Envolvido em recente escândalo dos grampos ilegais, o governador Pedro Taques completa dois anos e oito meses de governo. Nesse tempo, outros casos já marcaram a trajetória do homem que saiu do Ministério Público para ocupar um cargo importante. Em entrevista ao Circuito Mato Grosso o cientista político, João Edisom, disse que isso poderá ser usado pela oposição durante campanha eleitoral no ano que vem.
Além disso, o cientista fez uma avaliação sobre os primeiros seis meses de gestão do prefeito Emanuel Pinheiro. Ele falou também sobre questões do Veículo Leve Sobre Trilhos (VLT), criação da Secretaria Cuiabá 300 anos, candidatos a governador em 2018 e outros assuntos políticos.
Confira a entrevista na íntegra:
Circuito Mato Grosso (CMT): O governador Pedro Taques foi eleito sob grande expectativa da população, que estava cansada da má gestão e atrasos de obras públicas. Com quase três anos de mandato, o senhor acredita que Taques conseguiu atender as expectativas dos eleitores?
João Edisom de Souza: Nós temos que separar o governo Pedro Taques do governador Pedro Taques. O que tinha se estabelecido no inicio é que o Estado estava em uma grande roubalheira, estava em uma situação terrível e precisaria de um xerife e essa parte foi cumprida. Só que o tempo foi passando e coincidiu junto com isso a crise que vinha de 2013, então tem todo esse processo da crise. E ai o governador teve uma dificuldade, e ainda têm, de diálogo. De estabelecer uma comunicação direta com a população. Se nós olharmos hoje, Mato Grosso é o único Estado que está pagando a RGA, não existe nenhum outro que pague. Mas me parece que é o Estado aonde o funcionário público mais tem raiva do governador. Então isso mostra uma dificuldade de comunicação. Isso está melhorando, mas não sei se há tempo suficiente para melhorar até as próximas eleições.
CMT.: O governo sofre com a falta de dinheiro, o que causou atrasos nos repasses a saúde e duodécimo aos poderes. Isso prejudica a eficiência do Executivo?
J.E.: Prejudica. Só que tem uma questão, saúde não tem solução no Brasil enquanto todo o processo estiver na parte curativa. Nessa questão, não é uma questão meramente voltada a Hospitais e ambulâncias, é voltada muito mais a questão da educação social. Se existe um investimento em educação é enxugar gelo. A saúde não dá um voto para o Governador, mas tira.
CMT.: Taques começou com uma equipe de secretários com perfil técnico. Depois de um tempo, políticos, como Wilson Santos e Max Russi foram chamados e hoje o Governo tem uma equipe de secretários com perfil mesclado. Essas mudanças trouxeram resultados ao Executivo?
J.E.: Um dos problemas do desgaste do governador foi à montagem do governo inicial por ter pessoas muito inexperientes. À medida que ele foi mudando, ou seja, com a entrada de políticos experientes melhorou a questão do dialogo e do contato. Por que um político que já vivenciou as realidades sociais ele tem um grau maior de sensibilidade, já o técnico não tem essa sensibilidade. O técnico vê muita planilha, muitos números e isso distanciou muito o diálogo do governo com a sociedade e ele [governador] paga por isso até hoje. Mas hoje melhorou muito com os ex-prefeitos, por exemplo, na gestão.
CMT.: Taques conseguiu montar uma base de sustentação na Assembleia Legislativa forte. As mensagens do Executivo são aprovadas sem grandes dificuldades. Qual a avaliação que o senhor faz da atuação do Legislativo? Continua sendo um “puxadinho” do Executivo?
J.E.: Não, eu não vejo o Legislativo dessa forma que nós rotulamos lá trás e continuamos fazendo o mesmo discurso. O Legislativo ele mudou muito, não que ele não mereça critica, ele tem vários fatores que merecem críticas sim, nunca vai estar perfeito e está longe disso. Agora o que nós temos hoje de Assembleia Legislativa, não tem mais nada a ver com o que existia há cinco anos atrás. Existe um grau de dependência maior, mas a política brasileira por natureza estabelece um vinculo entre o Legislativo e Executivo, seja no município, estado ou união. Por quê? Tem a tal das emendas parlamentares que obedecem a essa linhagem. Tem a questão dos parlamentares que precisam desenvolver atividades nas suas bases e isso quem desenvolve é o governo. Se olharmos em termos de liberdade de deputados, hoje eles têm bem mais liberdade.
CMT.: Mais quanto a avaliação do senhor quanto ao Legislativo?
