Mas se o olhar deles está na direção contrária à da bola, o coração não está. E ainda bem que as fisionomias dos torcedores são um espelho: refletem o que está acontecendo no jogo. “Olhando para o torcedor, percebo o que está acontecendo. Se ele se levantar, é porque está rolando um lance de perigo”, conta Mac Dowel Bezerra Cavalcanti, 39 anos, que foi escalado para trabalhar no gramado do Maracanã no jogo Argentina e Bósnia, no domingo.
Cavalcanti, que já trabalhou como steward em três partidas do Campeonato Brasileiro, admite: quando é o seu time, o Fluminense, que está jogando, dá uma viradinha rápida para ver os lances. “O fiscal dos vigilantes que fica no gramado dá bronca quando vê que nós viramos para olhar o campo, mas vale a pena”, diz Cavalcanti.
Marco Aurélio dos Santos, 40 anos, que trabalhou como segurança de costas para o gramado enquanto a Seleção Brasileira disputava a Copa das Confederações, também confessa que não resistiu à tentação de ver ídolos jogarem.
“Na Copa das Confederações, vi Neymar, David Luiz, Marcelo, Oscar, Fred e o Hulk, que é forte para caramba. Na Copa do Mundo, tenho que aproveitar, porque é a primeira vez que vou participar da Copa, e é no Brasil”, diz. Santos sonha em ver Neymar jogando, caso o Brasil dispute a final, que acontecerá no Maracanã. Mas no domingo, dia em que a Argentina joga contra a Bósnia no Maracanã, vai realizar um sonho. “Vou ver o Messi jogar. Não vou conseguir, vou olhar o jogo”, diz Marco Aurélio.
No entanto, ele conta que dependendo da reação da torcida, prefere nem olhar o que está acontecendo no gramado. “Se os torcedores colocam a mão na cabeça e abaixam a cabeça é sinal que foi gol contra time pelo qual eu estava torcendo. Aí eu não olho não”, afirma.
Para uma categoria que tem piso salarial de R$ 1.066, comprar ingressos para a Copa do Mundo é algo difícil, mesmo que com muita economia. Quem for escalado para trabalhar no Maracanã, que terá cerca de 1.600 vigilantes por dia, vai ganhar R$ 15 por hora, mais vale-transporte e tíquete-refeição. Mas não é só pela oportunidade de ganhar dinheiro que os stewards lutam pela chance de trabalhar em jogos no estádio. “Nós vamos disputar para ver quem vai trabalhar na final na Maracanã”, diz a vigilante Paula Carvalho, 32 anos.
As mulheres, segundo a vigilante Ellen da Silva de Lima Souza, 32 anos, têm menos chances de serem chamadas para trabalhar no gramado e costumam ser convocadas para trabalhar nos portões e nas áreas vips. “Normalmente eles preferem que os homens altos e fortes fiquem no gramado, porque eles trazem mais segurança, intimidam mais”, afirma Ellen, que vai trabalhar na segurança do Mineirão, em Belo Horizonte.
Caso o Brasil vá para a final da Copa 2014, os stewards acreditam que o clima no Maracanã vá ser tenso, mas não tanto pela possibilidade de os torcedores infringirem as regras do Estatuto do Torcedor. “Vai ser apreensivo porque vai ser difícil me conter. Sou torcedor e não sei quando vou poder ver o Brasil jogar de novo”, diz Cavalcanti.
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