O guarda municipal Éder Lopes ajudou o gerente de padaria Maurício Rizzo a encontrar a doméstica Maria do Carmo de Lima Paim (Foto: Maria do Carmo de Lima Paim/Arquivo Pessoal)
A doméstica Maria do Carmo de Lima Paim, de 50 anos, já não tinha mais esperanças de encontrar a carteira, perdida no início do mês, quando viajava de Belo Horizonte para Alpinópolis, no Sul de Minas. Mas uma ligação recebida nesta quarta-feira (16) trouxe alívio – e também, de volta, boa parte salário do mês de agosto – para a mineira. “Eu chorava, ria e tremia. Foi um alívio muito grande. Nossa Senhora, meu Deus”, contou a doméstica.
Para que Maria do Carmo conseguisse reaver cerca de R$ 1,5 mil, um cartão de banco e o documento de identidade, ela contou com uma corrente do bem, iniciada por Maurício Rizzo, de 59 anos, que há cerca de um ano e seis meses trabalha em uma padaria, localizada na rodoviária da capital mineira.
No dia 4 setembro, véspera do feriado da Independência do Brasil, Maria do Carmo viajou para visitar a família na cidade natal. Antes de entrar no ônibus, a doméstica, acompanhada de uma amiga, foi até o local, de onde Rizzo é gerente, para comprar um lanche. Na hora de pagar, ela tentou facilitar o troco. Entretanto, ao procurar moedas na bolsa, acabou se distraindo e esquecendo a carteira recheada com quase todo o pagamento do mês.
Maria do Carmo foi dar falta do dinheiro quando já estava em Alpinópolis. “Roubada, eu não fui”, pensou. Ela não sabia, ao certo, em que momento havia perdido a carteira, mas imaginou que pudesse ter deixado cair dentro do ônibus, quando atendeu a uma ligação do pai no meio da madrugada. “Liguei na viação. Depois que eu voltei, liguei todos os dias no achados e perdidos da rodoviária”, disse.
O que Maria do Carmo nem cogitava era que a carteira dela estava guardada – e muito bem guardada – com uma pessoa que, por cerca de duas semanas, tentou conseguir uma maneira de achá-la. Assim que a cliente "esquecida" saiu da padaria, Maurício Rizzo tentou encontrá-la, mas, provavelmente, ela já havia embarcado.
“Isso é salário de quem acabou de receber, quer passear e vai ter uma tristeza grande”, logo imaginou o gerente. Ele diz que, pelo documento de identidade, descobriu que a dona da carteira era de Alpinópolis. A pista, entretanto, não foi suficiente para que Rizzo localizasse Maria do Carmo com auxílio internet.
Nesta quarta-feira, ele decidiu, então, procurar outra ajuda. Foi assim que o guarda municipal Éder Lopes também se tornou um elo dessa corrente em busca da doméstica. “Nós somos servidores públicos. O nosso papel é servir o cidadão e, quando estiver ao nosso alcance, tentar ajudar”, pontuou Lopes.
Com o cartão de Maria do Carmo em mãos, ele ligou para a agência da qual a Maria do Carmo é correntista, contou toda a história para a gerente e pediu para que ela avisasse a doméstica que a carteira dela estava “sã e salva” na sala da Guarda Municipal, na rodoviária.
Se essa estratégia não tivesse funcionado, o guarda diz que já havia pensado em outra. A segunda opção era depositar o dinheiro na conta de Maria de Carmo. Mas não foi preciso. A ligação do banco foi recebida pela doméstica logo depois de ela ter feito a segunda via da carteira de identidade.
Encontrar objetos perdidos faz parte da rotina de trabalho do guarda municipal, mas ele acredita que o final feliz dessa história se deve principalmente ao gerente da padaria. Segundo ele, comumente, as carteiras achadas por lá são entregues no setor de achados e perdidos, mas sem dinheiro.
Rizzo considera que fez o que precisava ser feito. “Deveria ser uma coisa tão comum e, por isso, não deveria receber tanta atenção”, afirmou o gerente da padaria. Maria do Carmo, que disse ter feito um novo amigo, não concorda. A doméstica contou que ofereceu uma recompensa, mas ele não aceitou. Então, ela prometeu trazer um presente da próxima vez que for à terra dela, onde doce de leite e a cachaça são tradicionais.
“Isso é uma coisa que tem que ser mostrada, mesmo, para amolecer os corações que hoje estão tão duros, para a gente acreditar que existe gente boa no mundo”, concluiu Maria do Carmo.
Fonte: G1