J.E.: Hoje ele é muito mais social do que ele era. Antes nós tínhamos um Legislativo que estava voltado para dentro da Assembleia. Agora temos um Legislativo voltado para dentro, mas também para fora. Prova disso é a Assembleia Itinerante, a participação ativa nas negociações da Revisão Geral Anual (RGA), do parque Ricardo Franco e tantas outras coisas. A Assembleia hoje é bem mais participativa com a sociedade e com o governo, do que era antes. Antes só existia colégio de líderes, decisão de presidente e reunião com governador. Hoje não. Hoje já tem essa sensibilidade de percorrer o Estado. Mas isso é apenas o início, ela tem que avançar bastante.
CMT.: O senhor acredita que a população também está buscando se aproximar mais do Legislativo?
J.E.: Não. O rotulo estabelecido lá ainda é prejudicial. O rotulo que estabeleceu o novo legislativo brasileiro como um todo. Faz com que as pessoas que não tenham o entendimento fino de saber o que está acontecendo no dia a dia. A análise é genérica. Como o resultado político nacional é muito ruim, existe uma tendência muito forte de julgar que todo mundo é do mesmo valor. Se você perguntar hoje para a população qual é o melhor deputado ou pior, eles vão dizer que não tem. Mas toda Câmara, toda Assembleia vai ter o melhor e o pior. Seja no passado ou agora, mas por quê? Falta refinamento no entendimento do Legislativo de acompanhamento de trabalhos. Se nós formos à Assembleia Legislativa, nós vamos verificar que pessoas que acompanham o trabalho do Legislativo são muito pouco. Boa parte das pessoas que estão lá, estão atrás de benefícios individual e não para entender o trabalho do Legislativo.
CMT.: Até o momento o Governador não conseguiu resolver a questão do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT). Isso é um problema para a imagem dele?
J.E.: É. O VLT é um problema, só que ele chega à outra questão muito mais profunda em termos de política, que também é do Brasil, não é do Governador. É que hoje o gestor ele manda muito pouco. Os órgãos fiscalizadores hoje sem ter o ônus da gestão eles atrapalham muito mais do que ajudam. Um laudo técnico, um parecer do Ministério Público demora seis meses, três meses. Então existe uma máquina para emperrar qualquer funcionamento.
CMT.: Mas o senhor acredita que o Governador vá conseguir destravar essa questão?
J.E.: Veja bem, o Governo tem tempo para acabar, o judiciário não. Para ele [governador] terminar depende muito mais de quem fiscaliza do que da vontade dele. Não terminando isso trás prejuízo político.
CMT.: O Governo Taques não esteve imune aos escândalos, como na Secretaria de Estado de Educação (Seduc), acusação de caixa dois e, agora o caso dos grampos. Qual o impacto de todos esses casos a imagem do governador e do governo?
J.E.: Quando o Pedro Taques foi eleito sobre a luz da ética, é lógico que qualquer coisa que acontece o impacto no governo é muito grande. Agora se nós formos comparar, fazer um refinamento e comparar valores, por exemplo, na questão da Seduc todo mundo fala da questão do contrato mais o valor envolvido nisso é quase insignificante e até agora não há comprovação de participação direta do governador. Parece que é uma coisa isolada.
Já a questão do grampo interessa muito mais a oposição e a briga entre poderes do que a população. A população não tem interesse nenhum nessa questão. Alias, o povão adora falar no telefone grampeado para todo mundo escutar e o entendimento popular é o seguinte: o que essas pessoas andam falando que os outros não podem escutar? Então depende de que forma vai ser usado no ponto de vista do marketing lá na frente. Isso pode virar um fator a favor, para dizer assim: para fiscalizar eu tenho que entender o que está acontecendo. E outra coisa é que precisamos entender que o grampo não é corrupção, é um fator moralmente não aceito e ilegal do ponto de vista jurídico, mas não envolve questão econômicas e financeiras. Saber trabalhar isso não tem reflexo nenhum, agora a não realização de obras sim, pois afeta diretamente o cidadão.
CMT.: Especificamente sobre o caso dos grampos, que teve repercussão nacional. O senhor acredita que Taques e sua equipe estão conseguindo contornar essa situação? O impacto negativo a imagem de Taques é inevitável?
J.E.: Na realidade a questão do grampo já é uma questão política contra ele da oposição. Essa campanha política ela reflete sobre duas coisas: primeiro os veículos de comunicação que gostariam de tirar mais recursos do governo, isso é fato. E o segundo fator é um financiamento de oposição, e ela está correta, se ela quer chegar ao poder ela tem que combater. Não existe nada ilegal em termos disso. Na realidade essa questão de grampos, primeiro: ela não é nova e vai continuar existindo. Mas essa questão acabou mexendo com a vaidade dos poderes que achava que eram soberanos na questão das escutas e descobriram que ninguém é soberano no final. Estava todo mundo escutando todo mundo. A população não tem o menor interesse. Porque elas pensam no porque esse conteúdo não é liberado.
