Para compreender o lamento do empresário mato-grossense sobre o custo da energia que recai em seus negócios, além do calvário do Governo do Estado, que anda de pires na mão para tentar reaver uma dívida de centenas de milhões de reais sobre uma suposta sonegação do imposto referentes a circulação de mercadorias e serviços de qualquer natureza (ICMS), devemos visitar um passado não muito distante, quando o Grupo Rede ainda controlava a Cemat, que na opinião de Dorival Gonçalves Júnior, “foi destruída pela holding”.
Umas das maiores autoridades em questões políticas e energéticas do Brasil, o doutor em Energia e docente da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) Dorival Gonçalves Júnior fez duras críticas ao Grupo Rede – corporação de acionistas que até o ano passado tinha entre seus ativos a Centrais Elétricas Mato-grossenses (Cemat).
De acordo com ele, o “pool” de empresas depredou a Cemat.
“O Grupo Rede destruiu a Cemat. O patrimônio da empresa foi dilapidado. Eles tinham a estratégia de reter o ICMS e fizeram isso para predar não só o Estado enquanto instituição mas a própria sociedade”, afirmou.
O professor explicou também que o fato de Mato Grosso ter a energia elétrica mais cara do Centro-Oeste e estar atrás apenas do Rio de Janeiro e Espírito Santo na comparação com outros Estados, não se resume apenas a uma questão “estadual”. Para o especialista, a área de geração, concessão e distribuição desse serviço no país responde a uma “estrutura industrial que a transformou num negócio extremamente lucrativo” e que a política energética brasileira foi “transformada num negócio”.
“O governo está na mão dessas empresas. O que ocorre é que a organização da indústria energética brasileira segue uma concepção de mercado. O Brasil pratica a tarifa mais cara do mundo. Essa é a questão central”, afirmou.
O professor rechaça ainda o argumento do aumento do custo da produção, que segundo as empresas do setor justifica a prática de preços abusivos da energia elétrica industrial brasileira, como o uso de usinas termelétricas: “Em termos de custo de produção, por exemplo, a França tem como base a energia nuclear, um tipo bem mais oneroso do que a obtenção por via hidrelétrica, e ainda assim pratica a tarifa de R$ 175,8 pelo MWh. No Brasil, cuja matriz é hidrelétrica, esse custo é de R$ 543,81 por MWh”.