Os emblemáticos desenhos são definidos em um jogo de luz formado pelos relevos, ora em tom mais claro, ora mais escuro. Silva explica que, com o tempo, aprimorou a técnica para representar a bandeira brasileira. “Agora é mais fácil, mas no começo eu tinha mais trabalho para fazer o desenho”, diz o funcionário. O auxiliar não tinha intimidade com o desenho. Em casa, rabiscava carrinhos e casas, mas nada sofisticado. No ano em que começou como auxiliar de serviços gerais costumava brincar de fazer desenhos abstratos no carpete, o que não agradou muito o chefe na época. No ano em que o filho Marcus Vinícius nasceu, Silva ganhou inspiração, pegou o equipamento de trabalho, alisou as cerdas, aspirou daqui, escovou acolá e pronto: surgiu uma belíssima bandeira do Brasil.
“Tinha um espaço vago lá, em branco, que eu achei que podia servir para fazer algo bonito”, relembra. Até as cerdas se acostumarem com o traçado, que começou em 1998, Silva contava com a ajuda de um aspirador para moldá-las e esculpir a bandeira nacional. Hoje o trabalho é retocado uma vez por semana.
A obra em autorrelevo fez sucesso entre os colegas e agradou ao chefe, que autorizou a exposição do desenho. Clodoaldo nunca imaginou que o trabalho fosse durar tanto tempo, mas com a repercussão, a bandeira se tornou atração turística e história obrigatória das visitas guiadas ao Senado. Dessa parte, Silva gosta muito. “Eu fico muito orgulhoso, principalmente quando as crianças veem e ficam admiradas. Gosto muito também quando muitos turistas pensam que a bandeira é pintada no carpete e não apenas desenhada com a escova do aspirador”.
O filho também tem admiração pela homenagem feita pelo pai. Silva já levou o garoto, agora com 15 anos, para apreciar o tributo. “Ele falou “legal, legal”, com aquele jeito de adolescente.
Em 2002, a bandeira nacional ganhou duas ilustres companhias no carpete azul do Senado. Primeiro, o ajudante de serviços gerais desenhou o Congresso Nacional. Dois anos depois, a Catedral de Brasília virou “vizinha” da bandeira e do Congresso Nacional no carpete do Senado.
“Não é difícil desenhar, as obras de Niemeyer são lindas, mas também são muito simples. Os traços são simples e não dão trabalho”.
Tímido, Silva se recusa a falar sobre política e justifica. “Estamos em uma Casa política, pode dar problema”. Mas quando questionado sobre os protestos que sacudiram o País, ele é categórico e incentiva as manifestações.
“Não pode parar não, tem que continuar. Se eles param na rua, aqui também para. Eu só não gosto de bagunça, da baderna, mas sou a favor dos protestos na rua. Eu apoio, acho bonito”.
Assim como os jovens que saíram às ruas e marcaram a história do País, Silva tem a certeza de que deixou a contribuição e o nome dele na história do Senado Federal.
Fonte: R7
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