A palavra aférese, que significa retirar ou separar, é mais conhecida entre os profissionais da saúde e entre um grupo ainda pequeno de pessoas que, voluntariamente, dedica um tempo do seu dia a dia para salvar vidas.
Esse método é utilizado para realizar a separação dos diversos componente do sangue, como glóbulos, plaquetas e plasma, e o sangue que foi doado é devolvido ao doador no mesmo momento em que é feita a doação, após essa separação do componente que o paciente vai precisar para o seu tratamento.
Como é o caso de João Luiz Gomes da Silva, 44 anos, vigilante armado de empresa privada, que tem uma doença chamada neuromielite ótica, que afeta a visão e causa cegueira. João foi internado no Pronto-Socorro de Cuiabá no dia 11 de agosto para tratar da doença, pois estava sem enxergar do olho direito.
“Eu percebi a perda da visão do olho direito há cinco meses e, neste mês de agosto, tive o diagnóstico da doença. Até uma semana estava enxergando apenas pelo olho esquerdo, o direito era escuridão total. Após receber duas sessões de plasma em dois dias seguidos, já vejo um clarão e estou muito esperançoso de voltar a enxergar completamente”, relata João da Silva.
As sessões de troca de plasma que João precisa são realizadas pelo MT Hemocentro, referência estadual em captação de doação e transfusão de sangue, inclusive doação de componentes do sangue pelo método aférese.
“A troca de plasma ou de outro componente do sangue consiste na substituição do plasma doente pelo plasma sadio, que foi doado. É um método chamado de aférese terapêutica, utilizado para remover componente doente do sangue. É esse procedimento que é feito no caso do paciente João, que vai passar por seis sessões de transfusão, duas delas já realizadas em menos de uma semana após o diagnóstico. Cada sessão custa R$ 400,00 pelo Sistema Único de Saúde (SUS), totalizando R$ 2,4 mil. O mesmo tratamento, se for feito em unidade particular, custa R$ 10 mil. Pelo SUS, o paciente não precisará pagar pelo tratamento”, explicou a gerente de doação de sangue do MT Hemocentro, Juliana Silva.
O tratamento de João e de outras pessoas que sofrem de doenças como neuromielite ótica, leucemia, câncer, anemia aplástica ou quem passou por cirurgia cardíaca ou por transplante, entre outras doenças, ocorre graças à doação de centenas de anônimos cadastrados no MT Hemocentro, em Cuiabá. Nos últimos dois anos, foram cadastrados cerca de 850 doadores por aférese, mas esse cadastro não está atualizado, o que significa que muitos podem ter mudado de endereço ou de telefone, sem ter comunicado o MT Hemocentro.
Quem pode doar por aférese
De acordo com dados do Ministério da Saúde, apenas 1,8% da população brasileira doa sangue e, deste percentual, apenas uma pequena parcela conhece o procedimento de doação de hemocomponentes por aférese.
O doador por aférese precisa, primeiro, ter feito pelo menos uma doação de sangue nos últimos dozes meses, ou seja, ser um doador voluntário de sangue convencional para depois passar a ser um doador de componentes do sangue e deve ter idade acima de 18 anos. A equipe de aférese faz a avaliação de cada doador, com base em critérios técnicos, entre os quais o exame hematológico.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) afirma que se 3% da população brasileira com idade entre 16 a 69 anos (11 meses e 29 dias) fosse doadora de sangue fidelizada, os estoques de todos os Estados estariam constantemente regularizados.
A técnica em contabilidade Maria José Martins Mendes concordou em relatar a sua experiência. Doadora de sangue há 39 anos, desde os 18 anos, ela passou a ser doadora por aférese quando ainda morava em Mato Grosso do Sul. Ao se mudar para Cuiabá, continuou a doar pelo mesmo método. Oriunda de uma família de doadores por tradição, Maria Mendes diz que se sente bem e feliz em ajudar o próximo. Ela relembra uma frase de seu avô, quando um tio precisou receber transfusão de sangue, após sofrer um acidente: “Tem sangue para seu tipo porque nós deixamos a nossa doação para alguém”.
“A doação de sangue não é um sacrifício e nem deve ser algo que se faz quando alguém próximo precisa; deveria ser um hábito normal, como comer, tomar água ou dormir, é um cuidado que temos com a nossa saúde e com a saúde de outras pessoas. Além disso, não corremos risco nenhum. É tudo feito de forma segura, sem dor, não há contaminação e nem nos causa mal algum, pelo contrário, a nossa saúde está sempre ótima, pois passamos a nos cuidar melhor por nos sentirmos responsáveis e comprometidos por outras vidas”, relata Maria José.
“A doação por aférese é 100% segura, pois o kit de material utilizado é descartável a cada doação, assim como quando o paciente vai receber o componente do sangue doado”, salienta Juliana Silva, gerente de doação de sangue do MT Hemocentro.
Criando afeto por aférese
Com o objetivo de estreitar os laços de afeto entre os doadores, promovendo a fidelização, o MT Hemocentro realiza o 1º Encontro de Doadores por Aférese do MT-Hemocentro: “Criando Afetos – Doando Aférese”. O evento é organizado pelo setor de captação de doadores em parceria com o doador de plaquetas e de hemácia dupla, Paulo César Machado Ribeiro. Ele é presidente da Associação Atlética Cuiabá Arsenal que viabilizará o custeio dos materiais, equipamentos, aluguel do local, entre outros itens, por meio de doações destinadas à Associação, sem custo algum para o MT-Hemocentro, a Secretaria de Estado de Saúde e ao Governo do Estado de Mato Grosso.
O encontro será realizado no auditório da Arena Pantanal, no dia 26 de agosto (próximo sábado), das 7h30min às 12h. A diretora do MT Hemocentro espera reunir mais de 250 pessoas, entre doadores cadastrados e futuros potenciais doadores. “Acreditamos que o evento reunirá pessoas sensibilizadas, que serão nossos parceiros também como multiplicadores destas informações e da necessidade da ampliação e fidelização do quadro de doadores por aférese do MT-Hemocentro, com o objetivo de disseminar a doação de sangue e a doação de plaquetas por aférese, como hábito consciente e seguro”, salientou Silvana Salomão.
Durante o 1º Encontro de Doadores, o MT-Hemocentro vai homenagear os doadores, incluindo empresas apoiadoras, com a entrega de certificado de agradecimento pela doação, além de sortear brindes entre os convidados.
De acordo com Salomão, o aumento constante na demanda por hemocomponentes, como importante recurso terapêutico, promoveu a necessidade do aumento no número de doadores, pois não existe nenhum outro produto capaz de preencher todas as funções específicas do sangue na manutenção e recuperação da saúde da população, principalmente dos pacientes hematológicos.
“O doador é o elemento fundamental para manter o estoque seguro, em termos quantitativo e qualitativo, para atender com eficiência essa parcela específica da população, além de outros públicos que necessitam de transfusões”, concluiu Silvana Salomão.
Para doar, procure o MT Hemocentro nos seguintes endereços:
MT – HEMOCENTRO – Banco de Sangue Público de Mato Grosso
Captação de Doadores.
Sede: Rua 13 de Junho, 1055. Porto. Cuiabá – MT.
Tel: (65) 3623-0044 ramal 220 / 221
Horário de Funcionamento: segunda a sexta-feira, das 07h às 17h30.
Unidade de Coleta do Pronto Socorro Municipal de Cuiabá – MT
Rua General Vale, 182. Bandeirantes. Cuiabá – MT.
Horário de Funcionamento: segunda a sexta-feira, das 07h às 15h30.