Também disponível em versão de 500 cc no exterior, a Street oferecerá à Harley a chance de atuar com mais força em mercados emergentes, como Índia e Brasil, onde serão montadas, além de conquistar clientes mais jovens e de menor poder aquisitivo em mercados consolidados, como a Europa e os EUA.
É conhecido o potencial de crescimento no mercado do Brasil das motos de mais de 450 cc. De acordo com os números divulgados pela associação dos fabricantes, a Abraciclo, no primeiro semestre de 2014 a venda de motos no Brasil retrocedeu 12,2% frente ao mesmo período do ano anterior. Mas, ao considerar apenas os modelos de 450 cc ou mais, essa realidade se inverte, com vendas 13% maiores.
A explicação para a queda do mercado geral tem relação com a restrição ao crédito para a compra de motos pequenas. Já o cliente das motos maiores, menos dependente de financiamento, empurra para cima os indicadores, o que motiva os fabricantes a capricharem na oferta.
Marcas de olho no nicho
A Honda, líder disparada do mercado brasileiro e dona de mais de 80% do bolo, é agressiva no nicho que vai dos R$ 25 mil a R$ 35 mil.Além de manter a antiga 400 cc, a NX4, a empresa lançou a NC 700X em 2012. No ano seguinte, iniciou uma família de motos de 500 cc as CB 500X (foto ao lado), CB 500S e CBR 500 que se tornaram as best-sellers da faixa de preço inferior a R$ 30 mil. Mesmo sem novidades, a Yamaha viu suas XT 660R e XT 660Z (foto abaixo) crescerem na preferência dos consumidores, praticamente dobrando a venda desses modelos nesta primeira metade de 2014.
De olho nesse aquecido segmento estão também marcas tidas como "premium". Apesar de a capacidade industrial delas no Brasil ser menor do que as pioneiras Honda e Yamaha, essas empresas não querem ficar de fora do segmento que mais vende.Um exemplo é a alemã BMW, conhecida por modelos exclusivos que custam mais de R$ 100 mil, mas que não deixará a pé quem entrar em uma de suas revendas e não quiser (ou não puder) gastar mais de R$ 30 mil. Para esse cliente, a BMW oferece sua versátil trail G 650 GS, cujo preço sugerido é de R$ 29.800.
Por pouco mais que isso, R$ 31.490,00, a britânica Triumph entrega aos consumidores brasileiros ávidos por se destacarem na paisagem ao guidão de algo diferente sua clássica Bonneville T 100 (ao lado), bicilíndrica de 865 cc que aposta todas suas fichas misturando o estilo retrô com uma mecânica bem atual.
Como é a Street
A Street será a primeira moto da marca a trazer motor e chassi 100% novos em 14 anos desde a V-Rod apresentada em 2001.Fiéis a tradições estéticas e técnicas como poucos, os técnicos da Harley-Davidson disfarçaram bem a existência da refrigeração líquida no novo motor das Street 500 e 750 batizado de Revolution X. Outra preocupação foi com o som que sai dos escapes, pois não bastaria ser uma Harley e parecer uma Harley se ela não soasse como uma Harley quando acelerada.Ao rodar com a Street 750 durante a apresentação da linha 2015, na Califórnia, pude comprovar que, mesmo sendo a motocicleta mais econômica da marca, o DNA dos modelos mais clássicos está presente nela.
Em termos estéticos, o motor V2 é o protagonista do design. A moto está aquém do padrão de acabamento da Harley: tem conectores elétricos aparentes e mal posicionados, suporte de pedaleiras rústicos em chapa estampada e alguns parafusos galvanizados excessivamente à mostra podem indicar que, para conseguir um preço competitivo, concessões tiveram de ser feitas.
Baixa e alongada, a Street 750 permite a condutores de estatura limitada colocar os pés no solo com facilidade. Isso confirma uma das principais ideias do projeto: ser uma motocicleta acessível até para os menos experientes ao guidão. Outro fator que ajuda nessa tarefa é o peso 222 kg em ordem de marcha. São 33 kg a menos do que a Iron 883, a menor das Harley-Davidson anteriores.
A Street 750 mostra ainda excelente maneabilidade e pronta resposta ao acelerador, mesmo nas mais baixas rotações, o que justifica o nome de batismo Street (rua em inglês). É uma motocicleta com performance ideal para cidades. Boa parte desse caráter é percebido na posição de pilotagem, com pedaleiras centralizadas e guidão próximo ao tórax, bem diferente de outras Harley-Davidson, com pedaleiras e guidão avançados que sugerem o uso em estradas.
Como em todas as motos da marca de Milwaukee, é o torque, e não a potência bruta, a prioridade. Mesmo tendo apenas 750 cc, há bom vigor em todas as faixas de rotação assim como uma típica vibração que muitos identificarão como parte do modo Harley-Davidson de fazer motocicletas. É um meio de cativar clientes tradicionalistas, assim como oferecer aos novos o sabor das motos maiores da marca.
O novo modelo é exatamente o que parece e promete ser: a porta de acesso para consumidores vindos de segmentos menos prestigiados para a icônica marca norte-americana, que poderá entrar na briga nesse nicho do mercado brasileiro que só vê suas vendas crescerem.
G1