Convocada por redes sociais pelo MBA (Movimento Belas Artes), grupo que luta pela reabertura do cinema desde o fechamento do espaço, em março de 2011, a festa teve banda e DJs que se apresentaram voluntariamente.
O cartunista Paulo Caruso, de 64 anos, que diz que sua educação sexual começou com filmes de Luis Buñuel vistos no Belas Artes, foi um dos que compareceram. "Venho aqui desde que era menino", afirmou. "Cinema de rua tem interação com que está acontecendo no entorno", opinou.
O deputado estadual Carlos Giannazi (PSOL), que diz frequentar o espaço desde o final dos anos 70, quando tinha 17 anos, também compareceu para comemorar o anúncio da reabertura de um dos poucos cinemas de rua que sobraram na cidade de São Paulo. "Cinemas de rua fazem parte da história do cinema nacional. Pessoas que não curtem, que não vão em shopping center, têm essa alternativa. Esse tipo de cinema unifica mais as pessoas", diz o deputado, que conta ter assistido filmes como "O Último Tango em Paris" e "Lamarca" no local.
O deputado, que foi candidato à Prefeitura de São Paulo em 2012, disse ter ficado "horrorizado" com o fechamento do espaço. Ele é autor de um projeto de lei que visa obrigar que o Estado desaproprie o prédio onde funciona o cinema de maneira definitiva. "O cinema vai ser reaberto com um convênio com a Caixa, agora esse convênio pode ser extinto em algum momento, por uma mudança de governo, então queremos algo mais concreto", disse. O projeto tramita, ainda na fase de comissões, na Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo).
Uma das líderes do MBA, a turismóloga Eliane Manfre, de 47 anos, afirmou que a articulação pela reabertura do cinema começou com passeatas que tentavam evitar o fechamento, em março de 2011. Os apoiadores do cinema se conheceram nessas passeatas e, após o fechamento, começaram a articular o grupo.
Ela conta que, a partir da reabertura, prevista para ocorrer até o meio do ano, o cinema terá um convênio com escolas públicas da região para exibir filmes e realizar atividades com alunos. "É uma conquista do movimento", disse.
O músico Adler São Luís, que nasceu no Maranhão, cresceu no Rio e se radicou em São Paulo, disse ter comparecido para comemorar o fato de voltar a ter um cinema de rua próximo à sua casa. "Cinema de rua é mais gostoso, não tem nem como comparar", diz. "É que nem você estar tomando um chopp dentro de um shopping center com aquele barulho e você estar no boteco pé-sujo da esquina, onde você pode ir, conversar com todo e qualquer tipo de pessoa. Ele não sectariza a população, não sectariza o público", completa.
Durante a festa, alguns dos apoiadores fizeram uma pausa para ir até a porta do cinema, localizada a poucos metros da praça do Ciclista, e tirar fotos na frente da fachada abandonada. Aos gritos de "Viva o Belas Artes" e "Volta Belas Artes", eles estenderam uma faixa que exalta o esforço do movimento para que o local voltasse a funcionar.
Inaugurado em 1943, com o nome de Cine Ritz, o espaço encerrou as atividades em 17 de março de 2011, após perda de patrocínio, aumento do valor do aluguel do imóvel e não renovação do contrato entre o proprietário do prédio e a administradora do cinema.
Em outubro de 2012, O Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico), órgão ligado à Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo, aprovou o tombamento do cinema, localizado na capital paulista.
Com a decisão, nenhuma alteração na fachada do imóvel do antigo cinema localizado na esquina da rua da Consolação com a avenida Paulista pode ser feita sem autorização prévia.
Uol