A Itália me chama, mas não posso chegar lá (ainda). Dessa vez fui despertada por um alerta do Periscope, aplicativo de transmissão de vídeo em tempo real (streaming) do Twitter. Fui parar, ainda dormindo, na abertura da edição 2015 da Artíssima, a feira de arte contemporânea que agita Torino, no Piemonte, no primeiro final de semana de novembro. Em 2013, o evento que ocupa o Oval, pavilhão do Lingotto Fiere, rendeu o texto “Torino, Corso dell’Arte Contemporânea” em que explorava o evento italiano.
Um pouco mais tarde, outro alerta. Dessa vez é um email da Mendes Wood DM,(de Pedro Mendes, do time de curadores da Artíssima), uma das três galerias brasileiras, dentre as 207 participantes, de 35 países, com obras de Paulo Nimer Pjota. Do Rio, comparecem A Gentil Carioca com peças de João Mode, Rodrigo Torres, Maria Laet, Laura Lima, Thiago Rocha Pitta e a Luciana Caravello, com Nazareno. Artistas brasileiros como Matheus Rocha Pitta e Paulo Nazareth, estão representados nas galerias Sprovieri, de Londres, e Franco Noero, de Torino, respectivamente.
Por que não estou lá? Pergunta uma parte do meu cérebro adormecido. Já totalmente desperta tento responder ao questionamento e volto no tempo. Agora, até Milão onde vi, na mesma viagem, um detalhe que me incomodou, narrado na crônica Tiro ao Alto: a poluição visual da cidade, com banners e penduricalhos referentes a Expo Milano 2015 que, com o tema “Nutrir o planeta, energia para a vida”, movimentaria (e inflacionaria) a cidade lombarda de maio a outubro.
“Alimentando o mundo com soluções”. Com esse slogan lá estivemos nós, nos últimos 6 meses, entre os 145 países que ocuparam gigantescos pavilhões, uma área de 1.1 milhão de metros quadrados, para receber um público estimado em mais 20 milhões de visitantes. O brazuca tinha 4.133 metros quadrados e várias bossas. Entre elas, uma rede suspensa por onde os visitantes passeavam. De 2013 pra cá procurei (sem muito sucesso) informações do que apresentaríamos por lá. O melhor canal, acreditem, era nas notícias veiculadas na Itália. Foi lá que descobri como seria nosso pavilhão, seu projeto arquitetônico e outros detalhes. Queria saber quais as premissas que norteariam nossa participação. Quando a EXPO começou, achei um site oficial que mencionava algumas receitas que seriam apresentadas por lá. Junto a tradicional Caipirinha aparecia um drink chamado Diabo Roxo. Lado a lado com a Feijoada, uma receita de Macarrão com Molho de Soja! Como estava numa fase “paz e amor” preferi não polemizar e acompanhar o que os outros países apresentariam de interessante.
Vi, mais uma vez, o Brasil na fita quando o ex-presidente Lula pontificou numa foto premonitória, literalmente andando na corda bamba, dando pinta na tal rede “multissensorial e imersiva”, atração do pavilhão brasileiro. E assim se passaram os meses do evento que lotou e movimentou a Lombardia, o Piemonte e o território italiano, razões pelas quais não fiz nenhum esforço para visitar a Itália neste período. Ainda mais com a desvalorização de nossa moeda…
Nada chamou minha atenção positivamente nesse intervalo, especialmente porque expor produtos pecuários e agrícolas como frutas, entre elas morangos (aqueles entupidos de agrotóxicos), não era exatamente relevante para a sustentabilidade planetária. Não estávamos ali para discutir ou inovar, mas para vender o peixe institucional sem maiores questionamentos.
Até o evento dos dois últimos dias no pavilhão: o lançamento do Centro Global de Gastronomia e Biodiversidade da Amazônia. Ele será implantado no Complexo Feliz Lusitânia, em Belém do Pará, para viabilizar a pesquisa, o ensino e formação, o fomento econômico, turístico e cultural, com uma escola de gastronomia, laboratório de alimentos, barco-cozinha, museu e restaurante. Pois não é que veio da cidade que completará 400 anos em 2016 a proposta que mais se coaduna com o tema da ExpoMilano? Como sempre, o Pará. Surpreendente e na vanguarda…
A mais de 3.000 quilômetros no rumo sul, em Uruguaiana, Rio Grande do Sul, juro que em breve atravessarei o país e, novamente, mergulharei nos sabores e saberes paraenses. Enquanto aguardo o inverno passar para, quem sabe, matar o desejo de explorar, mais uma vez, a terra de meus antepassados, a “Bella Italia”.