O Grupo Montesanto Tavares (GMT), um dos maiores exportadores de café arábica do Brasil, entrou com pedido de recuperação judicial para reestruturar um passivo de R$ 2,13 bilhões. O processo foi protocolado na 2ª Vara Empresarial da Comarca de Belo Horizonte (MG) e inclui as empresas Atlântica Exportação e Importação, Cafebras Comércio de Cafés do Brasil, Montesanto Tavares Group Participações e Companhia Mineira de Investimento em Cafés.
A decisão ocorre após meses de dificuldades financeiras agravadas pela volatilidade no mercado de café. Em novembro de 2024, a empresa já havia tentado negociar suas dívidas com credores por meio da Justiça, mas sem avanços suficientes. Em dezembro, o grupo obteve uma proteção temporária contra execuções judiciais por 60 dias, concedida pelo juiz Murilo Silvio de Abreu, da 2ª Vara Empresarial de Belo Horizonte. No entanto, a medida não se estendeu a dívidas relacionadas a contratos de adiamento de câmbio, garantias sobre estoques e instrumentos financeiros de proteção contra oscilações de preços, que continuaram passíveis de cobrança.
Com o fim do prazo de proteção judicial e a persistência das dificuldades financeiras, o GMT formalizou o pedido de recuperação judicial em 25 de fevereiro de 2025, conforme divulgado em nota oficial publicada no site das companhias.
O GMT atribui a crise financeira à combinação de fatores como a alta expressiva nos preços do café, que acumula valorização superior a 120% nos últimos 12 meses, e a desvalorização do real frente ao dólar, o que elevou os custos operacionais e as exigências de depósitos adicionais para cobrir oscilações no mercado futuro. A quebra da safra de 2021/22 também foi citada como um fator crucial, forçando a empresa a comprar café a preços elevados para honrar contratos.
Entre os principais credores do GMT estão Banco do Brasil, Santander, Safra, Bradesco, BTG Pactual, Itaú Unibanco e Banco do Nordeste. A Atlântica Exportação e Importação acumula dívidas de R$ 894 milhões, enquanto a Cafebras deve R$ 527 milhões. No total, o passivo declarado na petição judicial é de R$ 2.128.915.129,41.
No ano passado, a Cargill, uma das principais credoras, já havia se manifestado contra pedidos anteriores do GMT na Justiça, alegando que a empresa buscava “blindagem patrimonial” ao tentar impedir execuções de dívidas ligadas a contratos financeiros. O juiz Murilo Silvio de Abreu também rejeitou previamente medidas cautelares solicitadas pelo grupo, afirmando que as garantias não se enquadravam na categoria de bens essenciais para operação da empresa.
Em decisão anterior, a Justiça negou a suspensão da liquidação de contratos financeiros por corretoras e bancos, bem como a proteção de garantias sobre sacas de café e reservas financeiras, argumentando que esses ativos não são considerados indispensáveis à atividade empresarial.
O Grupo Montesanto Tavares detém cerca de 8% das exportações brasileiras de café arábica e atua em diversos segmentos do setor cafeeiro, incluindo produção, beneficiamento e trading. Com o pedido de recuperação judicial, a empresa espera reestruturar sua dívida e manter suas operações em funcionamento. Caso o pedido seja aceito pela Justiça, um administrador judicial será nomeado para acompanhar o processo, e o grupo deverá apresentar um plano de reestruturação em até 60 dias para votação dos credores.
Em nota, as empresas afirmaram que “as Recuperandas sempre prezaram pelo respeito aos compromissos assumidos e pela perseverança, empenhando-se em atuar com excelência na entrega de seus produtos e serviços”. Também reiteraram compromisso com clientes, produtores e credores, afirmando que estão “engajadas nas negociações para acerto de um plano de recuperação responsável e equilibrado”.