Apesar de ficar em Ceilândia (DF), a situação da favela junto ao Estado ainda não está totalmente regularizada. Por isso, a população não tem infraestrutura e sofre com a ausência de serviços públicos como saneamento básico, saúde, segurança, educação e coleta de lixo. Nas ruas da cidade, que começou como uma ocupação há pouco mais de uma década, o esgoto corre a céu aberto na porta das casas dos moradores, que são obrigados a conviver com poeira e sujeira.
Bocas de fumo e áreas usadas como desova de veículos roubados que foram desmanchados se misturam aos cenários residenciais, onde crianças brincam e famílias inteiras lutam pelo apoio estatal. O comerciante Geraldo Araújo Paula, de 47 anos, mora no Sol Nascente há oito anos e disse que lá é um dos "piores lugares para se viver". Ele explicou que as autoridades só dão atenção ao local nas vésperas das eleições, mas garantiu que nenhuma das promessas feitas até hoje foi cumprida
— Há três anos decidi montar meu mercado e já vi de tudo. A gente não tem polícia, bombeiro não vem aqui, segurança zero. Para pegar ônibus é preciso andar de 20 a 30 minutos até chegar na parada mais próxima e as ruas são estreitas, esburacadas e recebem todo o esgoto do "P" Norte. Quando é época de eleição os políticos aparecem com várias frases e planos bonitos, mas fica só na teoria.
O comerciante explicou que o tráfico de drogas, a violência e a briga entre gangues rivais dominam a população durante as "24 horas do dia". Para ele, até "a polícia tem medo de aparecer".
— Direto vejo gente morrendo, acerto de contas e muitas vítimas inocentes. Quando a gente chama a polícia ou os bombeiros eles levam horas para chegar e quando aparecem já está tudo feito, parece que é proposital. O trabalho de prevenção deles não acontece simplesmente porque a própria polícia tem medo de brigar com os bandidos daqui. Para morrer nessas ruas basta estar vivo. Aqui é o lugar errado e constantemente, pelo simples fato de estar caminhando para ir pegar um ônibus, por exemplo, pode ser a hora errada. Com essa combinação não dá em outra, é morte na certa.
Os dados do IBGE mostram que o número de moradores na região aumentou em relação ao último censo, realizado em 2010, quando a população era de 56.483 pessoas. Com a nova marca, o Distrito Federal passa a ter a maior favela da América Latina.
Apesar dos dados desfavoráveis, o motorista de ônibus Salatiel Mendes, 41 anos, disse que não há muito o que se comemorar. Ele contou que existem pontos de tráfico em toda a favela e que tem medo constante de morrer ou ter a casa invadida.
Mendes relatou que há pouco tempo o imóvel onde mora com a família foi arrombado pelos traficantes, que furtaram vários produtos e provocaram um prejuízo de R$ 4 mil. No momento em que tudo aconteceu, à luz do dia, ele e a mulher estavam no trabalho e o filho na escola.
— Moro aqui há cinco anos e acho ridículo viver na maior favela da América Latina. As autoridades devem se preocupar em fazer a melhor Educação, Saúde e Segurança do mundo. Aqui para ficar péssimo tem que melhorar muito, muito mesmo.
R7