Pela terceira vez seguida, o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) cortou ontem em 0,25 ponto porcentual a taxa básica de juros do EUA, mas sinalizou que deve diminuir o ritmo das reduções a partir de 2025. Agora a taxa está em um intervalo entre 4,25% e 4,50%.
De acordo com o Fed, a projeção agora é de que haverá só mais dois cortes de 0,25 ponto porcentual no próximo ano – em setembro passado, a autoridade monetária previa quatro reduções da mesma intensidade em 2025.
O Fed ressaltou que a taxa de juros está hoje próxima do que classifica como “neutra” – nível que não estimula nem atrapalha a economia. “Hoje foi uma decisão mais difícil, mas avaliamos que foi a certa porque era a melhor para promover os nossos dois objetivos: o de emprego máximo e o de estabilidade de preços”, avaliou o presidente do Fed, Jerome Powell, em entrevista coletiva ontem à tarde.
O corte do Fed veio em linha com as projeções do mercado e a despeito de uma inflação resistente no país. “Quanto a cortes adicionais, vamos procurar mais progresso na inflação, bem como força contínua no mercado de trabalho”, disse Powell.
Segundo ele, o Fed está já no momento ou bem perto dele de que será apropriado desacelerar o ritmo de novos cortes nos juros americanos. “Acho que as expectativas de menos cortes para o próximo ano realmente reflete tanto as leituras de inflação mais altas que tivemos este ano, quanto a expectativa de que a inflação será maior”, explicou.
Powell reafirmou o compromisso da entidade em reduzir a inflação para a meta de 2% ao ano. De acordo com ele, a economia está “forte” e fez “progressos significativos” em direção ao alvo perseguido.
“Estamos comprometidos em manter a força da nossa economia dando mais suporte ao emprego e retornando a inflação à nossa meta de 2%”, afirmou Powell.
O presidente do Fed destacou ainda que um nível de emprego estável ajuda a autoridade monetária na sua tarefa. “As condições no mercado de trabalho estão agora menos aquecidas do que em 2019”, disse. “Hoje, o nível de emprego não é uma fonte de pressões inflacionárias significativas”, acrescentou o presidente do Fed. “Não achamos que precisamos de mais resfriamento no mercado de trabalho para que a inflação fique abaixo de 2%”, disse Powell.
PROJEÇÕES
As reduções na taxa básica de juros durante todo este ano reverteu uma tendência dos 24 meses anteriores, em um movimento que reduziu a inflação, mas também tornou os empréstimos muito mais caros para os consumidores americanos. Mesmo com a carestia sob controle, o indicador de inflação preferido do Fed, que exclui as categorias mais voláteis, foi de 2,8% em outubro – acima dos 2% perseguidos pela autoridade monetária.
Segundo Powell, há incertezas elevadas sobre os riscos de novas pressões inflacionárias nos Estados Unidos. “A inflação diminuiu significativamente nos últimos dois anos, mas continua um pouco elevada em relação às nossas estimativas de meta de longo prazo”, disse o presidente do Fed.
Para ele, há preços que deveriam estar caindo, mas permanecem “intactos” por diversos motivos como, por exemplo, pressões dos setores de morarias e de serviços. “Ainda estamos nos desfazendo dos grandes choques que a economia teve em 2021 e 2022”, afirmou. Os indicadores, conforme ele, não apontam uma inflação “persistentemente alta” nos EUA, mas apenas para uma “queda lenta”.
A eleição de Donald Trump também torna o cenário econômico menos previsível para o próximo ano. “Tenho poucas convicções sobre o que vai acontecer com a economia nos próximos 12 meses do que tive em anos”, disse Subadra Rajappa, chefe de estratégia de taxas dos EUA na Societe Generale. (COM AP)