Para escrever crônica não existe o clima perfeito. Varia de acordo com os acontecimentos. Aqui, foram centenas de textos semanais produzidos ao longo de vários muitos anos.
Começaram na Ponta do Leme em caderninhos e uma letrinha miúda que dava asas à imaginação. Eram urdidos sonhos e exercícios filosóficos temperados com observações do entorno daquele que é o paraíso insubstituível para a cronista. Dividiram-se em séries. Viajantes, delirantes, foliãs. Dependendo da época, da temporada e da levada da vida. Até que…
Num surto voluntário e intransferível a autora se auto-exilou num reduto do outro lado do túnel buscando a incomunicabilidade com o universo que a cercava. Seu contato com o mundo exterior (o que, cá entre nós, corrobora a ausência de proximidade com a realidade) é feito por meio de um extraterreste – isso mesmo – o diligente Pluct Plact.
Diz a lenda que ele está preso na atmosfera terrestre por falta de condições para se lançar no espaço sideral. Não pensem que ainda não tomou o rumo estelar por vontade própria. Foram várias tentativas infrutíferas e mal sucedidas de partir desse para qualquer planeta melhor. E olha que está fácil. Qualquer lugar anda mais amigável do que a Terra nessas últimas rodadas no tabuleiro interplanetário.
Osso duríssimo de roer o mundo cão que nos cerca. Pluct Plact nem tem conseguido sistematizar as informações para poder criar um quadro compatível com a irrealidade de sua amiga, a cronista reclusa. Nem com jornada contínua de trabalho é possível acompanhar o supersônico desenrolar dos acontecimentos. E olha que não é preciso abrir muito o raio de observação.
O que parece novo agora já está sendo suplantado pelo desenrolar ladeira abaixo dos acontecimentos. A falta que anda fazendo os conselhos do marqueteiro, o erro na escolha do sucessor do Ministro da Justiça, agora Advogado Geral. Tipo do tiro que vai para o que viu e acerta em muitos que não viram. Sobrou para todos os níveis da administração pública. E foi efeito gota no lago: circular, ampliado e contínuo.
Tem muita pirotecnia. Mas como sempre, os tiros certeiros, não vêm das armas do inimigo. São disparados por vídeo selfies amadoras, lançadas no mundo virtual sem a devida e necessária revisão. Com amigos assim, quem precisa de adversários? A velha máxima política de “quanto menos conversa, nenhuma” sucumbe diante de exaltados discursos que desafiam instituições e poderes públicos e geram um pedido de prisão preventivo. Nunca antes nesse país!
Tudo é ou oito ou oitenta, sem direito a meio termo. Só que todo mundo sabe que a oposição sozinha não faz verão. Então terá e haver composição! Hoje tem convenção daquele partido que sabe abandonar o barco deixando apenas o rebotalho para trás. Foi assim e assim sempre será.
Domingo é dia de manifestações pelo país…
Não, não está tranquilo, muito menos favorável para o lado do mensageiro das galáxias. Teme que o choque e o peso de bigorna das últimas e irrefreáveis novidades profunde ainda mais o desejo de se desconectar do mundo da amiga sonhadora.
A prefere em estado de encantaria a ter que jogá-la diante de tanta informação e tamanho descontrole. Pra que? Melhor seria deixa-la delirante e introspectiva a expô-la a tantos lances rocambolescos e as tenebrosas transações que se revelam num ritmo incontrolável.
Para estimula-la leva para o outro lado do túnel uma deliciosa informação. A publicação, no livro de Ivan Belém, “Liu Arruda, a travessia de um bufão”, do texto produzido pela delirante cronista, em 1999, “Praquem fica, tchau”.
Muitos fios de pensamentos poderão ser usados para bordar na imaginação como o irreverente ator e sua Comadre Nhara abordariam a sequência infindável de quiproquós. Sem dúvida, daria mais de uma crônica.
Melhor, então, contar as últimas novidades também…