Esportes

governo omite erros para propagandear Copa, sinal de oportunismo

 
Tentaram retratá-lo como um acelerador do crescimento econômico, garantindo que as despesas públicas com a Copa vão muito além das obras nos estádios e se estendem a áreas como mobilidade urbana, aviação civil e segurança – não por coincidência, alguns dos setores da administração pública que são mais criticados pelas centenas de milhares de manifestantes que foram às ruas neste mês. As cifras envolvidas na organização do Mundial, no entanto, indicam que o governo age de forma oportunista quando tenta defender o evento e seu legado. 
 
Afinal, por mais que diga que as melhorias não se limitam às novíssimas arenas das cidades-sede, uma fatia muito pequena do que foi prometido para as outras áreas – justamente os setores que mais motivam reivindicações nas ruas – já foi efetivamente investida. A única parte em que os gastos deslancharam conforme o previsto foi a conta de 7,1 bilhões de reais com a reforma ou construção dos doze palcos do torneio.
 
De acordo com levantamento da ONG Contas Abertas, os investimentos com estádios já têm 60% de execução e 96% de contratação – uma eficácia exemplar. No caso das áreas que poderiam beneficiar a maior parte dos brasileiros, o gasto real é muito inferior. De acordo com números da Controladoria-Geral da União (CGU), os 28 bilhões de reais reservados para a Copa incluem 8,9 bilhões para projetos de mobilidade urbana, 7 bilhões para os aeroportos e 2,2 bilhões para a segurança pública. Aldo e Fernandes fizeram questão de desfilar esses investimentos diante da imprensa internacional na segunda. Nessas três áreas, porém, apenas 12,7% dos recursos foram realmente executados. Menos da metade do investimento total está contratado. Ou seja: por mais que insista em dizer que o Mundial traz benefícios diretos à população inteira, o governo é incapaz de colocar em prática os projetos prometidos, limitando dramaticamente os efeitos positivos da realização do evento. Em Brasília, palco da abertura da Copa das Confederações – e também do primeiro grande protesto contra os gastos com a competição -, o Estádio Nacional custou pelo menos 1,2 bilhão de reais, 79% acima da previsão inicial. 
 
O Tribunal de Contas do Distrito Federal calcula que a obra acabará consumindo um total de 1,7 bilhão de reais, fazendo do estádio da capital uma das arenas mais caras do planeta. Também em Brasília, o VLT prometido para melhorar o transporte urbano foi abandonado. Essa foi a primeira obra de mobilidade retirada da lista de projetos ligados à Copa no país. Outras cinco foram canceladas desde então.
 
 O ministro do Esporte e seu secretário-executivo pareciam já prever que sua tentativa de convencer a opinião pública sobre os efeitos benéficos da Copa não colaria – tanto que o primeiro criticou o "olhar crítico" da imprensa sobre o assunto e o segundo pediu ajuda dos meios de comunicação "para divulgar as informações positivas". Aldo também parece ter subestimado a inteligência do contribuinte ao dizer que a Copa brasileira é um projeto pensado para desenvolver o país mais rapidamente. 
 
Segundo o ministro, assim como a Alemanha recebeu o Mundial em 2006 para curar as feridas de seu passado beligerante e a África do Sul sediou o evento em 2010 para espantar o fantasma do apartheid, o Brasil candidatou-se a sede pensando principalmente em viabilizar grandes obras públicas de infraestrutura. Não era esse o discurso, porém, há seis anos, quando uma comitiva formada por Lula, Ricardo Teixeira, Orlando Silva, Romário e Dunga comemorava, na sede da Fifa, a confirmação do Brasil como anfitrião do torneio. Falava-se apenas num salto de qualidade nos estádios – e sem verbas públicas.
 
“As arenas serão construídas com dinheiro privado. Não haverá um centavo de dinheiro público para estádios”, garantia Orlando, ministro do Esporte do governo Lula (e antecessor e colega de partido de Aldo Rebelo) na ocasião.
 
Tivesse cumprido essa promessa, o governo teria argumentos de sobra para convencer os manifestantes de que vale a pena, sim, investir na realização de uma Copa. Por culpa da inépcia da administração federal (e não da Fifa, vale lembrar), ainda não há como saber se a empreitada vai valer a pena – e essa dúvida deverá se estender até depois do Mundial, já que seus eventuais benefícios não serão tão óbvios quanto o governo quer fazer parecer. 
 
 
 
Fonte: Veja

Redação

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Reportagens realizada pelos colaboradores, em conjunto, ou com assessorias de imprensa.

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