Nos 60 anos do golpe civil-religioso-militar de 1964, que destituiu o presidente João Goulart, deu-se à implantação da ditadura que perdurou por 21 anos. Foi o início da queda da democracia. E é dela que quero falar. Para abrilhantar ainda mais seu ideal, trago à cena o romancista, escritor e historiador Joel Rufino dos Santos (1941-2015), preso político por integrar a Ação Libertadora Nacional, organização que pregava a luta armada de esquerda contra a ditadura no Brasil.
São muitas as minhas razões: louvo a participação do carioca na elaboração da ‘Coleção Nova História do Brasil’, entre os anos de 1963 e 1964, que propôs novas discussões para o ensino de História, àquela época extremamente tradicional. Publicada em 1964 pelo Ministério da Educação e Cultura, escreveu conjuntamente com um grupo de intelectuais: Maurício Martins de Mello, Pedro Celso Uchoa Cavalcanti Neto, Pedro de Alcântara Figueira e Rubem César Fernandes, todos em torno do historiador, militar e militante comunista Nelson Werneck Sodré. Nesse mesmo ano, a coleção, incompleta, com cinco volumes, foi suspensa pela ditadura militar, não chegando ao 10º volume como previsto inicialmente. Destaco, ainda, a militância de Joel Rufino dos Santos no movimento negro, acompanhada de volumosa produção literária: O que é racismo (1982), Zumbi (1985), Abolição (1988), Atrás do muro da noite: dinâmica das culturas afro-brasileiras (1994), Saber do negro (2015), dentre outras.
Por falar em livros, recomendo ‘O amor e o nada’, um romance histórico-ficcional, até então inédito, publicado somente no ano passado (na França foi publicado em 2023). Trata-se de um conto de suspense e ação ocorrido no início da década de 1960 culminando no golpe de 1964. Em tempos de cólera, os personagens centrais são Júlia e Luís Vegas. O cenário é a cidade do Rio de Janeiro – Faculdade Nacional de Filosofia (onde o autor estudou), no Largo de São Francisco, zona sul e subúrbio carioca. Direita e esquerda. Militares e militantes. Política, samba e futebol. Entre Júlia e Luís, o incêndio da União Nacional dos Estudantes (UNE), prisões, fechamento da Faculdade Nacional de Filosofia, Bob’s, Vaca Preta. Entre o amor e o nada.
Joel Rufino dos Santos nos deixou um legado, um testamento exposto nos milhares de páginas do conjunto de sua obra direcionado aos públicos infantil, juvenil e adulto. Seus livros-testamentos são espaços de memórias das histórias do Brasil. São documentos-monumentos sobre o golpe de 1964 e dos horrores de seus desdobramentos. Monumentos que exaltam a liberdade. ‘Ditadura nunca mais!’