O governador Pedro Taques (PSDB) nomeou o coronel Jorge Catarino Morais Ribeiro para assumir o Inquérito da Polícia Militar (IPM) que investiga o envolvimento de policiais em uma suposta central interceptações telefônicas ilegais no Estado. A convocação do militar foi publicada no Diário Oficial do Estado que circulou nesta sexta-feira (26).
“O governador do estado de Mato Grosso, no uso de suas atribuições legais, tendo em vista o que consta do Processo nº 271964/2017, e amparado pelo disposto no § 4º do artigo 184 da Lei Complementar nº 555, de 29 de dezembro de 2014, resolve convocar para o serviço ativo o oficial da reserva remunerada, Cel PM RR Jorge Catarino Morais Ribeiro para exercer a função de Encarregado do Inquérito Policial Militar relativo aos Autos de Portaria nº 4/ IPM/CorregPM/2017, de 15 de maio de 2017”, diz o ato.
A nomeação de Jorge Catarino se deu após o advogado e coronel da reserva remunerada, Denézio Pio da Silva, desistir de conduzir a investigação da PM. Na última quarta-feira (24) ele se declarou incompetente em conduzir as investigações, por atuar como advogado do ex-comandante-geral da PM, o coronel Zaqueu Barbosa, um dos investigados no inquérito.
Segundo Denézio, este seria o único motivo que o impossibilitou de conduzir o inquérito. “Eu como advogado pessoal dele não poderia conduzir. É somente por esse motivo, caso o contrário eu teria aceitado sem problema algum. A própria PM quer esclarecer o quanto antes os fatos envolvendo os policiais” declarou Pio.
Zaqueu foi preso preventivamente na última terça-feira (23), por determinação do juiz Marcos Faleiros, da 11ª Vara Criminal Especializada em Crimes Militares de Cuiabá. Ele é acusado de ter atuado não só como mandante, mas como o responsável por manter contato pessoal com magistrados para viabilizar a quebra de sigilo telefônico ilegal em Mato Grosso.
Além do ex-comandante, o cabo da PM Gerson Luiz Ferreira Golveia Junior, também foi preso. Ele era integrante do Núcleo de Inteligência da PM e acusado de ser responsável por formalizar os pedidos, prorrogações e relatórios de inteligência dos grampos militares ilegais à Justiça.
Entenda o caso
Uma denúncia realizada pelo ex-secretário de Estado de Segurança Pública (Sesp), o promotor de Justiça Mauro Zaque, apontou que membros da Polícia Militar aproveitaram uma investigação relacionada ao tráfico de drogas na região de Cáceres (177 km de Cuiabá), para inserir números telefônicos de políticos adversários ao governo, médicos, advogados, jornalistas, servidores públicos e até desembargador aposentado de Mato Grosso, em um pedido de quebra de sigilo.
O requerimento para as interceptações teria sido encaminhado ao MPE, que por sua vez formalizou a solicitação à Justiça estadual. A autorização teria partido do juiz Jorge Alexandre Martins Ferreira, que não teria tido conhecimento de que nem todos os números relacionados pela PM estavam relacionados com o crime tratado no processo. A prática já é conhecida no mundo da espionagem como “barriga de aluguel”.
As escutas ilegais teriam começado no período das eleições de 2014, quando Silval Barbosa (PMDB) ainda era governador e Taques disputava as eleições. Em 2015, novos nomes foram incluídos nas escutas.
Segundo a denúncia, o esquema de escuta teria o envolvimento direto de pelo menos três policiais militares: os cabos Gerson Luiz Ferreira e Clayton Dorileo Rosa de Barros, e a sargento Andrea Pereira de Moura Cardoso, além de Zaqueu Barbosa.
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