Para quem traz uma criança ao mundo, a gestação pode ser encarada como um processo de “passagem”. Um momento de intensas transformações no corpo, nas emoções e nas rotinas de muitas mulheres mães. Mas nem sempre essa passagem precisa – e nem deve – ser solitária: as doulas, por exemplo, são aquelas que têm a tarefa de “dar as mãos” durante a travessia.
Doulas dão suporte físico e emocional a gestantes, possibilitando a existência de um parto mais humanizado. Mas esse também pode ser um papel genuíno da arte; não à toa, ela é uma das principais ferramentas de trabalho dessas profissionais, funcionando como um “elemento condutor”.
“Há doulas que fazem a pintura corporal, entendendo a barriga como um lugar de beleza e sacralidade; outras que se dedicam a fazer o carimbo da árvore da vida com a placenta depois que o bebê chega. No puerpério, transformar as vivências do pós-parto em elementos de narrativa. Então são sempre caminhos muito atravessados pela arte”, explica Daniela Monteira, artista, doula, mãe de três filhos e membro da Associação de Doulas do Mato Grosso, a ADOMATO.
Daniela é proponente de um projeto que une artistas, doulas e uma psicóloga para amparar 20 gestantes e recém-mães atendidas pelas Unidades de Saúde da Família (USF) dos bairros Jardim Industriário e Pedra 90, em Cuiabá. Com o ‘Ateliê Gestando Artes’, as profissionais ocuparão um espaço no Jardim Industriário, e ofertarão oficinas artísticas e terapêuticas, todas às quartas-feiras e sábados, entre os dias 24 de fevereiro e 17 de abril.
Vale ressaltar, crianças são bem-vindas e terão a assistência necessária para que suas mães possam realizar as atividades, que acontecem com todos os cuidados necessários contra o contágio da Covid-19. As vagas são limitadas e as atividades acontecerão em área externa e ventilada. A equipe distribuirá máscaras, fará medição de temperatura e o local terá álcool em gel à disposição. Informações sobre a possibilidade de vagas pelo número (65) 99297-5205.
Também integram a programação rodas de conversas conduzidas pelas doulas da ADOMATO, que é parceira do projeto e levará informações importantes sobre o processo de gestação e os direitos da gestante. Essa atividade será aos sábados, nos dias 6 e 20 de março, 03 e 17 de abril, e não tem necessidade de inscrições.
“Chegar dentro do bairro e das comunidades é trazer essa discussão para mulheres atendidas pelo SUS. Hoje temos políticas públicas caminhando, mas ainda precisamos cumprir com esse requisito principal da humanização, que é deixar o protagonismo acontecer onde ele tem que acontecer, centrado em quem está parindo e não em quem está dando assistência”, destaca Daniela.
‘Ateliê Gestando Artes’ é financiado pela Lei Aldir Blanc, por meio do Edital MT Nascentes, realizado pela Secretaria de Cultura, Esporte e Lazer (Secel).
Oficinas artísticas e terapêuticas
Daniela Monteiro dará início à programação com as oficinas de pintura, nos dias 24 de fevereiro e 03 de março. Na vida da artista plástica, que também é mestre em biologia, arte e a doulagem caminham juntas, da mesma forma que a gestação e o parto aparecem em suas pinturas.
“Foi no caminho da gestação que acabei retornando para um lugar abandonado, o espaço do fazer artístico. E essa retomada veio junto também com a minha formação de doula. Hoje também levo as tintas para passear pelas barrigas e carimbos de placenta”, conta.
A programação segue com a artista e pedagoga Alice Pereira, que realiza duas oficinas de manualidades (10 e 17/03) com as gestantes. Nas duas semanas seguintes, a artista Thaís Magalhães soma com as oficinas de modelagem em argila (24 e 31/03). Já a fotógrafa Ju Queiroz ensina técnicas de auto-retrato (07 e 14/03).
“A ideia é de que a gente torne esse momento de passagem da gestação mais significativo e vivido em sua plenitude. Para isso, também precisamos aparar arestas das desinformações que acumulamos nos processos sociais e culturais, lapidar questões estruturantes do patriarcado e mergulhar nas emoções que atravessam esse momento”, explica Daniela.
É por isso que, aos sábados, as rodas de conversa com a ADOMATO serão intercaladas com uma atividade de escuta terapêutica, também chamada de “oficina da palavra”, realizada pela psicóloga e atriz Thaísa Soares. Nessa atividade, ela explica que a arte será um meio das participantes chegarem à palavra como modo de expressão.
“A gente vai utilizar alguns processos artísticos simples e acessíveis para que elas [as gestantes] encontrem maneiras de expressar coisas que às vezes ficam mais difíceis. Medos, angústias, desejos, dúvidas. É um modo, um momento, um espaço muito livre para que elas possam falar e ser escutadas”, explica Thaísa.
Para a psicóloga, a escuta terapêutica é também um “lugar” de protagonismo. “Nos interessa muito que todas possam falar para compartilhar experiências e pensar em maneiras de lidar com diversas situações. É o momento de reconhecimento, em que a gente olha para as singularidades, em como cada uma passa por um momento que é comum. Isso faz toda a diferença na promoção da saúde mental”, complementa.
No último dia, 17 de abril, o encerramento do ‘Ateliê Gestando Artes’ terá exposição das obras e fotografias realizadas pelas gestantes durante o processo de criação das oficinas, das 13h às 19h. Nesse dia, a entrada também será controlada, com limitações e medidas de segurança devido a pandemia.
A programação completa pode ser acompanhada pelas redes sociais, no Facebook (facebook.com/ateliegestandoarte) e Instagram (@ateliegestandoarte).