CMT.: Mais o senhor acredita que esses áudios serão divulgados?
J.E.: Dependendo de como for o marketing da campanha, sim. Essa questão vai estar dentro da campanha por uma questão da RGA.
CMT.: Dois ex-secretários estão com envolvimento direto neste caso: Evandro Lesco, chefe da Casa Militar, e Paulo Taques, ex-secretário da Casa Civil. Homens de confiança do governador. Não é difícil Taques desassociar sua imagem a este caso?
J.E.: Eu diria que é quase impossível desassociar a imagem, até pelo histórico de vida do governador. Ele vem do Ministério Público, então mesmo que não esteja envolvido as pessoas vão olhar para ele e vão dizer: ele conhece a situação, não é inocente nessa relação do desconhecer. Então independente de estar o Paulo, o Lesco, ter pessoas envolvidas, o próprio Pedro em si enquanto governador existe uma proximidade na questão da identidade. Porque ele fazia parte de um órgão que legalmente mandava grampear. Ele chega ao governo do Estado, então é fácil às pessoas fazerem essa associação. Agora, daí a tirar proveito politicamente ou ter prejuízo politicamente depende muito da condução. Por enquanto nós não podemos saber, porque o governador não pode fazer campanha política, mas os meios de imprensa podem fazer por ele ou contra ele. Isso influencia de certa forma sim, porque ela agrega valores tanto para o bem quanto para o mal. Ela [denúncia] por si só não tem efeito, mas somados a outros fatores agrega.
C.M.T.: Qual impacto político desse escândalo ao governador? Isso inviabiliza uma eventual candidatura à reeleição?
J.E.: Uma pessoa na máquina no Brasil no formato das eleições brasileiras, nada inviabiliza ela a ser candidato, a não ser que ela seja tirada do pleito pela justiça. Agora depende do adversário e da força política que tiver naquele determinado momento.
C.M.T.: Falando em eleição, o senhor acredita que os grupos de Taques, Mauro, Jaime Campos e Fávaro tendem a manter a aliança em 2018?
J.E.: Existe uma tendência que sim. 2018 eles poderão sair desfarelados de tal forma que em 2020 não estejam juntos. Mas o que aconteceu até agora e do jeito que as coisas estão sendo conduzidas, dificilmente eles vão romper. Primeiro o PSB vive um guerra interna violenta. O DEM por mais que ele tenha crescido ainda é um partido enfraquecido em Mato Grosso. O PSD, que é o partido do vice-governador tem compromissos direto com o governador, então dificilmente essas agremiações elas conseguirão fazer um rompimento agora. Pode ser que a própria eleição em si faça com que ela se dissolva, mas eu acho muito difícil.
C.M.T.: E a oposição. Até o momento não há um nome de consenso para “enfrentar” Taques nas urnas. As eventuais candidaturas seriam de Wellington Fagundes, Antônio Joaquim e Lúdio Cabral. Acredita que o candidato sai dessas três opções ou outro nome pode surgir?
J.E.: Em Mato Grosso nós não temos oposição, nos temos temporariamente adversários. E no jogo político tudo pode se acordar em termos disso. Na realidade existem muitos candidatos e todos de certa forma fragilizados. O próprio governador é um candidato fragilizado. Hoje, nós não temos um candidato forte e isso te dá dois caminhos: eleição de cartas marcadas, ou seja, um único candidato forte. Ai no caso o governador levaria uma vantagem enorme disso. E o surgimento de um nome nos últimos seis meses. Ou teremos uma eleição de praticamente um candidato único ou uma eleição surgindo um candidato novo muito fortalecido pela ausência das forças.
C.M.T.: E em qual dessas a população de Mato Grosso sairia ganhando?
J.E.: O modelo político brasileiro ele não serve mais, só que nós não temos um novo para colocar no lugar. Nesse modelo político a melhor forma de você fazer é sempre o tal do renovar. Agora, o novo não significa melhorar. Renovar significa fazer diferente, melhorias são consequências por que a estrutura ela é tão viciada que o novo não consegue fazer novo. Mesmo ele sendo novo ele vai fazer o velho.
C.M.T.: Falando de Cuiabá. Emanuel passou dos seis primeiros meses de gestão. É possível fazer uma avaliação da sua atuação no Palácio Alencastro?
