Uma pesquisa na internet foi a porta de entrada para que a nutricionista Carolina de Oliveira Virgolino Coelho fosse vítima de clonagem do aplicativo WhatsApp. Segundo a profissional de saúde, após acessar um post no Instagram e solicitar orçamento, uma mensagem foi enviada pelo direct informando sobre um sorteio da empresa em questão. E, caso quisesse participar, seria necessário passar o contato telefônico. Após receber um código, informar o número recebido.
Ao realizar toda a operação solicitada, Carolina percebeu que caiu em um golpe, mas a certeza só veio ao verificar a página da empresa que enviou mensagem no direct, que era diferente da página original. O nome e a foto do perfil eram iguais, mas o conteúdo era outro.
Assim como Carolina, outras 4.305 pessoas caíram no golpe de estelionato em Mato Grosso no primeiro semestre deste ano. O número é 16% maior que no mesmo período de 2019, quando foram registradas 3.727 ocorrências.
No topo da lista dos registros estão clonagem de WhatsApp (23.9%), seguidos de uso indevido de dados pessoais (15,7%), boleto falso (10.7%), golpe por sites de comércio eletrônico (8,4%), venda simulada/produto não entregue (7,4%), golpe por redes sociais (6,6%), cartão clonado (6.6%), site falso (1,9%), golpe por contato telefônico – funcionário bancário (0.8%) e golpe do falso sequestro (0,4%), dentre outros.
Os dados são da Superintendência do Observatório da Violência da Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp-MT) e correspondem ao total de Boletins de Ocorrências (BO’s) registrados em todo o estado.
Para a Carolina, a efetivação do golpe ocorreu por um minuto de distração. “Eu sou muito atenta às coisas nas redes sociais, mas por um deslize eu caí no golpe. Já fiz o boletim de ocorrência e anunciei nas minhas páginas o ocorrido, mas sei que já tiveram amigos que fizeram a transferência do dinheiro. Ainda pior que cair no golpe é a demora que o aplicativo do WhatsApp leva para cancelar a conta. A minha preocupação é que muitos colegas sejam lesados com o pedido de transferência em meu nome”, argumentou.
Providências
Diante do aumento nos casos de estelionato, o delegado titular da Gerência de Combate a Crimes de Alta Tecnologia (Gecat), Eduardo Botelho, disse que a pandemia da Covid-19 impulsionou este acréscimo, pois as pessoas deixaram de circular nas vias públicas e têm buscado mais atendimentos no mercado virtual.
Para Botelho, uma das medidas de prevenção é o comportamento mais cauteloso nas redes sociais. “Todos que navegam nas redes estão suscetíveis a cair em golpes, o que precisamos adotar é a precaução e questionar as informações que nos são solicitadas. Um exemplo disso é quando a pessoa pede transferência em dinheiro para uma conta que não conhecemos o titular”, enfatizou.
Ainda segundo o delegado, as medidas que devem ser adotadas ao ser vítima de um golpe é procurar uma delegacia para registrar o Boletim de Ocorrência. Posteriormente, em caso de clonagem do WhatApp, acionar o aplicativo para bloqueio da conta e obter um novo chip. As penas para este tipo de crime variam de um a cinco anos de prisão, em caso de condenação.
Prejuízo
Acostumada a pagar contas pela internet e resolver demais pendências pessoais, a aposentada Tereza Rosário de Arruda e Silva foi outra vítima de golpe. Desta vez, sob a alegação de que seu cartão de crédito tinha sido clonado e compras tinham sido efetuadas em outro estado.
O golpista se passou por um profissional de um banco onde Tereza tem conta e disse que outras tentativas de compras estavam sendo realizadas com o cartão. Mas a instituição financeira percebeu que poderia ser golpe e, por isso, estava ligando para ela.
Segundo Tereza, a ligação tinha a música de espera do banco e em todo o tempo o golpista pedia para ela manter ativo o contato via telefone fixo e permanecer com o celular desligado. Ainda segundo o golpista, por se tratar de uma cliente do grupo de risco, o banco mandaria até a casa dela um funcionário para pegar os cartões e senhas para fazer bloqueio e impedir a clonagem do cartão.
“Era uma mulher ao telefone que me dava todas as instruções. Ela tinha todas as minhas informações pessoais e até o quanto eu tinha no banco, quantos cartões e a minha senha, por isso me pareceu ser algo real. Eu não desconfiei do golpe por causa destes detalhes, que são frutos da minha relação com o banco. Só fui perceber algumas horas mais tardes e, neste período, já tinham levado R$ 3 mil da minha conta. O meu desespero foi grande, não apenas pelo prejuízo financeiro, mas toda a questão emocional que desenvolvi após o ocorrido. A sensação é de total impotência”, lamentou.
Prevenção
Com um percentual de 8,4% no total de crime de estelionato, o golpe por sites de comércio eletrônico também tem feito vítimas na hora de comprar e vender. Um dos exemplos é a compra de automóveis e motocicletas, no qual o artifício consiste em apresentar valores abaixo do que são comercializados no mercado para atrair compradores.
Pensando em alertar a população quanto a restes riscos, a Polícia Judiciária Civil (PJC), por meio da Delegacia Especializada de Repressão a Roubo e Furtos de Veículos Automotores (Derrfva), produziu uma cartilha de compra segura. A principal orientação é justamente considerar o valor que está anunciado.
Outras questões importantes para quem compra um bem é realizar a transferência de titularidade após comprovação do pagamento. Neste momento é possível identificar se o objeto é produto de roubo ou furto ou até mesmo clonagem.
“Essa cartilha tem como foco orientar os compradores e vendedores para não caírem em golpes e também não serem vítimas de algum tipo de violência. As pessoas precisam se atentar aos detalhes de todo o processo de compra e venda”, destacou o titular da Derrfva, Gustavo Garcia.
Golpe da Panela
Em julho deste ano, a Polícia Militar alertou a população para um golpe já conhecido por parte da população mato-grossense. Homens e mulheres se passam por vendedores de panelas e utensílios domésticos. Apesar de parecer original, o produto é falsificado.
Faz parte do golpe aceitar pagamentos apenas com o cartão e esta característica serve para copiar os dados bancários das vítimas. Somente no primeiro semestre deste ano, este tipo de golpe representou 1,3% do total de crimes de estelionato.
“Em Mato Grosso, a Polícia Militar focou em um trabalho preventivo, pois nossa equipe já tinha detectado a aplicação deste golpe em anos anteriores e percebemos que o delito voltou a ser aplicado em outros estados. Então, fizemos uma ação de informar a população. Este grupo age em vários lugares, principalmente em estacionamentos de grandes redes de supermercado e farmácia”, destaca o diretor de Inteligência da Polícia Militar, tenente-coronel Fábio de Souza Andrade.
O diretor acrescenta ainda que em caso de ações suspeitas, o cidadão deve acionar a Polícia Militar por meio do 190 ou pelo disque denúncia 0800-653939. As informações são mantidas em sigilo.