Se a pandemia do novo coronavírus mudou a rotina do mundo, agora, impacta diretamente numa das festas mais tradicionais do Rio de Janeiro: o réveillon na Praia de Copacabana. A prefeitura comunicou neste sábado que a comemoração, no modelo em que o público está acostumado a celebrar, não será possível para celebrar a chegada de 2021. O comunicado do município ressalta que é possível festejar para além da reunião de 3 milhões de pessoas na Praia de Copacabana, cartão postal de importância para a data. A ideia, a ser debatida nos próximos dias, é que sejam apresentadas alternativas, que envolveriam até um formato virtual da festa, com transmissão por TV e plataforma digitais.
Mesmo num novo formato, a parceria com a iniciativa privada seria necessária para a realização do espetáculo, segundo a Riotur informou em nota. A organização, de acordo com a pasta, ainda é possível de ser feita pois os preparativos e estudos têm sempre início em agosto. Sendo assim, estaria dentro do cronograma esperado.
Na semana passada, no dia 17, a prefeitura de São Paulo anunciou o cancelamento de sua também tradicional celebração da virada de ano na Avenida Paulista. A mudança no calendário também foi motivada pela pandemia da Covid-19.
Na última festa de réveillon carioca, as areias de Copacabana ficaram tomadas por mais de 3 milhões de pessoas. A tradicional queima de fogo, com programação de shows durante toda a noite do dia 31 de dezembro, é um dos principais cartões postais do Brasil para a data, sendo a maior festa do país.
Há um mês, a prefeitura já sinalizava buscar por formas alternativas de celebrar a chegada do novo ano sem programações para levar milhões de cariocas e turistas para as ruas. A transmissão de shows pela internet era cogitado. A expectativa era de queda no número de casos de infecção pela Covid-19 e um controle ao ponto de evitar uma nova onda de contágio.
Na avaliação do presidente da Associação de Hotéis do Rio (ABIH-RJ), Alfredo Lopes, a decisão da prefeitura é "um absurdo", e impacta as operações do setor, que chegou a ter 80% dos estabelecimentos fechados e cerca de 20 mil empregos suspensos na quarentena. Segundo dados da entidade, a ocupação na capital está em torno de 15% a 20% da capacidade. Para Lopes, uma saída para evitar aglomerações na Praia de Copacabana seria distribuir pontos de queima de fogos na orla da cidade.
— Nós vínhamos conversando, inclusive com o presidente da Riotur, com a proposta de fazer queimas de fogos em vários pontos e de não ter shows em Copacabana. Era uma forma de não ter concentração no bairro. É um total absurdo a prefeitura, unilateralmente, sem conversar com a iniciativa privada, que tem mais de R$ 20 bilhões de investimentos e geram 100 mil empregos, cancelar sem ter um plano B, o que é facílimo. O Carnaval até concordamos que seja adiado, mas, o cancelamento da festa do réveillon é um absurdo total! É muito diferente de São Paulo, que não tem pontos turísticos como tem no Rio. A proposta era fazer pontos de fogos descentralizados pela orla e, com isso, não teria aglomeração — argumenta.
Recorde de público
A cidade atraiu, na reta final de dezembro de 2019, 1,7 milhão de turistas, um recorde se comparado aos anos anteriores. O número representou aumento de 21,4% de visitantes. Nos últimos dias do ano passado, a ABIH já contabilizava ocupação superior a 95% dos quartos para o fim de dezembro e o início de janeiro. A taxa, em 2017, foi de 89% e, em 2018, de 90%. Segundo levantamento do Sindicato dos Meios de Hospedagens do Município do Rio de Janeiro (SindHotéis Rio) realizado no dia 30 de dezembro, a ocupação foi de 100% na noite da virada.
Segundo a Riotur, o ano de 2019 foi bom para o turismo no Rio. De janeiro e novembro, a cidade registrou alta de 12% no desembarque de passageiros no Píer Mauá. Na Rodoviária Novo Rio, o aumento foi de 5%. O fluxo de visitantes em pontos turísticos também aumentou: o Trem do Corcovado registrou crescimento de 17%, e o Pão de Açúcar, de 7%.
Carnaval ainda incerto
A folia do próximo ano sente os impactos da pandemia da Covid-19 desde agora. As agremiações estão com dificuldade de manter as contas em dias com os eventos paralisados em suas quadras. A Estação Primeira de Mangueira foi a primeira a contar sobre o vermelho nos pagamentos. Outras escolas de samba admitiram estarem em contenção de gastos e precisando recorrer até à dispensa de profissionais.
O momento é de incertezas sobre o que – e como – será feito no próximo Carnaval. Em nota, a Riotur informou que o presidente da pasta, Fabrício Villa Flor de Carvalho, tem se reunido (virtualmente) com o presidente da Independente das Escolas de Samba (Liesa), Jorge Castanheira, para tratar sobre os desfiles das agremiações na Marquês de Sapucaí. A demora na definição já impactou o cronograma da festa, como as vendas de ingressos para o setor turístico do Sambódromo, temporariamente suspensas à pedido da liga.
A folia de rua segue pelo mesmo caminho de dúvidas. Não houve, até o momento, qualquer definição sobre a festa. Num cenário de pandemia, não precisaria ser megabloco para causar aglomerações pelas ruas do Rio, um dos fatores de maior preocupação. A Riotur afirma estar em contato com o Grupo de Atuação Especializada em Segurança Pública do Ministério Público (GAESP) sobre as possibilidades de protocolo.