J.E.: Em seis meses, nós já temos uma dimensão. Ele cometeu o mesmo erro que o Pedro Taques de quando chegou ao poder. A ausência de planejamento mais profundo a médio e longo prazo deixa a sensação de que se você montar uma equipe ao seu gosto, essa equipe vai funcionar. Isso provou que não funcionou, tanto que ele já trocou alguns secretários.
Ele não passa a sensação para a sociedade de que tem um planejamento para Cuiabá. Parece que o planejamento esta sendo feito de acordo com a demanda. E existem algumas áreas que são muitos sensíveis, como trânsito. Um erro e uma pessoa morre. E está morrendo muita gente em Cuiabá. E as pessoas dizem que o trânsito não esta funcionando. E tem uma coisa que não está sendo dita. ‘Escuta, vamos esperar um pouquinho porque estamos construindo isso’. Qual o projeto? Temos projetos de praças, ruas, asfaltamento… Por enquanto, estão terminando os contratos existentes.
Mas, tem algumas coisas boas que ele coloca, que é essencial em um gestor. A humanização. Não dá para entender o poder público sem humanização. Mas humanizar como? O resultado gestão não melhorou, e isso não é grave, porque ela já não era ruim. O segundo fator que ele coloca bastante, é a conclusão das obras iniciadas. Isso é extremamente positivo. Agora precisa pontuar quantas obras, quais as prioridades, para sair do improviso.
Todo gestor tem seus primeiros seis meses, primeiro ano, e no segundo ano a pessoa começa a perder a paciência. Só que se ele esperar muito tempo, ele pode ter dificuldades lá na frente. Cuiabá precisa de uma reação. Ele pegou um marco importante, que é a questão dos 300 anos de Cuiabá. A própria criação da Secretaria dos 300 anos me parece uma improvisação. Não é algo que estava na campanha, mas é algo que nasce de repente e o que nós vamos fazer? Fazer montar uma secretaria especial para isso.
C.M.T.: O senhor acredita que foi um tiro no pé a criação da secretaria?
J.E.: Depende do resultado. As pessoas suportam até cabide de emprego, se der resultado à população. Se essa secretaria funcionar, todos falaram bem da secretaria e do prefeito. Se ela não funcionar é obvio que ela e o prefeito serão destruídos pela crítica. Como aconteceu com a Secopa, Agecopa. À medida que as coisas funcionam, as pessoas aceitam. A população partidária hoje é muito pequena, a grande massa hoje gosta de resultados imediatos, e isso é perigoso. A população não tem mais a paciência que um prefeito faz uma gestão de quatro anos. Eles querem uma gestão rápida.
C.M.T.: Além de criar a secretaria, o prefeito já informou que ele será o secretário da pasta. Qual a sua opinião sobre essa decisão?
J.E.: Eu não vejo isso funcionando. Acho até que pode começar assim, mas por isso eu falo tem muito improviso nessa história. Não dá para você cuidar de uma a secretaria e cuidar de um todo. Não dá para ser prefeito e secretario. Me parece ele [Emanuel] achou que todo mundo ia aplaudir a criação da secretaria, quando veio as criticas, para não aumentar ele resolveu assumir para si a responsabilidade. Não tem lógica isso, é um equivoco. E acho que não tem durabilidade não. Ele vai ter que passar para alguém. Mas do que criar a secretaria, o que me preocupa é o conceito de Cuiabá 300 anos.
C.M.T.: O prefeito já adotou algumas medidas polêmicas, como o cancelamento do edital milionário da iluminação pública e a continuidade da concessão do saneamento básico. Avalia que ele conseguiu imprimir um estilo próprio e tomar as melhores decisões?
J.E.: Não. Essas decisões elas não te dão identidade administrativa, o que dá essa identidade são obras. O governo é um exemplo disso, ele criou uma secretaria anticorrupção. Então quando criou foi aquele alvoroço, mas isso não criou uma identidade para o governo. O que vai dar identidade para o governo é realizações. O Emanuel está no mesmo patamar. Fazer isso [ações] no primeiro momento à população aplaude, mas não é identidade. A identidade esta ligada a questão das construções. O que um gestor faz ou que marca ele é aquilo que é visível. Daqui mil anos, as pessoas vão olhar para os parques e vão lembrar-se do Mauro Mendes.
C.M.T.: Mais ao manter a CAB ele fez algo certo ou ele poderia/deveria ter retirado?
