Circuito Cinema

Funkeiro que atua em “Alemão” ensinou linguajar do tráfico ao elenco

 
Autor de músicas como "O Blindado Não Intimida" e "Coração de Ouro", MC Smith tem uma outra canção de sua autoria na trilha sonora do longa. É ao som de "Vida Bandida" que Cauã aparece dançando na laje e empunhando uma arma. "O reconhecimento depois desse filme está surreal. É muito gratificante por eu ser um funkeiro. Não sou aquilo que eu canto, eu sou um cara sensível, de família, não fumo, não bebo. Amo e transpiro arte. Esse é o meu vício", disse ele.
 
Além da participação como ator e cantor no filme, MC Smith também deu consultoria para o diretor e para o elenco de atores sobre a vida em uma favela e o linguajar do mundo do tráfico. "Convivi com isso. Eu morava no morro do Caracol, do lado do morro da Chatuba, onde rolava o famoso baile funk. A minha casa era embaixo de uma boca de fumo", lembrou.
 
MC Smith disse que, ao enveredar para o cinema, quis cruzar a linha de arte. "Porque funkeiro, para a mídia, é algo estranho, e tudo que incomoda é ruim", criticou. O funkeiro foi descoberto pela equipe de "Alemão" em março de 2013 durante os testes para o filme. Ele foi escolhido para contracenar com o núcleo do "movimento" (o tráfico liderado por Playboy) e virou amigo de Cauã Reymond. MC Smith cedeu sua casa para realizar laboratórios com o ator antes das gravações das cenas. "Ele ficou na minha casa uns dois dias para laboratório. É um cara super gente fina, muito dez".
 
"Dei dicas para todo mundo [do filme], eles me sugaram muito e eu suguei deles. Foi uma troca. Eu quis dar naturalidade aos atores no que eles sabem fazer de melhor, interiorizar o personagem. Quis passar como o policial lida com o bandido, como o bandido lida com o policial. Ali a lei é do mais forte", disse.
 
Lembranças da mega operação no morro
 
Há oito anos circulando pelo universo funk, MC Smith contou que os traficantes do morro lhe diziam para não entrar para o tráfico. "Foi uma coisa louca. Todos os meus amigos entraram e falavam que o meu mundo não era o tráfico, não era o fuzil. Diziam que podia ser o último herói deles". Ele compara sua vida a do jogador de futebol Adriano, que viveu a infância na Vila Cruzeiro, no morro do Alemão, e começou a carreira no Flamengo.
 
Um dia marcante para o cantor é 28 de novembro de 2010. Naquela manhã, o complexo de favelas do Alemão foi ocupado em uma mega operação militar para expulsar o tráfico de drogas da região. MC Smith estava lá. "Eu morava perto. Tinha a mania de subir no morro quando terminava de malhar. Daí vi as viaturas e tanques chegando, fui rápido para casa para não ser abordado pela polícia. Tive que ir embora [do morro] para não sofrer represálias, por ser conhecido como o MC do proibidão".
 
Segundo o cantor, a época dos grandes bandidos e traficantes de drogas o ajudou a crescer. "Eles tinham a vida deles e seguiam o seu caminho. Eu traficava arte, fazia balé e jogava futebol". Mas nem sempre vida de Wallace foi de sucesso. O cantor foi preso em dezembro de 2010 acusado de apologia e incitação ao crime, associação ao tráfico e formação de quadrilha.
 
"Eu entro em comunidades rivais sem bonde, sem nada, só com a minha música, e consigo passar a mensagem. E se eles [policiais] entrassem com a mensagem como fazem grupos de teatro, o tráfico iria acabar. A pacificação só leva o militarismo, e não o social. É o que falta. O povo não quer cesta básica, o povo quer cultura".
 
Em menos de uma semana da estreia do filme nos cinemas, MC Smith já torce para uma sequência de "Alemão". "A gente não sabe como vai ser. O tráfico pode voltar, o Cauã pode se converter e entrar para a igreja ou virar funkeiro. O destino é implacável".
 
UOL

Redação

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