A sargento Andreia Pereira de Moura Cardoso, envolvida no escândalo de grampos telefônicos supostamente realizados por membros da Polícia Militar, foi exonerada do cargo. A dispensa foi publicada no Diário Oficial do Estado, que circula nesta terça-feira (13).
O ato assinado pelo governador Pedro Taques (PSDB) não tem justifica para exoneração da sargento. Essa é a primeira demissão de militares apontados como envolvidos em serviços de escutas telefônicas ilegais que ocorriam em central paralelamente às atividades da Polícia Militar.
Em declaração à Corregedoria da Polícia Militar no fim do mês de maio, a sargento Andrea revelou que a instituição possuía uma sala dedicada à interceptações telefônicas, no Centro de Cuiabá. No depoimento ela afirma que realizou o trabalho por orientação de superiores.
Na investigação dos grampos ilegais, aparece o nome do coronel Zaqueu Barbosa e o cabo Gerson Luiz Correia, ambos presos no dia 23 de maio por determinação da Justiça. O coronel é um dos homens de confiança do governador Pedro Taques no setor de segurança pública.
A sargento e o cabo teriam tido acesso às escutas colhidas em centrais supostamente montadas pelo Poder Executivo de Mato Grosso, desde 2014. O esquema envolveria, além de outras pessoas, o cabo Clayton Dorileo Rosa de Barros. Juízes, advogados, empresários e jornalistas e políticos teriam sido grampeados pela Polícia Militar.
Os envolvimentos dos PMs são apontados em denúncia realizada pelo ex-secretário de Estado de Segurança Pública (Sesp), o promotor de Justiça Mauro Zaque, à Procuradoria Geral da República.
Os militares foram nomeados para a Casa Militar entre julho e outubro de 2016, cerca de um ano após a suposta conversa entre Zaque e o governador Pedro Taques (PSDB), em que o então ex-secretário teria revelado a arapongagem no Estado ao tucano.
Conforme o Diário Oficial do Estado, Gerson Luiz foi nomeado em julho de 2016 para cargo comissionado e é agente de proteção de dignitários na Casa Militar. Antes disso, atuou no Grupo de Operações Especiais (GOE), na mesma época em que o atual chefe da Casa Militar, coronel Evandro Alexandre Ferraz Lesco, era diretor de Inteligência e Operações do Gaeco.
Inquérito
O comandante geral da Polícia Militar de Mato Grosso, coronel Jorge Luiz de Magalhães, determinou no dia 15 a instauração de um Inquérito Policial Militar para apurar as denúncias de desvio de conduta atribuídas a militares na utilização do sistema 'Guardião'.
O comandante geral da PM esclareceu que desconhece o uso indevido do Guardião desde o início da sua utilização. Ele explicou também que o emprego do sistema Guardião é legal, ocorrendo somente mediante autorização judicial, e que todos os dados que constam no sistema são plenamente auditáveis, o que facilita as investigações, inclusive.
De acordo com Jorge Luiz, “é preciso esclarecer de antemão que a Polícia Militar usa o ramal do Guardião exclusivamente para instruir Inquéritos Militares, e que o encarregado de IPM’s não tem o poder de interceptar ninguém, mas apenas de representar judicialmente junto a Vara Especializada da Justiça Militar pelos números telefônicos, cabendo ao magistrado autorizar a concessão ou não das interceptações nas apurações das infrações militares, depois de ouvido o Ministério Público”, frisou.
Sala de grampos
No 26 de maio, a tenente Andrea Cardoso foi à Corregedoria Geral da PM e revelou que já havia trabalhado na escuta de grampos em uma sala da Polícia Militar, localizada no Centro de Cuiabá. Contudo só fez o que foi orientada por superiores. “Não havendo nada de ilegal em suas ações”, diz documento.
A sargento conta que só procurou a corregedoria por temer por sua vida, de seus familiares e represálias na Polícia Militar. E ainda, que procurou a corregedoria após ter conhecimento da prisão do ex-comandante-geral da PM, coronel Zaqueu Barbosa, e do cabo Gerson Ferreira Gouveia Júnior.
No trabalho, a policial deveria ouvir e fazer anotações de todas as partes que considerava importantes com às datas e horários.
Após a declaração, a polícial entregou o computador que utilizava em sua residência para ouvir os grampos. Entretanto, contou que por orientação de Gerson, o computador foi formatado em novembro de 2015.
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