Alegando uso do recurso de forma irregular, o deputado estadual Zeca Viana (PDT) pretende ingressar com uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) contra o governo do Estado. O objetivo final seria anular a lei que instituiu o Fethab, embora reconheça a importância dos recursos para a manutenção das estradas. “Sei da importância do Fethab, mas infelizmente ele não está sendo aplicado corretamente”, alega o parlamentar.
Além do ‘desvio de função’, o pedetista também alega uma suposta ‘bitributação’, já que, afora os valores pagos pelo Fethab, existe ainda a concessão de rodovias à iniciativa privada, o que consequentemente acarretará o pagamento de pedágio nas estradas.
Para o analista político Alfredo da Mota Menezes a discussão é perigosa para Mato Grosso. Isto porque, segundo ele, sem o Fethab o Estado não tem um centavo próprio para investir em fatores produtivos. “O assunto tem que ser analisado com cuidado por Mato Grosso, pois são R$ 800 milhões ao ano, isso pode representar um baque ao Estado”, analisa.
Não obstante, Menezes ainda alerta para o fato de que deve haver bom-senso na ‘condução’ do assunto. “Acredito que isso possa ser uma briga de implicação política. É fundamental que isso não acabe numa discussão no plano federal, visto que não existe constitucionalidade no Fethab. Se o fundo fosse constitucional, já teria se espalhado para outros estados do Brasil. É preciso muita cautela nessa discussão e o melhor negócio para o governo é não deixar esse tema ir para o plano jurídico federal”, assegura o analista.
Movimento quer abrir ‘caixa-preta’ do Fethab
Segundo Neila, todos os anos a situação de caos e descaso se repete em boa parte das cidades do interior do Estado, que não recebem investimentos à altura das altas taxas pagas ao Fundo de Transporte e Habitação. “A região do Araguaia, por exemplo, tem muitas necessidades que nem de longe são atendidas pelo Fethab”, pontua.
A empresária afirma que o Movimento busca uma maior transparência quanto à aplicação dos recursos, já que, segundo ela, ao menos visivelmente não é possível perceber melhorias significativas no setor do transporte em Mato Grosso. “A gente sabe que o fundo tem uma arrecadação milionária, especialmente aqui na região do Vale do Araguaia. O que a gente quer é saber quanto de fato é arrecadado e onde está sendo investido este dinheiro, pois por aqui a gente não vê melhorias”, desabafa.
Ao Circuito Mato Grosso, a empresária que desde 2003 está na região conta que cansados de esperar as melhorias prometidas pelo Governo do Estado, produtores e empresários colocam a ‘mão no bolso’ na tentativa de solucionar problemas logísticos e terem como escoar a produção da região.
“Acredito que aqueles que defendem o fim do Fethab estão corretos, porque não estamos vendo retorno algum. Ou acaba com o fundo ou então nos mostrem em que os milhões estão sendo investidos”, disse Neila, ao afirmar que o Movimento buscará nos próximos dias reunir uma série de lideranças na tentativa de sensibilizar o Governo da necessidade de investimento no Araguaia.
Aprosoja não descarta medida judicial
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Fávaro assegurou, no entanto, que o que não se pode admitir é que os recursos sejam destinados a outras finalidades que não às áreas de transporte e habitação. “Entendemos que o fundo deve se destinar às finalidades propostas originalmente. Por isso encomendamos esse estudo jurídico. Caso o fundo não esteja sendo usado para sua função específica, iremos propor uma ação judicial para que ele acabe”, advertiu o presidente.
A reportagem procurou também outras entidades no sentido de ouvir as implicações que o Estado poderia sofrer com o fim do Fethab. Por meio de suas assessorias de imprensa, a Associação Mato-grossense dos Produtores de Algodão (Ampa) e o Sistema Famato preferiram não se manifestar, alegando que o tema ainda encontra-se no campo da especulação.