionais especializados, é prioritário o desenvolvimento de estratégias para a busca ativa dos contatos pelas equipes de atenção primária da Saúde em articulação com os demais setores do poder público. Também é fundamental a ampla divulgação de informações relacionadas à doença, visto que a hanseníase tem cura e o tratamento é feito no Sistema Único de Saúde (SUS).
Além disso, para enfrentar a hanseníase, o órgão construiu o Plano Estadual Estratégico de Enfrentamento da Hanseníase (PEHAN 2018-2020) enfatizando estratégias possíveis para a redução da carga da hanseníase no Estado, pautadas nos direitos humanos fundamentais de respeito à vida e à dignidade humana, na humanização das práticas e na promoção da saúde. “Há uma escolha estratégica, por parte do Governo do Estado, pelo diagnóstico precoce da doença e pela execução do Plano Estratégico de Enfrentamento da Hanseníase. Neste cenário, Mato Grosso faz um grande esforço junto à atenção primária, com um trabalho efetivo de qualificação das equipes de saúde. A busca por pacientes que possivelmente estão contaminados deve ser uma iniciativa de interesse nacional. Muitas pessoas podem, neste momento, transmitir a doença sem nem sequer saberem que estão contaminadas”, explica o secretário de Saúde, Gilberto Figueiredo, por meio da assessoria.
O Plano foi elaborado pela Ses, conjuntamente ao Conselho de Secretarias Municipais de Saúde de Mato Grosso (Cosems), e legitimado como um plano de Estado por meio do cumprimento de uma extensa agenda de capacitações voltadas ao diagnóstico e enfrentamento da doença em vários pontos estratégicos do Estado; a gestão estadual também conta com as parcerias do Instituto Lauro de Souza Lima e Alliance Against Leprosy Institute, que auxiliam no melhor alcance do conhecimento necessário e promovem a melhoria do desempenho clínico e multiprofissional.
Vale reforçar que a hanseníase é uma doença crônica, transmissível, de notificação compulsória e investigação obrigatória em todo o território nacional. A doença acomete homens e mulheres de qualquer idade. Entretanto, para que ocorra a infecção, é necessário um longo período de exposição à bactéria denominada Mycobacterium leprae, por meio de contato próximo e prolongado com uma pessoa acometida pela hanseníase; apenas uma parcela da população infectada realmente adoece. A doença pode ocasionar ainda lesões neurais, conferindo-lhe um alto poder incapacitante.