J.E: A CAB é um problema sério. O Mauro Mendes também disse que ia acabar com ela e não conseguiu. A CAB virou um monstro. Todo mundo acha que acabar com ela é bom, mas quando você vai para acabar com ela você fica mansinho. Tem alguma coisa nesse meio que a gente não entende bem. Ou a CAB esta tomando prejuízo em Cuiabá e ai quando se fala: vou acabar com a CAB, você da uma olhada e você não vai querer puxar isso pra gestão. Ou a CAB tem um poder ou algum trunfo na mão de alguma coisa que foi oferecida e não foi entregue pra ela que ao romper ela esta cobrando isso. E nunca ninguém vem a público dizer essa questão real. A gente precisa entender que existe um fator maior, porque se fosse politicamente, nenhuma pessoa que lida com política pede oportunidade. O Mauro teve oportunidade e não fez apesar de ter falado que iria fazer. O Emanuel teve oportunidade e não fez, apesar de também ter dito que iria acabar. Então existe algum fator que a população não sabe. A meu ver é esses dois caminhos.
C.M.T.: Emanuel também não tem grande oposição na Câmara Municipal. Isso é positivo para a gestão?
J.E.: Lógico que eu não posso dizer se é negativo você ter a maioria, é positivo, agora esse positivo tem um preço. Os mesmos parlamentares que te apoiam e votam a seu favor, são os mesmos que te acocham. Existe um processo de chantagem direto. Esse apoio ele tem duas mãos e isso é no Brasil todo. Assim como o prefeito tem o poder de não fazer nada por um vereador, o vereador também tem o poder de aumentar a oposição e o grito contra o gestor.
C.M.T.: Nos bastidores, o que se fala é que Emanuel tem perfil de centralizar muitas decisões, retirando a autonomia de secretários. Acredita que isso é positivo? Isso pode justificar algumas mudanças na equipe de secretários, como na Educação?
J.E.: Eu acho que não é por ai. Eu não o vejo centralizador ao contrário, eu vejo ele até aberto demais. Tem secretário fazendo tanta coisa errada que ele [Emanuel] tem que correr atrás de corrigir depois. Se fosse centralizador, o secretario antes de tomar decisão falaria com ela primeiro. O que eu estou percebendo é que não existe uma equipe de secretários, existem secretários completamente dispersos. Parece que uma secretaria não conversa com a outra. E as secretarias não conversam com o gestor. Não é possível que um secretário de transito dá uma ordem e duas horas depois o prefeito vai para o Facebook dizer que não é aquilo. Tem alguma coisa errada. Isso não é uma questão de centralização, é uma questão de gestão. Existe nessa realidade uma má gestão. Quem caiu até agora da gestão do Emanuel Pinheiro fez por merecer. Eu não vi cair ninguém que estava trabalhando bem, criando uma grande ideia, que se você falasse assim: nossa que pena esta desmanchando o governo. Ao contrário. Não só eu, mas a população bateu palma em todas as mudanças.
C.M.T.: Emanuel e Taques tiveram um forte embate, desde que o prefeito estava na Assembleia Legislativa. Mas, o que se vê hoje é uma parceria, principalmente no caso do novo Pronto-Socorro e Saúde. Acredita que todas as desavenças foram esquecidas?
J.E.: Em política nada se esquece e nada se carrega para sempre. À medida que vai aproximando 2018, elas poderão se fortalecer ou diluir. Vai depender muito disso. Porque tem uma questão. Fazer política é diferente de gestar, só o Emanuel e o Pedro sabem a dor e a delícia de ser responsável por passar o cartão de crédito. Quando você dá essa condição você tem certa complacência com outro gestor. Você não fica mais tão crítico ao outro gestor. Porque você sabe que as dores de um está ligada as dores do outro. Agora, campanha política é campanha política. O palanque é outro processo.
C.M.T.: E qual será a importância do Emanuel nas eleições do ano que vem?
J.E.: Ele é o prefeito da Capital, maior colégio eleitoral e ninguém pode ignorar isso. Não existe ninguém mais importante na próxima eleição do que os prefeitos. Quem tiver a maioria dos prefeitos vai levar.
C.M.T.: O senhor acredita que os prefeitos do interior irão apoiar o governador?
J.E.: Nem que sim, nem que não. Os prefeitos do interior, você não tem ninguém inocente mais, o pessoal sabe fazer política. Dependendo da situação e nós já presenciamos isso, muitas vezes o candidato começa com 80% dos prefeitos e termina com 10%. Ele vai migrar para onde for melhor. Por que isso trará consequências na gestão dele. O prefeito sabe que ele precisa atender as necessidades do município dele, mas do que as necessidades partidárias.