O golpe começa com um financiamento bancário com parcelas que nunca vão ser pagas. O carro é comprado em nome de um ‘laranja’ em outro estado e trazido para Mato Grosso. As financeiras demoram meses e até anos para localizar o veículo e conseguir um mandado de busca e apreensão.
No site Usado Fácil, é possível encontrar diversos modelos de várias marcas e especificações. Em um anúncio, com data do dia 27 de março de 2013, a propaganda mostra que o vendedor tem a certeza da impunidade. Ele avisa o interessado que o veículo ainda não tem mandado de busca e apreensão. “Vendo um Celta Finan básico, com o documento atrasado, placa de São Paulo, SEM BUSCA. Ano 2001 (…) em ótimo estado de conservação. Preço R$ 3 mil“, dizia a chamada.
De acordo com a tabela de preções médio da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (FIPE), o valor do veículo é de aproximadamente R$ 10,8 mil, cerca de 70% a mais que o preço oferecido.
A venda é tão rápida que em todas tentativas de compra feitas pela equipe do DIÁRIO, os carros já haviam sido repassados. Muitos dos números não estavam mais
funcionando, o que mostra que, provavelmente, os golpistas utilizam telefones descartáveis para realizar as vendas.
O site de vendas Mitula oferece carros, imóveis e até vagas de empregos. O número de anúncios vendendo automóveis Finan é ainda maior. Em uma das páginas, o anunciante chega a colocar uma foto sua em frente ao automóvel que estaria vendendo. Ele é de Rondonópolis e oferece um Corsa Sedam ano 2011 por R$ 10,5 mil, 16 mil a menos que o valor sugerido pela tabela Fipe, que é de R$ 26,5 mil.
A equipe de reportagem ligou para o vendedor que afirmou ter passado o carro para frente há meses atrás. Porém, estava vendendo uma caminhonete S-10, ano 2008, por R$ 17 mil. Ao ser perguntado se o esquema pudesse trazer alguma complicação jurídica ou criminal, ele foi categórico: “de jeito nenhum, esse negócio de financiar carro velho e ficar pagando a vida toda é coisa de babaca. Aqui (Rondonópolis), até Camaro (esportivo de luxo da Chevrolet) é comprado pelo Finan.”
Na negociação do preço, o vendedor assegurou que a caminhonete está em perfeito estado de uso, apesar de ter cerca de 100 mil km rodados e que o pagamento só poderia ser à vista, mas que ele faria por até R$ 15,5. Novamente interpelado a respeito do golpe, ele se irritou e afirmou que era seguro e que em Cuiabá era mais comum do que venda de cd pirata e que ele vivia do negócio. “Eu faço assim, eu compro um carro (Finan), fico alguns com ele e depois revendo, sem erro.”
A desconfiança dele só surgiu quando pedimos para que indicasse algum vendedor da Capital. “Faz o seguinte, compra primeiro a minha S-10, aí a gente se conhece melhor e eu posso até te mostrar os meus ‘amigos’, mas, assim por telefone nem pensar. Eu não te conheço e você não me conhece”, afirmou.
DC