Opinião

HERANÇA

Impressionante como existem mentores que marcam a vida da gente. Lembro-me bem de uma professora, Adelira era o nome dela, professora de Alemão na Fundação Evangélica de Novo Hamburgo. Ela era brava como o próprio führer, gritava horrores com os alunos mais ativos. No Sinodal, em São Leopoldo, tinha o Sporket, um senhor de idade muito avançada, que dava aulas de física, havia trabalhado na Nasa, andava com uma régua enorme de madeira pela sala, e se você não estivesse prestando atenção, ele dava paulada homéricas na mesa. E algumas vezes na cabeça. O que falar de Mauro Cid, então, meu primeiro mestre na propaganda, dava livros de presente e mandava você ler. Ai de você se não lesse. Chegava de cantinho e perguntava como quem não quer nada: você leu o comentário da página 56? Meu amigo, se você não tivesse lido, podia sentar e chorar. Ou de Ariosto Barbieri, que literalmente subia na mesa quando apresentava alguma campanha ruim. E todos esses mestres marcados por uma paixão, por uma entrega, por uma dedicação, um carinho incomensurável para seus súditos.

Impressionante como existem mestres que marcam nossa passagem. Um mestre, um guia, um sábio, não é aquele que afaga. É aquele que bate quando precisa e ama desenfreadamente cuidando, zelando, lambendo suas crias todo o tempo. Assim era meu pai. Seu João deixaou marcas fortes e profundas por onde passou. Não tem uma pessoa que não lembre o companheirismo e dedicação do meu pai para aqueles que o rodeavam. Ai, meu pai. Quanta saudade que chega arder o peito.

– Pai, por que seus olhos estão vermelhos?

– Tava coçando filho.

Um minuto de silêncio. Joãozinho olha para a janela da sala para rua, vira pra mim e dá um sorriso.

– Pai… o senhor estava pensando no vovô, né? Eu também penso de vez em quando nele. Dá uma tristeza, mas aí eu penso que ele está num lugar melhor e fica tudo bem. Experimenta fazer isso.

Abracei meu filho com todas as forças e chorei. De saudades e de alegria. Acabara de ver que os frutos de seu João estão passando de geração para geração.

João Manteufel Jr.

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Mais conhecido como João Gordo, ele é um dos publicitários mais premiados de Cuiabá e escreve semanalmente a coluna Caldo Cultural no Circuito Mato Grosso.

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