Integrantes de organizações sociais fizeram um ato contra xenofobia – aversão a estrangeiros – em frente ao Pronto Socorro Municipal de Cuiabá, onde o haitiano Elveus Chisner está internado após ter sido baleado, nesta quarta-feira (9). Para as instituições, trata-se de preconceito. Eles cobraram das autoridades o acompanhamento dos estrangeiros na capital e visitaram a vítima de 38 anos, que ficou paraplégica.
Elveus Chisner foi baleado no dia 22 de novembro na frente da residência dele, no Bairro Nova Esperança, em Cuiabá. Ele estava com alguns amigos, também haitianos, e foi atingido por um motociclista que passou atirando no local. As investigações da polícia sobre o caso ainda estão no início e o autor do disparo aidna não foi identificado.
O haitiano, que trabalhava em um curtume, na capital, perdeu o movimento das pernas e de uma das mãos após a bala ter ficado alojada na coluna dele. Ele está no Brasil há quase três anos.
Segundo Cristiane Lopes, assistente social da Associação dos Docentes da Universidade Federal de Mato Grosso (Adufmat), a intenção do ato é mostrar que as entidades sociais estão atentas ao que acontece com os estrangeiros em Cuiabá.
“A ideia é mostrar para os haitianos, que foram a vítima nesse caso, que eles não estão desamparados. Estamos cobrando da Justiça e dos órgãos responsáveis um tratamento melhor aos estrangeiros na cidade. Queremos que tenham um mínimo de condição de trabalho, saúde e educação”, afirmou.
A assistente social afirmou ainda que Elveus pode ter sido vítima de racismo e que a investigação precisa levar isso em consideração. “Os casos de xenofobia se multiplicam com a vinda de estrangeiros para o país. Muitas pessoas nativas acabam pensando que eles [estrangeiros] vêm para roubar nossos empregos ou coisa assim. Além disso, a xenofobia, às vezes, está disfarçada de descaso e não podemos tolerar isso”, pontuou.
De acordo com o ouvidor da Defensoria Pública de Mato Grosso, Lúcio Andrade, a entidade está atenta ao caso e participou da ação para lembrar que estrangeiros também podem contar com a entidade. “Nossa intenção é dizer aos estrangeiros que eles também podem contar com a Defensoria Pública. Eles têm respaldo na entidade, que hoje em dia tem um Núcleo de Direitos Humanos que pode intervir nessas situações”, explicou.
Esse foi o primeiro caso de suspeita de xenofobia que chegou até o órgão. "Ficamos preocupados por se tratar de um sério crime contra a vida e com indícios de xenofobia”.
Em uma reunião com a diretoria do PS, os movimentos sociais questionaram a liberação antecipada do haitiano. Ele foi internado no dia em que baleado, liberado no dia 30 de novembro e, na mesma data, acabou voltando para a unidade após passar mal.
Sobre a situação do haitiano, a direção informou que chegou ao PS com risco de morte, após ser baleado, e já sem sensibilidade nos membros inferiores.
Existe a possibilidade de se abrir uma sindicância para verificar se houve erro médico na liberação de Elveus. Ainda segundo o hospital, o estrangeiro voltou ao local com uma infecção e passa por tratamento com antibióticos.
O interprete Rafael Alexandre Lira – que fala criolo e faz trabalhos sociais com a comunidade haitiana em Cuiabá – avalia que a situação de Elveus é complicada e que ele está precisando de itens, como fraldas, pomadas, uma cadeira de rodas e outra de banho.
A mulher do estrangeiro deve vir ao Brasil para ajudar a cuidar dele. A questão, porém, esbarra na questão financeira. “Ele não tem dinheiro para pagar a passagem. Também não sabemos com quem ele irá ficar até ela chegar aqui em Cuiabá”, relatou.
Fonte: G1